Astrônomos que investigam estrelas anãs vermelhas podem ter desvendado o mistério por trás do enigmático “Sinal Uau!”, um fenômeno que intriga a comunidade científica há mais de 40 anos. Se a hipótese estiver correta, ela poderá melhorar nossa compreensão sobre eventos astronômicos raros.

Sobre o sinal “Uau!”:

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  • Em 15 de agosto de 1977, o radiotelescópio Big Ear, nos EUA, recebeu um forte sinal aparentemente vindo da constelação de Sagitário e trazendo marcas inesperadas;
  • O astrônomo Jerry R. Ehman descobriu a anomalia alguns dias depois, quando estava revisando os dados registrados;
  • Ele ficou tão impressionado que circulou a leitura na impressão do computador, “6EQUJ5”, e escreveu o comentário “Wow!” (“Uau!, em português) ao lado, dando ali o nome amplamente utilizado para o evento;
  • Toda a sequência de sinais durou a janela completa de 72 segundos durante a qual o radiotelescópio conseguiu captá-la, mas nada mais foi detectado a partir daquela região desde então;
  • Muitas hipóteses foram criadas para explicar a origem do sinal, incluindo formas naturais e marcas feitas por humanos, mas nenhuma delas foi comprovada.
Jerry R. Ehman, astrônomo que descobriu a sequência de sinais, ficou tão impressionado quando estava revisando os dados registrados que circulou a leitura na impressão do computador, “6EQUJ5”, e escreveu o comentário “Wow!”. Imagem: Observatório de Rádio Big Ear e Observatório Astrofísico Norte-Americano (NAAPO)

“Uau!” é especialmente fascinante porque, mesmo com os avanços nos radiotelescópios, nunca mais foi visto nada semelhante. Agora, uma equipe de cientistas relata ter observado sinais que se assemelham ao “Uau!”, embora sejam de 60 a 100 vezes mais fracos. Um artigo preliminar sobre a descoberta está disponível no servidor de pré-impressão online arXiv.org.

Pesquisa detecta sinais incomuns ao fundo de estrela

O professor Abel Méndez, da Universidade de Porto Rico, revisou dados coletados pelo Observatório de Arecibo, em Porto Rico, entre 2017 e 2020. Esse telescópio, que era um dos maiores do mundo até colapsar em 2020, estava focado em estrelas anãs vermelhas próximas, buscando sinais que pudessem indicar planetas habitáveis. 

Durante a pesquisa, a equipe liderada por Méndez detectou quatro sinais incomuns ao fundo da Estrela de Teegarden, além de sinais semelhantes em outros dois casos. 

O design único do Big Ear Radio Telescope permitiu que a equipe o construísse relativamente barato, mas ainda era capaz de fazer avanços fundamentais na radioastronomia. NRAO/John Daniel Kraus

Esses “sinais” referem-se a qualquer anomalia que não seja ruído aleatório, e não a comunicação extraterrestre, como alguns poderiam imaginar. Os sinais identificados por Méndez e sua equipe foram atribuídos a nuvens interestelares de hidrogênio frio, que emitem ondas de rádio em frequências específicas na galáxia.

O radiotelescópio Big Ear, que captou o sinal “Uau!” original em 1977, estava procurando sinais perto da linha de emissão de hidrogênio a 1420 MHz, uma frequência conhecida como “poço de água”. Acredita-se que essa frequência seja ideal para comunicação entre civilizações, pois o hidrogênio é um componente fundamental da água e suas frequências de emissão são relativamente silenciosas, o que facilita a comunicação através da galáxia.

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Origem alienígena de sinal “Uau!” é descartada

Segundo Méndez, observações recentes feitas entre fevereiro e maio de 2020 revelaram sinais de banda estreita próximos à linha de hidrogênio, embora menos intensos que o “Uau!” original. Este sinal é notável por sua brevidade e pela faixa estreita de frequências em que foi captado, características que são raras para fenômenos naturais, mas que poderiam ser esperadas em comunicações alienígenas.

Méndez e seus colegas acreditam que o sinal “Uau!” pode ter sido causado por uma nuvem de hidrogênio sendo energizada por um evento rápido, como uma explosão de magnetar, um tipo de estrela de nêutrons. 

A atividade de estrelas de nêutrons já foi considerada uma possível explicação para esse sinal, mas a estreiteza das frequências captadas e a falta de um objeto adequado na área enfraqueceram essa hipótese. No entanto, uma explosão de magnetar que iluminasse brevemente uma nuvem de hidrogênio pode tornar essa explicação mais plausível.

Se confirmada, essa descoberta não apenas contribuirá para a análise de futuros sinais suspeitos, como também poderá revelar mais sobre o comportamento de nuvens de hidrogênio frio e o que as provoca.