Na Via Láctea, a maioria das estrelas segue uma trajetória tranquila ao redor do centro galáctico, mas há exceções que se movem a velocidades extraordinárias. 

Embora essas estrelas de hipervelocidade sejam extremamente raras, uma delas foi identificada recentemente. Denominada CWISE J124909+362116.0 (J1249+36), a estrela recém-detectada não só excede a velocidade de escape da galáxia, movendo-se a cerca de 600 km por segundo, como também é uma subanã L, um tipo muito incomum e antigo de estrela da sequência principal.

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A descoberta de J1249+36 foi feita inicialmente por cientistas cidadãos que examinavam dados de telescópios em busca do misterioso Planeta Nove. Esta estrela é uma das poucas de hipervelocidade identificadas na Via Láctea. Apesar de não ser a mais veloz já observada, sua rapidez surpreendente representa um desafio intrigante para os astrônomos, que agora se questionam como ela conseguiu atingir tal velocidade.

Simulação de um hipotético par binário entre J1249+36 e uma anã branca termina com esta última explodindo em uma supernova. Crédito: Adam Makarenko / Observatório W.M. Keck

Três teorias podem explicar por que esta estrela é tão veloz

A descoberta foi apresentada na 244ª Reunião da Sociedade Astronômica Americana e descrita em um artigo submetido ao The Astrophysical Journal Letters. Os pesquisadores sugeriram três explicações possíveis para a velocidade extraordinária de J1249+36.

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Uma das hipóteses é que a estrela foi expulsa de um sistema binário que incluía uma estrela anã branca. As anãs brancas são núcleos remanescentes de estrelas semelhantes ao Sol que esgotaram seu hidrogênio e ejetaram a maior parte de seu material externo. Essas estrelas podem ser instáveis se tiverem uma companheira próxima, pois conseguem roubar material dela. Se uma anã branca ganhar muita massa, ela pode explodir em uma supernova do Tipo Ia, liberando a estrela companheira e lançando-a a uma alta velocidade.

Simulação de um hipotético par binário J1249+36-anã branca terminando na anã branca explodindo em uma supernova.

“Nesse tipo de supernova, a anã branca é completamente destruída, então sua companheira é liberada e voa em qualquer velocidade orbital que estivesse se movendo originalmente, além de um pouco de um impulso da explosão da supernova também”, explicou o astrofísico Adam Burgasser, da Universidade da Califórnia em San Diego, em um comunicado. No entanto, como a anã branca já foi destruída e os restos da explosão dissiparam-se, não se tem comprovação.

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Outra possibilidade é que a estrela tenha sido ejetada por uma interação de muitos corpos em um ambiente denso, como um aglomerado globular. Esses aglomerados são conhecidos por ter uma alta concentração de pares binários de buracos negros. “Quando uma estrela encontra um binário de buraco negro, a dinâmica complexa dessa interação de três corpos pode jogar essa estrela diretamente para fora do aglomerado globular”, disse o astrofísico Kyle Kremer, do Instituto de Tecnologia da Califórnia – Caltech, também envolvido no estudo.

A terceira hipótese é que J1249+36 pode ter vindo de uma das galáxias anãs que orbitam a Via Láctea. Um estudo de 2017 sugeriu uma origem extragaláctica para algumas estrelas de hipervelocidade, e essa poderia ser uma explicação viável para J1249+36 também.

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Para determinar a verdadeira origem da estrela, será necessário examinar sua composição química detalhadamente. Se a J1249+36 fosse uma companheira de uma anã branca, a supernova poderia ter deixado vestígios em sua atmosfera. Por outro lado, se ela veio de um aglomerado globular, suas propriedades químicas poderiam ser semelhantes às das estrelas desses aglomerados. E, se nenhuma dessas hipóteses se confirmar, talvez seja necessário considerar que ela pode ter vindo de uma galáxia anã, sendo uma forasteira que apenas passa pelo nosso “bairro cósmico”.

A análise química detalhada de J1249+36 é crucial para entender sua origem. No entanto, independentemente de sua verdadeira procedência, essa estrela de hipervelocidade é um sinal fascinante das complexidades e mistérios do Universo.