Nas últimas semanas, os legisladores estadunidenses tomaram medidas para proibir o TikTok, da chinesa ByteDance, no país. Recentemente, o presidente Joe Biden também reforçou compromisso de superar a recente ascensão tecnológica da China, na chamada “guerra dos chips”. E o governo chinês proibiu que chips de Intel e AMD sejam importados e instalados em seus dispositivos governamentais.

Agora, conforme a guerra fria tecnológica e econômica entre EUA e China se acelera, os líderes das big techs do Vale do Silício estão aproveitando o conflito para realizar lobby em defesa dos seus interesses em campo que já virou realidade: a inteligência artificial (IA), aponta o The New York Times.

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Chefões da IA querem lobby na disputa com a China

  • Em 1º de maio, mais de 100 chefes de tecnologia e investidores, irão a Washington para conferência e jantar privado;
  • Os eventos serão focados em angariar mais “agressividade” contra o progresso da China na IA;
  • Entre os investidores, estarão nomes, como Alex Karp, chefe da empreiteira de defesa Palantir, e Roelof Botha, sócio-gerente da empresa de capital de risco Sequoia Capital;
  • Dezenas de legisladores, incluindo o presidente da Câmara, Mike Johnson, também participarão do encontro, o Fórum Hill & Valley, que incluirá bate-papos e discussões principais com membros de nova força-tarefa de IA da Câmara;
  • Os chefões querem aproveitar o evento para fazer lobby diretamente ante as regulamentações da IA ​​que consideram demasiadas onerosas;
  • Eles também querem pedir mais investimentos do governo em tecnologia e na investigação para apoiar seu desenvolvimento;
  • Os executivos também planejam pedir o relaxamento às restrições à imigração visando conseguir mais especialistas em IA para o país.

“No final das contas, quer você esteja na indústria ou no governo, ou em qualquer lado do corredor em que esteja, jogamos pelo time América”, disse o deputado Jay Obernolte, da Califórnia, presidente republicano da Força-Tarefa de IA da Câmara, que fará o discurso de abertura da conferência.

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Imagem: Dilok Klaisataporn/Shutterstock

Crescimento da tecnologia

Após o aumento, no último ano, do poderio da IA ​​generativa, o lobby ao tema explodiu. No ano passado, mais de 450 empresas, organizações sem fins lucrativos, universidades e grupos comerciais relataram fazer lobby pela IA, mais que o dobro do número de organizações no ano anterior, afirma o OpenSecrets, grupo de investigação sem fins lucrativos.

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A Palantir mais que duplicou os seus gastos com lobby no ano passado, para US$ 5 milhões (R$ 24,95 milhões, em conversão direta), nível mais elevado já registado.

Conforme líderes tecnológicos capitalizam a tensão anti-China em Washington, grupos da sociedade civil e acadêmicos alertam que debates sobre a competição pela liderança tecnológica entre os dois países podem prejudicar esforços para regular danos potenciais, tais como riscos de que algumas ferramentas de IA possam eliminar postos de trabalho empregos, espalhar desinformação e atrapalhar eleições mundo afora – especialmente nos EUA.

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“A dinâmica desta corrida entre EUA e China tem implicações profundas porque, do outro lado da desaceleração da China, há atrito e regulamentação mínimos para as empresas dos EUA”, disse Amba Kak, diretor-executivo do AI Now Institute (empresa de pesquisa) e ex-conselheiro sênior em IA da Federal Trade Commission (FTC).

O NYT aponta que especialistas em IA dizem que a China está atrás dos Estados Unidos em IA generativa em pelo menos um ano, podendo estar mais distante ainda. Contudo, um novo estudo indica que os chineses estão à frente em termos de talentos.

Guerra dos chips entre EUA e China
Imagem: William Potter/Shutterstock

Evento pró-lobby

O evento de maio está sendo organizado por Jacob Helberg, conselheiro sênior da Palantir e membro da Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China, responsável por informar ao Congresso sobre as ameaças à segurança nacional representadas pela China.

Ele ampliou o fórum deste ano desde o primeiro encontro organizado no ano passado – um jantar privado focado, principalmente, no TikTok.

Além da IA, os legisladores que falarão no evento a ser realizado no Capitólio pressionarão para que o Senado aprove legislação para proibir de vez o TikTok em território estadunidense, e Tom Mueller, funcionário fundador da SpaceX, falará sobre a corrida espacial entre EUA e China.

Entre os participantes, ainda estarão o senador Mike Rounds, membro graduado do Comitê de Serviços Armados, e o deputado Ritchie Torres do Comitê Seleto da Câmara do Partido Comunista Chinês.

“As empresas de tecnologia não podem mais ser neutras”, disse Helberg, acrescentando que se recusa a qualquer trabalho que envolva contratos na Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China que possa dar vantagem à Palantir.

Os capitalistas de risco presentes no evento possuem muitos investimentos detidos em IA. A Sequoia, por exemplo, investiu em mais de 70 startups de IA. A Khosla Ventures, empresa de capital de risco de US$ 15 bilhões (R$ 74,87 bilhões), tem vários investimentos, inclusive na OpenAI.

“Tornou-se ainda mais óbvio, ainda mais crítico, que tratamos a China como um adversário”, disse Vinod Khosla, chefe da Khosla Ventures, que falará no fórum. “O que me preocupa são os valores ocidentais contra um conjunto diferente de valores na China.”