Placas tectônicas teriam se formado a partir de bolhas ferventes nas profundezas da Terra

Assim como a teoria da tectônica de placas está em constante refinamento, a compreensão sobre como elas se formaram permanece um enigma
Flavia Correia09/05/2024 13h27
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Representação artística de bolhas escaldantes do manto terrestre agindo sobre as placas tectônicas, elaborada com Inteligência Artificial (Imagem: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital)
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Um estudo publicado terça-feira (7) na revista científica Geophysical Research Letters traz à tona um tema controverso entre os geólogos: a formação das placas tectônicas. Embora se saiba que esses enormes blocos litosféricos que compõem a crosta terrestre são fundamentais para a compreensão da dinâmica do nosso planeta, como exatamente eles se formaram é objeto de debate acalorado entre os especialistas.

A teoria mais aceita até agora sugere que a formação das placas tectônicas foi desencadeada por uma gigantesca colisão cósmica há 4,5 bilhões de anos, que foi capaz de agitar o manto terrestre sem provocar uma reciclagem completa da crosta. Na ocasião, um protoplaneta chamado Theia seria se chocado com a Terra e, inclusive, formado a Lua.

Choque entre a Terra e um antigo planeta de nome Theia teria formado a Lua. Crédito: Elena11 – Shutterstock

Essa ideia ganhou força ao longo dos anos, mas enfrenta resistência de uma parcela significativa da comunidade científica. Alguns pesquisadores levantam dúvidas sobre a razoabilidade de uma colisão tão violenta ter acontecido sem resultar na completa reestruturação da crosta terrestre.

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Outras explicações para a origem das placas tectônicas

Além da hipótese da colisão, outras teorias sobre a formação das placas tectônicas têm sido propostas no decorrer dos anos. Algumas sugerem que as placas se originaram de processos radicalmente diferentes, como o aquecimento e a expansão da Terra até o ponto em que sua crosta se rompeu. Outra hipótese propõe que forças gravitacionais tenham rasgado a superfície rochosa do planeta, dando origem às placas tectônicas.

Assim como a teoria da tectônica de placas está em constante refinamento, a compreensão sobre como elas se formaram inicialmente permanece um enigma. O estudo recente adiciona mais um elemento à complexa tapeçaria dessa questão, destacando a necessidade de mais pesquisas e debates para esclarecer esse importante aspecto da geologia planetária.

Evidências prévias indicam que os processos no manto terrestre que deram origem à subducção, em que uma placa tectônica mergulha sob outra no manto, começaram aproximadamente 200 milhões de anos após o impacto teórico de Theia. 

Esse início precoce intrigou os cientistas. “Neste estudo, utilizamos modelos de convecção abrangendo todo o manto para demonstrar que plumas mantélicas vigorosas podem emergir, enfraquecendo a litosfera e iniciando a subducção cerca de 200 milhões de anos após o impacto gigante”, explica o geocientista Qian Yuan, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), que liderou o estudo, ao The Washington Post.

Modelagem mostra plumas surgindo das bolhas profundas do manto e criando placas tectônicas. Crédito: Yuan et al., Geophys. Res. Lett., 2024

Bolhas densas e ricas em ferro nas profundezas da Terra

De acordo com as simulações da equipe, essas plumas foram principalmente geradas pelo aumento de temperatura na fronteira núcleo-manto da Terra primitiva, causado pelo acúmulo de partes de Theia nessa região. 

Outro possível contribuinte foram as bolhas nas profundezas, que são densas e ricas em ferro. Se forem realmente remanescentes do corpo Theia, conforme sugerido por um estudo anterior da mesma equipe, então elas podem se assemelhar ao material geológico de Marte e conter mais elementos geradores de calor do que o manto ao redor onde estão localizadas. 

Modelos das bolhas, também conhecidas como grandes províncias de baixa velocidade de cisalhamento (LLSVPs), mostram como elas geraram plumas do manto e iniciaram a subducção ao longo de milhões de anos. Crédito: Yuan et al., Geophys. Res. Lett., 2024

Os pesquisadores sugerem que o calor emitido pelas bolhas pode ter gerado plumas fortes, desencadeando episódios transitórios de subducção à medida que o limite do núcleo se resfriava. Essa descoberta reforça resultados anteriores que indicavam que as placas tectônicas surgiram a partir de ressurgências mantélicas.

Os resultados da pesquisa levantam questionamentos fundamentais sobre os processos geológicos primordiais que moldaram a superfície terrestre. A compreensão desses eventos é crucial não apenas para a geologia teórica, mas também para aplicações práticas, como a previsão de terremotos e a exploração de recursos naturais.

Em última análise, a complexidade dos processos geológicos subjacentes à formação das placas tectônicas continua a desafiar os cientistas, estimulando um debate vigoroso e uma busca incessante por respostas definitivas. A jornada para desvendar os mistérios da Terra está longe de terminar, mas cada descoberta nos aproxima um pouco mais da compreensão completa do nosso fascinante planeta.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.