Vista aérea do rio Nilo (Imagem: Emre Akkoyun/Shutterstock)
O rio Nilo sempre foi fonte importante (por que não dizer vital?) ao povo do Antigo Egito que conviveu com ele. Fonte de vida, ele ajudava com a irrigação das colheitas, alimentação dos animais, bússola, entre outros.
E não é que um estudo da Universidade de Southampton (Inglaterra) mostra que as crenças desse fascinante povo estavam certas? Entenda mais a seguir.
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O artigo aponta que, mesmo sabendo-se que o Nilo teve importante papel entre os antigos egípcios, pouco se sabe sobre como se comportou durante as mudanças climáticas pelas quais passou durante o período Holoceno (época geológica mais recente da Terra, que compreende justamente os últimos 11,5 mil anos).
Sítios do Patrimônio Mundial da UNESCO, como os templos de Karnak e Luxor, [estão] localizados a leste do atual Nilo e os templos e necrópoles do culto real, [estão] na margem ocidental do deserto – lugares que estavam física e mitologicamente conectados à paisagem fluvial. Além disso, é possível que as mudanças ambientais também tenham impactado a agro-economia regional, que foi de importância crítica para o sucesso do antigo estado egípcio.
Autores do estudo, em artigo
Como não havia muitos dados confiáveis sobre a evolução do Nilo, a equipe de investigadores optou por buscar as informações por si mesma. Em comunicado, Dominic Barker, Técnico em Arqueologia da Universidade de Southampton e um dos coautores do artigo, conta que perfuraram 81 furos, “muitos deles manualmente”, em todo o Vale do Nilo, próximo a Luxor.
Usando informações geológicas contidas nos núcleos e datando os sedimentos usando técnica chamada Luminescência Opticamente Estimulada, conseguimos reunir as peças da evolução da paisagem ribeirinha.
Dominic Barker, Técnico em Arqueologia da Universidade de Southampton e um dos coautores do artigo, em comunicado
A equipe descobriu que, há quatro mil anos e de forma repentina, uma mudança gigantesca no comportamento e ambiente do Nilo pode ter ajudado na prosperidade dos egípcios antigos.
Após cerca de 7,5 mil anos de incisão significativa no Vale, houve mudança abruta. Se, antes, o Nilo era supostamente bem estreito e cortava profundamente o leito rochoso que estava abaixo dele, de repente, muito sedimento passou a ser depositado no fundo do Vale, o que permitiu a construção do leito do rio, além de estabilizar bem a planície de inundação que o circundava.
A expansão da planície de inundação terá ampliado enormemente a área de terras aráveis no Vale do Nilo, perto de Luxor (antiga Tebas), e melhorado a fertilidade do solo ao depositar regularmente sedimentos férteis.
Benjamin Pennington, pesquisador visitante em Geografia e Ciência do Meio Ambiente na Universidade de Southampton e coautor do artigo
Além disso, esse processo deu início à evolução do gigantesco rio que vemos atualmente, algo que não se veria caso fôssemos visitá-lo há dois mil anos, como os pesquisadores indicam.
Pennington diz que o Nilo atual é bem diferente do Nilo visto nos últimos 11,5 mil anos, além de que, durante boa parte deste período, o rio egípcio “foi constituído por rede de canais entrelaçados que mudavam frequentemente de curso”.
Por ora, os pesquisadores não conseguem precisar 100% o que causou tal mudança (que é enorme) e de forma tão rápida. Mas eles têm uma teoria: tudo se resumiria ao então vistoso deserto do Saara. No caso, especificamente, as mudanças pelas quais ele passou para se tornar o deserto (quase) sem vida que vemos hoje.
Dessa forma, ao combinarmos essas mudanças ao assentamento humano, a nova cara do Saara teria aumentado os níveis de sedimentos finos do rio e diminuído o volume de água, o que também afetou o Nilo.
Apesar de ainda não ser algo definitivo, a descoberta é, no mínimo, notável, haja vista que as mudanças sofridas pelo rio teriam ocorrido exatamente na mudança do Antigo para o Novo Reino, quando os egípcios passaram a prosperar e a conquistar cada vez mais dali em diante.
Nenhuma ligação causal específica pode ser inferida entre esta mudança e quaisquer desenvolvimentos sociais contemporâneos. [Mas] as mudanças na paisagem são, no entanto, fator importante que precisa ser considerado quando se discute a trajetória da cultura egípcia antiga.
Benjamin Pennington, pesquisador visitante em Geografia e Ciência do Meio Ambiente na Universidade de Southampton e coautor do artigo
Esta post foi modificado pela última vez em 5 de junho de 2024 21:37