Coquetel tóxico vagando pela atmosfera, nuvens cuja temperatura chega a 925ºC. Assim é o clima nas duas estrelas anãs marrons mais próximas da Terra, conforme revelado pelo telescópio espacial James Webb.

Pesquisadores usaram registros do telescópio para mapear as condições atmosféricas na dupla de estrelas anãs marrons que orbita a aproximadamente seis anos-luz da Terra – cerca de 57 trilhões de quilômetros (perto, em termos de escala cósmica).

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Esse mapeamento consta no primeiro relatório meteorológico já feito sobre as duas estrelas em questão, publicado no periódico acadêmico Monthly Notices da Sociedade Real de Astronomia nesta semana.

Nuvens de estrelas anãs marrons parecem tempestade de areia do Saara, mostra Webb

As nuvens na dupla de estrelas são bem diferentes das que vemos na Terra. “As nuvens das anãs marrons são muito mais quentes e provavelmente feitas de partículas de silicato quentes – algo como uma tempestade de areia muito quente do Saara”, explica a astrônoma Beth Biller, do Instituto de Astronomia da Universidade de Edinburgh, autora principal do estudo.

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As atmosferas dessas estrelas são dominadas por hidrogênio e hélio, com pequenas quantidades de vapor de água, metano e monóxido de carbono. E a temperatura nas suas nuvens é similar à da chama de uma vela.

Montagem que mostra clima em dupla de estrelas anãs marrons
Clima é tenebroso em estrelas anãs marrons, mostra telescópio James Webb (Imagem: Sociedade Real de Astronomia)

Essa dupla de anãs marrons analisada pelo Webb se formou há aproximadamente 500 milhões de anos. Uma delas tem diâmetro 35 vezes maior que o de Júpiter – o maior planeta do nosso Sistema Solar. A outra não fica muito atrás: seu diâmetro é 30 vezes maior que o do planeta gasoso.

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O telescópio forneceu uma visão tridimensional de como o clima muda ao longo da rotação (movimento que dita a duração dos dias na Terra) das anãs marrons analisadas – na maior, o leva sete horas; na menor, cinco.

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Afinal, o que são estrelas anãs marrons?

Representação artística de um sistema binário de anã marrom. Crédito: NASA, ESA e A. Feild/STScI
Representação artística de um sistema binário de estrelas anãs marrons (Imagem: NASA, ESA e A. Feild/STScI)

Esse tipo de estrela, na verdade, fica no meio do caminho entre estrela e planeta. Imagine um astro com massa maior que um planeta gigante, mas menor que a menor estrela, emitindo uma luz tênue e avermelhada.

(Aliás, é essa luz que o James Webb analisa. Isso porque o telescópio espacial usa prioritariamente “visão” infravermelha.)

As anãs marrons emitem sua própria luz por serem muito quentes – “exatamente como é possível ver um carvão avermelhado por conta de quão quente está”, explica a astrônoma Beth. Mas, diferente de estrelas “normais”, não têm fusão nuclear.