Com uma excelente resolução, óptica adaptativa e instrumentos sofisticados, os chamados telescópios extremamente grandes (ELTs), baseados na Terra, estão cada vez mais capazes de sondar o Universo, em especial a nossa vizinhança: o Sistema Solar.

Localizado no Monte Graham, no estado norte-americano do Arizona, o Telescópio Binocular de Grande Dimensão (LBT), é um desses equipamentos promissores. Com dois espelhos primários medindo 8,4 metros, ele tem uma área de coleta ligeiramente maior do que a de um telescópio de 30 metros.

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Telescópio Binocular de Grande Dimensão (LBT), responsável pela obtenção das imagens de maior resolução já feitas em solo da lua de Júpiter Io. Crédito: Large Binocular Telescope Observatory

Uma equipe internacional liderada pela Universidade do Arizona, que administra o LBT, adquiriu recentemente imagens da lua Io, de Júpiter, que representam as fotos de maior resolução já tiradas por um telescópio terrestre. 

As imagens combinadas abaixo revelaram características da superfície medindo apenas 80 km de diâmetro, uma resolução espacial anteriormente reservada para espaçonaves, como por exemplo a sonda Juno, da NASA, que capturou algumas das imagens mais impressionantes dos vulcões de Io. 

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Lua de Júpiter Io, fotografada por SHARK-VIS em 10 de janeiro de 2024. Esta é a imagem de Io de maior resolução já obtida por um telescópio baseado na Terra. A imagem combina três faixas espectrais – infravermelho, vermelho e amarelo – para destacar o anel avermelhado ao redor do vulcão Pele (abaixo e à direita do centro da lua) e o anel branco ao redor de Pillan Patera, à direita de Pele. Crédito: INAF/Large Binocular Telescope Observatory/Universidade Estadual da Geórgia; Observações da banda IRV por SHARK-VIS/F. Pedichini; processamento por D. Hope, S. Jefferies, G. Li Causi

A equipe foi liderada por Al Conrad, cientista associado do Departamento de Astronomia da Universidade do Arizona, do Observatório Stewart e do Observatório Telescópio Binocular de Grande Dimensão (LBTO). Também fizeram parte do estudo pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley, do Instituto de Tecnologia da Califórnia e do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA.

Um artigo que descreve a análise das imagens LBT foi aceito para publicação pela revista científica Geophysical Research Letters.

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Essas imagens foram possíveis graças ao novo instrumento SHARK-VIS do LBT e ao sistema de óptica adaptativa do telescópio.

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A chave para o SHARK-VIS é sua câmera de “imagem rápida” rápida e de ruído ultrabaixo que captura imagens em câmera lenta que congelam as distorções ópticas causadas pela interferência atmosférica.

Gianluca Li Causi, gerente de processamento de dados do SHARK-VIS no Instituto Nacional Italiano de Astrofísica, explicou como ele funciona em um comunicado de imprensa da Universidade do Arizona:

“Processamos nossos dados no computador para remover qualquer vestígio da pegada eletrônica do sensor. Em seguida, selecionamos os melhores quadros e os combinamos usando um pacote de software altamente eficiente chamado Kraken, desenvolvido por nossos colegas Douglas Hope e Stuart Jefferies da Universidade do Estado da Georgia. Kraken nos permite remover efeitos atmosféricos, revelando Io em incrível nitidez”.

A imagem do SHARK-VIS foi tão rica em detalhes que permitiu aos pesquisadores identificar um grande evento de recapeamento ao redor de Pele, um dos maiores vulcões de Io localizado no hemisfério sul, perto do equador (e nomeado em homenagem à divindade havaiana associada ao fogo e vulcões).

A foto mostra um depósito de pluma ao redor de Pele coberto por depósitos eruptivos de Pillan Patera, um vulcão vizinho. A sonda Galileo, da Nasa, observou uma sequência de erupção semelhante enquanto explorava o sistema de Júpiter entre 1995 e 2003. No entanto, esta foi a primeira vez que um observatório baseado na Terra obteve imagens tão detalhadas.

Io é a mais interna das maiores luas de Júpiter (também conhecida como luas galileanas), que incluem também Europa, Ganimedes e Calisto. Desde que a sonda Voyager 1 da NASA sobrevoou o sistema de Júpiter em 1979, os cientistas ficaram fascinados com Io e suas características vulcânicas.