Os nossos antepassados podem ter tido uma capacidade de adaptação muito maior do que pensávamos. É o que revela um novo estudo divulgado por pesquisadores. Após anos de escavação, eles descobriram evidências de que os humanos que habitaram o noroeste da Etiópia há 74 mil anos eram notavelmente adaptáveis.

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Pedras foram utilizadas como pontas de flecha há cerca de 74 mil anos (Imagem: Projeto de Levantamento do Nilo Azul)

Alto grau de adaptação

Em 2002, uma equipe de paleoantropólogos encontrou pedras lascadas e milhares de ossos de animais fossilizados cobertos de marcas de corte na região, sinais de que povos antigos já haviam vivido no local. Após uma série de análises, pesquisadores então descobriram que caçadores-coletores habitaram aquela área e que eram capazes de construir flechas para caçar.

A equipe também encontrou centenas de fragmentos de cascas de ovos de avestruz. É possível que as pessoas que ocuparam o local tenham comido os ovos, ou usado as cascas como cantinas para armazenar água. Os cientistas conseguiram datar com precisão os materiais e estabelecer que eles tinham 74 mil anos atrás.

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Mas o mais surpreendente, segundo estudo publicado na revista Nature, é que estes humanos antigos conseguiram se adaptar e sobreviver mesmo após uma enorme erupção vulcânica liberar grandes quantidades de cinzas e gases tóxicos que se espalharam pelo mundo, bloqueando o Sol por meses.

Após o vulcão Toba entrar em erupção, as condições climáticas imediatamente mudaram. A breve estação chuvosa no noroeste da Etiópia tornou-se muito mais curta, e os rios baixaram.

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Muitos pesquisadores assumiram que essas mudanças brutais forçaram as pessoas a se refugiarem onde o ambiente era mais tolerante e onde poderiam continuar a sobreviver. Mas o novo estudo aponta que os humanos se adaptaram, pararam de caçar grandes mamíferos (a maioria desapareceu após a erupção), e começaram a pescar em águas rasas.

Os cientistas apontam que os efeitos da enorme erupção duraram alguns anos. Depois disso, as chuvas voltaram, assim como os mamíferos. Foi quando os ossos de peixe se tornaram mais raros, indicando que os antigos voltaram a suas atividades tradicionais.

Migrações antigas (Imagem feita com inteligência Artificial. Alessandro Di Lorenzo/Olhar Digital/DALL-E)

Saída da África pode ser explicada

  • A conclusão do estudo é que essa flexibilidade dos humanos antigos pode explicar a migração para fora da África e a chegada na Eurásia no mesmo período.
  • Os pesquisadores lembram que muitas tentativas anteriores falharam.
  • E destacam que foi justamente essa habilidade de adaptação que possibilitou o povoamento de novas áreas do planeta.
  • Isso significa que os humanos daquela época resistiram através do Saara e dos desertos da Península Arábica a partir da criação de novas maneiras de encontrar comida.
  • Durante os períodos secos, eles podem ter se movido ao longo de rios sazonais enquanto pescavam, por exemplo.
  • As informações são do The New York Times.