O telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Internacional (ESA), descobriu duas surpreendentes correntes de estrelas que se formaram e se entrelaçaram há mais de 12 bilhões de anos.

As correntes são chamadas de Shakti e Shiva (casal divino da filosofia hindu que se uniu para criar o Universo) e ajudaram na formação da Via Láctea. Ambas são tão antigas que podem ter se formado antes mesmo das partes mais antigas dos braços espirais e do disco de nossa galáxia, informa a ESA.

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“O que é verdadeiramente surpreendente é que conseguimos detectar estas estruturas antigas”, diz Khyati Malhan, do Instituto Max Planck de Astronomia (MPIA) em Heidelberg (Alemanha), que liderou a investigação.

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A Via Láctea mudou tão significativamente desde o nascimento destas estrelas que não esperávamos reconhecê-las tão claramente como um grupo – mas os dados sem precedentes que estamos a obter do Gaia tornaram isso possível.

Khyati Malhan, do Instituto Max Planck de Astronomia (MPIA) em Heidelberg (Alemanha) e líder da investigação

Descoberta de Gaia sobre a Via Láctea

  • Por meio das observações do Gaia, os astrônomos conseguiram determinar as órbitas de estrelas individuais da Via Láctea, bem como seus conteúdo e composição;
  • Khyati acrescenta ainda que, “quando visualizamos as órbitas de todas essas estrelas, duas novas estruturas se destacaram das demais entre as estrelas de determinada composição química”;
  • Cada corrente possui a massa equivalente de cerca de dez milhões de sóis, compostas com estrelas que possuem entre 12 e 13 bilhões de anos, movendo-se a em órbitas e composições similares;
  • A forma como estão distribuídos sugere que elas podem ter se formado como fragmentos distintos que se fundiram com a Via Láctea no começo de sua existência.

Ambas as correntes localizam-se em direção ao coração de nossa galáxia. O Gaia explorou essa parte dela em 2022 usando uma espécie de “arqueologia galática”, que mostrou que a região possuía várias das estrelas mais antigas de toda a Via Láctea, nascidas antes mesmo da formação final de nossa casa.

“As estrelas são tão antigas que lhes faltam muitos dos elementos metálicos mais pesados ​​criados mais tarde na vida do Universo. Esses metais pesados ​​são aqueles forjados nas estrelas e espalhados pelo espaço quando morrem”, diz o coautor Hans-Walter Rix, também do MPIA e o principal ‘arqueólogo galáctico’ do trabalho de 2022.

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“As estrelas no coração de nossa galáxia são pobres em metais, por isso, apelidamos esta região de ‘pobre velho coração’ da Via Láctea”, continua.

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Faixas de estrelas que correspondem a Via Láctea (Imagem: ESA)

Até agora, só tínhamos reconhecido estes fragmentos muito antigos que se juntaram para formar o antigo coração da Via Láctea. Com Shakti e Shiva, vemos, agora, as primeiras peças que parecem comparativamente antigas, mas localizadas mais distantes. Isto significa os primeiros passos do crescimento de nossa galáxia em direção ao seu tamanho atual.

Hans-Walter Rix, do Instituto Max Planck de Astronomia (MPIA) em Heidelberg (Alemanha) e coautor do trabalho

Apesar de os fluxos serem bem similares, eles não são idênticos. As estrelas em Shakti orbitam mais distantes do centro da galáxia e em órbitas mais circulares do que as estrelas em Shiva.

Há cerca de 12 bilhões de anos, a Via Láctea não se parecia em quase nada com a espiral ordenada que ela é hoje em dia.

Os cientistas entendem que nossa galáxia se formou à medida que múltiplos filamentos longos e irregulares de gás e poeira se fundiram, formando estrelas e se envolvendo para desencadear o nascimento de nossa casa como ela é atualmente.

Tudo indica que Shaki e Shiva são dois desses componentes, sendo que futuros lançamentos de dados do Gaia podem revelar ainda mais informações.

Além disso, Khyati e Hans-Walter construíram mapa dinâmico de outros componentes conhecidos que desempenharam papel na formação da galáxia e foram descobertos pelo Gaia.

Esses incluem Gaia-Salsicha-Enceladus, LMS1/Wukong, Arjuna/Sequoia/I’itoi e Pontus. Todos esses grupos de estrelas modelam a complexa árvore genealógica da Via Láctea, construída pelo Gaia nos últimos dez anos.

“Revelar mais sobre a infância de nossa galáxia é um dos objetivos do Gaia, e, certamente, está prestes a alcançá-lo,” afirma Timo Prusti, Cientista do Projeto do Gaia na ESA.

Precisamos identificar as diferenças subtis, mas cruciais, entre as estrelas da Via Láctea, para compreender como nossa galáxia se formou e evoluiu. Isto requer dados incrivelmente precisos – e, agora, graças ao Gaia, temos esses dados. À medida que descobrimos partes surpreendentes de nossa galáxia, como as correntes Shiva e Shakti, estamos preenchendo as lacunas e pintando um quadro mais completo não só de nossa casa atual, mas de nossa história cósmica mais antiga.

Timo Prusti, Cientista do Projeto do Gaia na ESA