Bactérias da acne podem ser usadas para tratar… acne

Tratamentos contra acne têm efeitos colaterais e pesquisa modificou bactérias geneticamente para reduzir inflamação
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Lucas Soares 24/01/2024 04h40
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(Imagem: Vitória Gomez via DALL-E/Olhar Digital)
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A acne incomoda muita gente e os tratamentos atuais até dão conta do recado, mas têm efeitos colaterais. Agora, uma nova pesquisa descobriu uma forma de usar as bactérias que causam a acne contra ela mesma. Para isso, elas foram modificadas geneticamente para serem capazes de reduzir o acúmulo de sebo na pele e beneficiá-la apenas na medida certa.

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Tratamentos atuais para acne

A acne, uma inflamação das glândulas da pele, é causada pela bactéria Cutibacterium acnes. No entanto, essa bactéria é também uma das mais comuns e tem seus benefícios, como produzir lipídios que mantém a barreira protetora e protegem a pele.

O problema causador da acne é o excesso delas, que forma uma substância oleosa que obstrui os poros, causando a inflamação. Já existem tratamentos com antibióticos e medicamentos, mas eles podem acabar matando uma parcela boa de bactérias ou causar efeitos colaterais na pele.

Para resolver isso, um estudo da Universidade Pompeu Fabra publicado na revista Nature Biotechnology usou as próprias bactérias causadoras da acne para tratar a condição. A bióloga Nastassia Knödlseder e sua equipe criaram uma terapia tópica modificando geneticamente a Cutibacterium acnes.

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Imagem: New Africa/Shutterstock

Modificação genética das bactérias da acne

A modificação das bactérias se baseou em um medicamento já aplicado contra espinhas, a isotretinoína. Ele ativa um gene que codifica uma proteína chamada NGAL, responsável por informar os tecidos produtores do óleo da pele que é hora de morrer, evitando o acúmulo.

A intenção é fazer com que a própria bactéria agisse como o NGAL, só que sem os efeitos colaterais da isotretinoína. Os desafios disso até agora é que a C. acnes resistiu às tentativas de modificações em seu DNA.

Agora, a equipe conseguiu avanços:

  • Depois de tentar diferentes técnicas para modificar o DNA da bactéria, Knödlseder e sua equipe criaram uma cepa capaz de produzir NGAL.
  • Quando aplicaram essa cepa C. acnes modificada em culturas de sebócitos (tecidos produtores do óleo da pele) feitas em laboratório, a NGAL reduziu os níveis de sebo em duas vezes em 48 horas.
  • Em testes com ratos, a bactéria geneticamente modificada também produziu a proteína normalmente após 4 dias da aplicação e foi encontrada enraizada nos folículos capilares, como esperado.
  • Não houve efeitos colaterais ou inflamação.
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Crédito: New Africa/Shutterstock

Aplicações em humanos

Apesar de ratos serem usados em testes de tratamentos humanos, a pele dos animais é diferente. Na conclusão, os pesquisadores escreveram que essa foi apenas uma fase inicial e, com o sucesso, a próxima etapa envolve estudar os impactos da cepa geneticamente modificada para melhorar acne e outras doenças de pele.

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.