Se você já se questionou sobre o visível avanço da franquia de Planeta dos Macacos (é só lembrar de como eram os filmes nos anos 1970), está no lugar certo. Com a estreia de O Reinado, quarta sequência da franquia reboot, acontecendo nesta quinta-feira (9), o Olhar Digital conversou com André Castelao, Editor Motion Sênior da nova produção, e um dos poucos brasileiros envolvidos no blockbuster, sobre a evolução tecnológica dos filmes.

Imagem: James Daly, Woodrow Parfrey e James Whitmore em O Planeta dos Macacos (1968)/20th Century Fox

Afinal, como é feito Planeta dos Macacos?

Perguntado sobre o avanço nas técnicas de produção do filme, o especialista revelou que o nível de tecnologia usado hoje é, claro, muito maior e melhor até que as produções anteriores mais recentes — que dirá das versões de 1970. Contudo, as exigências de edição também acompanharam essas mudanças, gerando tanto evolução como mais complexidade a cada capítulo. 

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Hoje em dia avançou. A qualidade é muito melhor, principalmente de referência visual. Meu departamento é a captura de movimento, chamamos de performance capture, não é só a captura do corpo, mas facial. Antes, tinha muito problema, os dados que vinham para gente transferir para o personagem digital tinham muitos ruídos e a edição requer tempo. Com as novas tecnologias, conseguimos automatizar o processo, conseguindo mais tempo para fazer o refino. A gente perdia muito tempo antes limpando dados, hoje isso está mais resolvido. 

André Castelao, Editor Motion Sênior de Planeta dos Macacos 4, ao Olhar Digital.

Para quem imaginou que, com o boom da inteligência artificial (IA), todo trabalho seria feito pela tech da vez, se enganou. Segundo Castelao, a edição de uma cena de Planeta dos Macacos 4 é quase que artesanal, com ferramentas de IA dando apenas suporte ao “artista” — basicamente, 50% de uma cena ‘pronta’ será de edição manual e detalhista. 

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Ainda há muito trabalho manual do artista, que vai quadro a quadro para transferir o máximo possível do que foi capturado no real para o digital. E, quando você trabalha para filme, o nível de exigência é muito grande, ainda mais filmes como Planeta dos Macacos, Avatar, etc., o nível de revisão é de quadro por quadro, demora muito tempo até ficar o mais perfeito possível. 

Planeta dos Macacos: O Reinado
Planeta dos Macacos: O Reinado (Imagem: Divulgação)

Evolução digital tem tornado macacos ‘mais humanos’ 

Não dependendo apenas da equipe de edição, Castelao explicou que muito da qualidade também provem da interpretação do ator, principalmente quando se trata de viver um macaco. “Tem ator que fica meses em treinamento para ver como macaco anda, como interage”.  

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A aparência semelhante dos macacos com os atores não é uma coincidência ou impressão. Para “casar” ainda mais as edições digitais e trazer emoção ao personagem computadorizado, a edição se baseia, sim, nos traços reais dos intérpretes. 

Se tratando de Planeta dos Macacos, você pode perceber que todos os personagens são parecidos com os atores. Isso é porque eles são basicamente a nossa referência visual, dando emoção ao personagem. O jeito que o ator sorri, a gente tenta transferir o mesmo sorriso para o personagem digital. Alguns também já são bípedes, e não quadrupedes como antes. 

Parte disso, segundo Castelao, ocorre devido ao combo de uma evolução no mercado cinematográfico, não apenas de tecnologia, mas avanço no enredo da franquia. “Não posso dizer muito por que posso dar spoilers, mas, sim, eles estão evoluindo. Na hora de montar esses personagens agora, eles estão, sim, com mais feições humanas, mas isso com os principais, ainda temos muitos primatas”. 

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Os desafios de Planeta dos Macacos 4 

E a pergunta de milhões é: como adiciona, de fato, movimento aos macacos digitais? Conforme o especialista, após captar todas as imagens, de todos os ângulos, para referência digital, um trabalho de colaboração entre dois departamentos ocorre: você precisa montar, aplicar toda a animação, fazer a simulação das partículas e só depois adicionar o movimento. Depois disso tudo vem os efeitos visuais — e ainda a volta para o setor de Motion novamente, já que é necessário unir as interações das duas distintas edições. 

Para o editor, no caso de O Reinado, as cenas mais interessantes e desafiadoras de se trabalhar foram as de interação com água simulada: parece simples na tela, mas espectadores nem imaginam a complexidade da parte técnica. “Tem muitas cenas de Planeta dos Macacos com interação com muitos elementos. É muito difícil trabalhar o personagem digital com elementos simulados. Mas ficou muito bacana”. 

Dirigido por Wes Ball, de Maze RunnerPlaneta dos Macacos: O Reinado se passará 300 anos após a era de César. O filme chega como uma espécie de prelúdio da trilogia de Matt Reeves — os reboots de 2011 (A Origem), 2014 (O Confronto) e 2017 (A Guerra).  

Com estreia agendada para esta quinta, 9 de maio, a produção iniciará outro capítulo na trajetória dos macacos. A sequência terá Kevin Durand como Proximus César, novo vilão da franquia, e Owen Teague como Noa, o mocinho responsável por ressuscitar a ideologia César e erguer outra liderança.   

Está sensacional, o nível visual está como nos outros, que foram maravilhosos, mas há uma atualização para os dias atuais. A importância dos personagens principais também está no mesmo patamar, todo mundo vai gostar. É uma franquia que sempre adicionou algo a mais para o cinema. Acho que será um sucesso, os outros foram, não tem por que esse não ser. 

Confira abaixo o trailer final de Planeta dos Macacos: O Reinado

Um grande filme, uma grande equipe 

Separado por departamentos, a trajetória para a construção de um César, como conhecemos, é longa e cheia de ‘mentes e mãos’. Cada equipe possui funções específicas para dar vida e movimento aos macacos: alguns cuidam dos músculos, outras roupas, e ainda tem o pessoal dos detalhes nas expressões faciais (sim, há uma equipe só para isso).  

Além disso, o suporte para transformar Planeta dos Macacos no que é hoje, um sucesso de bilheteria, é enorme: alguns setores, como de Animação e Composição, reúnem mais de 300 pessoas trabalhando na edição de um mesmo filme. 

Contratado pela Weta, empresa de alto porte especializada na área de efeitos visuais, Castelao contou que não é o único brasileiro atuando em Planeta dos Macacos: O Reinado, há ainda conterrâneos na parte técnica, setor de software e parte artística. Ele também deu dicas para quem deseja ultrapassar as fronteiras em setores como audiovisual. 

Hoje está mais global. Há 10 anos você não tinha profissionais de países com pouca experiência nessa área de efeitos visuais para filmes grandes. No Brasil, temos efeitos visuais para televisão, não para filmes, ainda mais blockbusters. Eu consegui porque me especializei em uma ferramenta. Precisa se especializar, eles geralmente não pegam profissionais generalistas. 

A franquia Planeta dos Macacos  

Vale pontuar que, embora os filmes mais lembrados de Planeta dos Macacos, e que revitalizaram a franquia, sejam os reboots de 2011 (A Origem), 2014 (O Confronto) e 2017 (A Guerra), os originais são bem mais antigos, sendo lançados a partir de 1968. 

Ao todo, são nove filmes: cinco longas principais, uma refilmagem única de 2001, que ficou sob o comando de Tim Burton (e não foi nada bem), e a nova trilogia reboot iniciada em 2011. O Reinado (ou Planeta dos Macacos 4) funcionará como prelúdio, começando, mais uma vez, uma nova era (e com temas mais atuais).