Os planos da SpaceX de lançar seu superpoderoso foguete Starship até 44 vezes por ano a partir do Centro Espacial Kennedy (KSC), da NASA, na Flórida, receberam críticas de seus principais concorrentes: a United Launch Alliance (ULA) e a Blue Origin.

Um verdadeiro gigante entre os foguetes, o Starship consiste em dois estágios – o propulsor Super Heavy e a espaçonave superior que dá nome ao colossal complexo veicular de 120 metros. A título de comparação, o icônico foguete Saturno V, usado nas missões Apollo, tinha 111 metros de altura, e, por sua vez, o Sistema de Lançamento Espacial (SLS), da NASA, mede 98 metros.

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Lançamentos em ritmo intenso do megafoguete Starship são criticados por concorrentes da SpaceX. Crédito: SpaceX

SpaceX tem ambições grandiosas para o Starship

Além do impressionante porte, o Starship tem ambições igualmente grandiosas. Projetado para transportar até 100 astronautas, o foguete visa facilitar voos interplanetários, incluindo missões à Lua e a Marte. No entanto, antes que essas jornadas espaciais possam começar, a SpaceX precisa obter aprovação regulatória para as decolagens.

Para lançar do KSC, a empresa do bilionário Elon Musk precisa de uma licença da Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA. Isso requer uma extensa avaliação de impacto ambiental (EIA), por meio da qual os efeitos potenciais dos lançamentos na vida selvagem local, no meio ambiente circundante, bem como nos negócios e residentes próximos, são cuidadosamente examinados. 

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De acordo com o site Space.com, atualmente, esse processo está em fase de consulta pública, permitindo que empresas, organizações e o público local se manifestem.

As críticas mais severas vieram da Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, que enviou uma carta detalhada à FAA argumentando que os planos da SpaceX de realizar até 44 lançamentos por ano poderiam ter um impacto prejudicial significativo. 

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A SpaceX venceu um contrato com a NASA para oferecer o Starship como módulo de pouso lunar da missão Artemis 3, em 2026. Crédito: SpaceX

Um ponto importante de preocupação é o armazenamento de grandes quantidades de metano líquido, um combustível altamente inflamável. A Blue Origin alertou para o risco de uma explosão devastadora na plataforma de lançamento, destacando que as margens de segurança propostas pela SpaceX podem não ser suficientes para proteger as instalações circundantes.

Além disso, a carta levanta questões sobre a capacidade da SpaceX de gerenciar adequadamente os impactos ambientais e de segurança associados aos lançamentos frequentes. A Blue Origin propõe limitar o número de lançamentos para amenizar esses riscos potenciais, sugerindo uma quantidade “que tenha um impacto mínimo no meio ambiente local, pessoal operacional e na comunidade”.

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Por sua vez, a ULA apresentou uma crítica detalhada em um documento de 22 páginas durante o processo de consulta pública, no qual expressa preocupações semelhantes sobre os impactos ambientais e de segurança, especialmente devido à proximidade de suas instalações com a plataforma de lançamento da SpaceX no KSC. O manifesto diz que o aumento do volume de lançamentos poderia ampliar significativamente o risco de danos a estruturas críticas e à vida selvagem local.

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Ambientalistas alertam para os riscos

Para atingir a meta de 44 lançamentos por ano, seria necessário realizar aproximadamente três a quatro lançamentos por mês, mantendo a plataforma de lançamento 39A em operação contínua. Grupos de conservação ambiental alertaram que essa atividade intensa poderia perturbar os ritmos naturais da vida selvagem local, como as rotas migratórias das aves.

Preocupações semelhantes foram levantadas em Boca Chica, no sul do Texas, onde a SpaceX conduziu testes iniciais do Starship. Relatos de danos a habitats naturais e à vida selvagem durante os testes anteriores levaram grupos como os Defensores da Vida Selvagem a questionar os impactos de longo prazo das operações da empresa.

A SpaceX defende a importância de suas operações para o avanço do programa espacial dos EUA. Eles afirmam que implementam medidas rigorosas de segurança e sustentabilidade para minimizar os impactos adversos. A empresa também está explorando a possibilidade de usar uma segunda plataforma de lançamento, o complexo 37 da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, a partir de 2026, sujeito à aprovação da Força Aérea dos EUA após uma avaliação ambiental detalhada.

No cerne das críticas e debates está a competição feroz entre SpaceX, ULA e Blue Origin pelos contratos da NASA. A decisão final sobre a viabilidade dos planos da SpaceX no KSC caberá à FAA, que deve equilibrar considerações de segurança, ambientais e comerciais antes de conceder a licença necessária para os lançamentos do megafoguete Starship.