Na segunda-feira (10), o Olhar Digital noticiou que reflexos observados sob a calota polar sul de Marte, anteriormente interpretados como evidência de um lago de água líquida, na verdade eram apenas uma grande ilusão (saiba detalhes aqui).

Isso não significa, no entanto, que a busca esteja encerrada ou que seja impossível encontrar água em Marte – quer dizer, apenas, que foi comprovada a inexistência do lago que se presumia haver abaixo da superfície da calota polar sul do planeta.

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Prova de que as pesquisas nesse sentido continuam a todo vapor é um artigo publicado na revista Nature Geoscience também na segunda, trazendo uma notícia bastante animadora: foram detectadas geadas no equador do Planeta Vermelho pela primeira vez.

Imagem colorida CaSSIS de alta resolução (4,5 m/pixel) de geada no chão da caldeira e na borda norte do Olympus Mons, em Marte. Créditos: ESA/TGO/CaSSIS

Espaçonaves europeias detectam geada no equador de Marte

A descoberta de geada no equador de Marte é um avanço significativo para compreender a possível distribuição e a troca de água entre a superfície e a atmosfera do planeta, um fator essencial para futuras missões tripuladas. Essa geada foi detectada por duas espaçonaves da Agência Espacial Europeia (ESA): o ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO), em órbita desde 2016, e a Mars Express, que explora Marte desde 2003.

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A geada foi encontrada na região de Tharsis, que abriga 12 grandes vulcões, incluindo o Olympus Mons, o maior vulcão de Marte e o pico mais alto do Sistema Solar, com 29,9 km de altura – cerca de 2,5 vezes a altura do Monte Everest. 

Quem descobriu a característica surpreendente foi Adomas Valantinas, enquanto fazia doutorado na Universidade de Berna, na Suíça, apelidando o achado de “geada proibida”. Segundo o pesquisador, a presença de geada no equador de Marte era inesperada devido à combinação de Sol e atmosfera fina, que mantém as temperaturas relativamente altas na superfície e no topo das montanhas. 

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Imagem de geada no chão da caldeira do vulcão Ceraunius Tholus, em Marte. Créditos: ESA/TGO/CaSSIS

Geada marciana evapora rapidamente com a luz do Sol

Diferentemente do que acontece na Terra, com picos cobertos de neve, a geada marciana aparece apenas por algumas horas ao amanhecer e evapora rapidamente com a luz solar. Essa geada é extremamente fina, com espessura semelhante à de um fio de cabelo humano, mas cobre vastas áreas dos vulcões, contendo água suficiente para encher cerca de 60 piscinas olímpicas.

A região de Tharsis, onde se encontram os vulcões Olympus Mons, Ascraeus Mons, Arsia Mons e Pavonis, possui cavidades profundas chamadas “caldeiras”, formadas por câmaras de magma durante erupções.

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A equipe acredita que a circulação de ar sobre Tharsis cria microclimas únicos nas caldeiras, permitindo a formação de geada. Os ventos transportam ar úmido das superfícies para altitudes mais altas, onde se condensa como geada. Nicolas Thomas, também da Universidade de Berna e coautor do estudo, explica que esse fenômeno também é observado na Terra e em outras partes de Marte.

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A geada é detectada em regiões sombreadas das caldeiras, especialmente em áreas mais frias. Adomas esclarece que a detecção dessa geada foi dificultada pela necessidade de observar locais no início da manhã e pela ligação da deposição de geada às estações mais frias de Marte. Para observar essa geada efêmera, a equipe precisou ser certeira no tempo e local de busca ou contar com muita sorte.

A descoberta de água na superfície de Marte tem grande importância científica e para a exploração humana e robótica. Colin Wilson, cientista da ESA, destaca que a baixa pressão atmosférica de Marte faz com que os topos das montanhas não sejam mais frios que as planícies, mas a pesquisa mostra que o ar úmido pode se condensar em geada, um fenômeno similar ao da Terra. Thomas conclui que essa descoberta foi possível graças à colaboração entre os orbitadores da ESA e modelagem adicional, reforçando nossa compreensão dos processos planetários.

Essas observações foram feitas pelos dois orbitadores da ESA que estão em órbitas adequadas para observar locais no início da manhã, ao contrário de outras missões que só podem observar à tarde. A janela para avistar a geada é estreita, ligada às estações mais frias de Marte. Isso significa que, para detectar o evento passageiro, a equipe tinha que saber exatamente onde e quando procurá-lo.