O desaparecimento das construções características de um povo que habitou o litoral do Brasil, onde hoje se encontra o Sítio Arqueológico de Laguna (SC), levou arqueólogos a acreditar que essa população havia sido substituída pelos habitantes do interior. No entanto, parece que não foi bem assim que aconteceu.

Contrariando essa crença, uma nova investigação do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, realizada no sítio, revela novas pistas que indicam que a população teve seus hábitos modificados devido à interação com outros povos.

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O que são sambaquis?

Os sambaquis são montes construídos com conchas ao longo de milhares de anos para servir como locais de moradia, sepultamento e atividades cotidianas pelas comunidades que habitavam o litoral brasileiro há milhares de anos. Para quem os desconhece, podem parecer apenas pequenas montanhas, mas fornecem evidências valiosas sobre as atividades e o modo de vida dessas populações antigas.

Sambaqui Ipuã, em Laguna (SC) – Imagem: pesquisadora Jéssica M. Cardoso/Cedida ao Jornal da USP

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Um hábito cultural que permaneceu inabalável por 8 mil anos simplesmente desapareceu há mil anos. Quando os europeus desembarcaram nesta região, encontraram apenas sociedades Kaingang e Laklãnõ-Xokleng, descendentes dos proto-Jê e guaranis. Até então, a teoria era de que os sambaquieiros deram lugar a outros grupos ao longo do tempo.

Os sambaquieiros não desapareceram

  • Estudos arqueológicos e genéticos revelaram que os sambaquieiros não desapareceram.
  • Na verdade, houve uma transformação cultural gradual nos sítios sambaquis em Laguna há cerca de 2 mil anos.
  • Uma das mudanças é vista na substituição de conchas por ossos de peixe na construção dos sambaquis.
  • Apesar de a diminuição do nível do mar ser apontada como um dos motivos do abandono das conchas, a dieta baseada em frutos do mar persistiu, indicando o contrário.
  • As investigações de DNA mostraram que os sambaquieiros também mantiveram uma continuidade genética ao longo do tempo.
  • Além disso, foram encontradas cerâmicas em alguns montes, material usado pelos proto-Jê, sugerindo uma convivência prolongada com esses grupos litorâneos.
Crânio de um membro do povo sambaquieiro – Imagem: Paulo DeBlasis

As descobertas destacam a resistência cultural dessas populações ao longo de milhares de anos, apesar das influências externas. Estudos mais recentes também indicam uma pequena ancestralidade compartilhada entre sambaquieiros e povos Jê há pelo menos 1.300 anos atrás, revelando uma história complexa de interações genéticas e culturais.

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Detalhes do estudo foram divulgados em artigo publicado na Plos One.