Um estudo publicado terça-feira (7) na revista científica Geophysical Research Letters traz à tona um tema controverso entre os geólogos: a formação das placas tectônicas. Embora se saiba que esses enormes blocos litosféricos que compõem a crosta terrestre são fundamentais para a compreensão da dinâmica do nosso planeta, como exatamente eles se formaram é objeto de debate acalorado entre os especialistas.

A teoria mais aceita até agora sugere que a formação das placas tectônicas foi desencadeada por uma gigantesca colisão cósmica há 4,5 bilhões de anos, que foi capaz de agitar o manto terrestre sem provocar uma reciclagem completa da crosta. Na ocasião, um protoplaneta chamado Theia seria se chocado com a Terra e, inclusive, formado a Lua.

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Choque entre a Terra e um antigo planeta de nome Theia teria formado a Lua. Crédito: Elena11 – Shutterstock

Essa ideia ganhou força ao longo dos anos, mas enfrenta resistência de uma parcela significativa da comunidade científica. Alguns pesquisadores levantam dúvidas sobre a razoabilidade de uma colisão tão violenta ter acontecido sem resultar na completa reestruturação da crosta terrestre.

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Outras explicações para a origem das placas tectônicas

Além da hipótese da colisão, outras teorias sobre a formação das placas tectônicas têm sido propostas no decorrer dos anos. Algumas sugerem que as placas se originaram de processos radicalmente diferentes, como o aquecimento e a expansão da Terra até o ponto em que sua crosta se rompeu. Outra hipótese propõe que forças gravitacionais tenham rasgado a superfície rochosa do planeta, dando origem às placas tectônicas.

Assim como a teoria da tectônica de placas está em constante refinamento, a compreensão sobre como elas se formaram inicialmente permanece um enigma. O estudo recente adiciona mais um elemento à complexa tapeçaria dessa questão, destacando a necessidade de mais pesquisas e debates para esclarecer esse importante aspecto da geologia planetária.

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Evidências prévias indicam que os processos no manto terrestre que deram origem à subducção, em que uma placa tectônica mergulha sob outra no manto, começaram aproximadamente 200 milhões de anos após o impacto teórico de Theia. 

Esse início precoce intrigou os cientistas. “Neste estudo, utilizamos modelos de convecção abrangendo todo o manto para demonstrar que plumas mantélicas vigorosas podem emergir, enfraquecendo a litosfera e iniciando a subducção cerca de 200 milhões de anos após o impacto gigante”, explica o geocientista Qian Yuan, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), que liderou o estudo, ao The Washington Post.

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Modelagem mostra plumas surgindo das bolhas profundas do manto e criando placas tectônicas. Crédito: Yuan et al., Geophys. Res. Lett., 2024

Bolhas densas e ricas em ferro nas profundezas da Terra

De acordo com as simulações da equipe, essas plumas foram principalmente geradas pelo aumento de temperatura na fronteira núcleo-manto da Terra primitiva, causado pelo acúmulo de partes de Theia nessa região. 

Outro possível contribuinte foram as bolhas nas profundezas, que são densas e ricas em ferro. Se forem realmente remanescentes do corpo Theia, conforme sugerido por um estudo anterior da mesma equipe, então elas podem se assemelhar ao material geológico de Marte e conter mais elementos geradores de calor do que o manto ao redor onde estão localizadas. 

Modelos das bolhas, também conhecidas como grandes províncias de baixa velocidade de cisalhamento (LLSVPs), mostram como elas geraram plumas do manto e iniciaram a subducção ao longo de milhões de anos. Crédito: Yuan et al., Geophys. Res. Lett., 2024

Os pesquisadores sugerem que o calor emitido pelas bolhas pode ter gerado plumas fortes, desencadeando episódios transitórios de subducção à medida que o limite do núcleo se resfriava. Essa descoberta reforça resultados anteriores que indicavam que as placas tectônicas surgiram a partir de ressurgências mantélicas.

Os resultados da pesquisa levantam questionamentos fundamentais sobre os processos geológicos primordiais que moldaram a superfície terrestre. A compreensão desses eventos é crucial não apenas para a geologia teórica, mas também para aplicações práticas, como a previsão de terremotos e a exploração de recursos naturais.

Em última análise, a complexidade dos processos geológicos subjacentes à formação das placas tectônicas continua a desafiar os cientistas, estimulando um debate vigoroso e uma busca incessante por respostas definitivas. A jornada para desvendar os mistérios da Terra está longe de terminar, mas cada descoberta nos aproxima um pouco mais da compreensão completa do nosso fascinante planeta.