O rio Nilo sempre foi fonte importante (por que não dizer vital?) ao povo do Antigo Egito que conviveu com ele. Fonte de vida, ele ajudava com a irrigação das colheitas, alimentação dos animais, bússola, entre outros.

E não é que um estudo da Universidade de Southampton (Inglaterra) mostra que as crenças desse fascinante povo estavam certas? Entenda mais a seguir.

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Há 11,5 mil anos, visão do Nilo era bem diferente desta (Imagem: AlexAnton/Shutterstock)

Povo do Antigo Egito agradeceria ao rio Nilo

  • A pesquisa foi publicada na Nature Geoscience;
  • Ela comprovou que mudanças climáticas repentinas ocorridas no Nilo ajudaram aos egípcios em sua prosperidade;
  • Segundo os autores do artigo, tais mudanças moldaram a paisagem do vale egípcio do Nilo durante os últimos 11,5 mil anos;
  • Os pesquisadores consideram que as descobertas são grande passo no campo da Nilologia (estudo do rio Nilo), além de que as pesquisas anteriores não se aprofundaram tanto na análise do importante rio.

O artigo aponta que, mesmo sabendo-se que o Nilo teve importante papel entre os antigos egípcios, pouco se sabe sobre como se comportou durante as mudanças climáticas pelas quais passou durante o período Holoceno (época geológica mais recente da Terra, que compreende justamente os últimos 11,5 mil anos).

Sítios do Patrimônio Mundial da UNESCO, como os templos de Karnak e Luxor, [estão] localizados a leste do atual Nilo e os templos e necrópoles do culto real, [estão] na margem ocidental do deserto – lugares que estavam física e mitologicamente conectados à paisagem fluvial. Além disso, é possível que as mudanças ambientais também tenham impactado a agro-economia regional, que foi de importância crítica para o sucesso do antigo estado egípcio.

Autores do estudo, em artigo

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Pesquisa foi realizada próximo a Luxor (foto) (Imagem: AlexAnton/Shutterstock)

Como não havia muitos dados confiáveis sobre a evolução do Nilo, a equipe de investigadores optou por buscar as informações por si mesma. Em comunicado, Dominic Barker, Técnico em Arqueologia da Universidade de Southampton e um dos coautores do artigo, conta que perfuraram 81 furos, “muitos deles manualmente”, em todo o Vale do Nilo, próximo a Luxor.

Usando informações geológicas contidas nos núcleos e datando os sedimentos usando técnica chamada Luminescência Opticamente Estimulada, conseguimos reunir as peças da evolução da paisagem ribeirinha.

Dominic Barker, Técnico em Arqueologia da Universidade de Southampton e um dos coautores do artigo, em comunicado

A equipe descobriu que, há quatro mil anos e de forma repentina, uma mudança gigantesca no comportamento e ambiente do Nilo pode ter ajudado na prosperidade dos egípcios antigos.

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Após cerca de 7,5 mil anos de incisão significativa no Vale, houve mudança abruta. Se, antes, o Nilo era supostamente bem estreito e cortava profundamente o leito rochoso que estava abaixo dele, de repente, muito sedimento passou a ser depositado no fundo do Vale, o que permitiu a construção do leito do rio, além de estabilizar bem a planície de inundação que o circundava.

A expansão da planície de inundação terá ampliado enormemente a área de terras aráveis ​​no Vale do Nilo, perto de Luxor (antiga Tebas), e melhorado a fertilidade do solo ao depositar regularmente sedimentos férteis.

Benjamin Pennington, pesquisador visitante em Geografia e Ciência do Meio Ambiente na Universidade de Southampton e coautor do artigo

Além disso, esse processo deu início à evolução do gigantesco rio que vemos atualmente, algo que não se veria caso fôssemos visitá-lo há dois mil anos, como os pesquisadores indicam.

Pennington diz que o Nilo atual é bem diferente do Nilo visto nos últimos 11,5 mil anos, além de que, durante boa parte deste período, o rio egípcio “foi constituído por rede de canais entrelaçados que mudavam frequentemente de curso”.

Processo de desertificação do Saara pode ter influenciado na mudança abrupta do rio Nilo (Imagem: Luciano Amoretti/Shutterstock)

Por ora, os pesquisadores não conseguem precisar 100% o que causou tal mudança (que é enorme) e de forma tão rápida. Mas eles têm uma teoria: tudo se resumiria ao então vistoso deserto do Saara. No caso, especificamente, as mudanças pelas quais ele passou para se tornar o deserto (quase) sem vida que vemos hoje.

Dessa forma, ao combinarmos essas mudanças ao assentamento humano, a nova cara do Saara teria aumentado os níveis de sedimentos finos do rio e diminuído o volume de água, o que também afetou o Nilo.

Apesar de ainda não ser algo definitivo, a descoberta é, no mínimo, notável, haja vista que as mudanças sofridas pelo rio teriam ocorrido exatamente na mudança do Antigo para o Novo Reino, quando os egípcios passaram a prosperar e a conquistar cada vez mais dali em diante.

Nenhuma ligação causal específica pode ser inferida entre esta mudança e quaisquer desenvolvimentos sociais contemporâneos. [Mas] as mudanças na paisagem são, no entanto, fator importante que precisa ser considerado quando se discute a trajetória da cultura egípcia antiga.

Benjamin Pennington, pesquisador visitante em Geografia e Ciência do Meio Ambiente na Universidade de Southampton e coautor do artigo