No meio de um cemitério medieval de cavaleiros na Espanha, surgiu o esqueleto de uma guerreira que, ao que tudo indica, assim como os homens, encontrou seu fim em batalha. Um artigo publicado recentemente na revista Scientific Reports descreve um estudo que sugere que essa combatente fazia parte da Ordem de Calatrava, uma irmandade dedicada a proteger o reino de Castela contra invasores norte-africanos entre os séculos XII e XV.

A revelação veio à tona durante a análise dos restos mortais de 25 indivíduos enterrados no castelo Zorita de los Canes, que foi tomado pela Ordem de Calatrava em 1174. Esta construção, situada na província de Guadalajara, às margens do rio Tejo, tornou-se um reduto significativo para a ordem religiosa, que enterrou seus cavaleiros dentro do cemitério da fortaleza.

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Imagem mostra lesões em crânio condizentes com feridas em guerra. Crédito: Comunicado/Universitat Rovira i Virgili

De acordo com os pesquisadores, muitos dos esqueletos apresentavam ferimentos graves, causados por armas cortantes e contundentes, sinais claros de confrontos violentos. “Observamos numerosas lesões na parte superior do crânio, nas bochechas e na parte interna da pelve, consistentes com a hipótese de que se tratam de guerreiros”, afirmou Carme Rissech, uma das autoras do estudo, em comunicado.

Esses ferimentos foram interpretados como cicatrizes de guerra, levando os estudiosos a especularem que esses cavaleiros podem ter morrido nas batalhas de Alarcos em 1195 ou Navas de Tolosa em 1212, ambas cruciais para consolidar Zorita de los Canes como uma fortaleza essencial da Ordem de Calatrava.

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As análises isotópicas dos ossos revelaram detalhes fascinantes sobre a dieta dos guerreiros, que consumiam grandes quantidades de aves selvagens e peixes de água salgada, apesar da distância do mar. Esses dados reforçam a ideia de que os soldados eram membros da elite social, provavelmente cavaleiros com privilégios.

Os restos mortais da monja guerreira e dos cavaleiros medievais foram exumados do cemitério do castelo de Zorita de los Canes, em Guadalajara. Crédito: Comunicado/Universitat Rovira i Virgili

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O verdadeiro choque, no entanto, veio com a descoberta de dois esqueletos não esperados: um pertencente a uma criança e outro a uma mulher. O destino do bebê no cemitério permanece um mistério, embora análises sugiram que a mãe da criança seguia uma dieta típica da alta classe, indicando uma possível ligação com a Ordem de Calatrava.

Já a mulher adulta tinha uma dieta menos rica em proteínas, indicando um status social inferior. “Observamos um menor consumo de proteínas no caso dessa mulher, o que pode indicar um menor status no grupo social”, explicou Rissech. No entanto, seus ferimentos de batalha contam uma história diferente. “Ela pode ter morrido de maneira muito similar aos cavaleiros homens, e é provável que estivesse usando algum tipo de armadura ou corrente”.

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Uma das hipóteses é que a mulher poderia ter sido uma criada convocada para lutar e defender o castelo. Contudo, Rissech não acredita nesta teoria, pois os ossos da mulher não exibem os sinais típicos de desgaste vistos em servos medievais. Pelo contrário, seu esqueleto apresenta características de guerreiros monges bem treinados. “Acredito que esses restos pertencem a uma guerreira”, concluiu Rissech, sugerindo que essa dama da ordem provavelmente manejava uma espada com maestria.

A descoberta desta guerreira oferece uma nova perspectiva sobre o papel das mulheres nas ordens militares medievais e na defesa dos castelos. Seus ossos são uma prova de coragem e luta, desafiando as normas e expectativas da sociedade medieval. Enquanto essa guerreira anônima agora repousa entre cavaleiros, sua história é desenterrada trazendo à luz um capítulo fascinante e surpreendente da história.