No início de junho, Barry Wilmore e Sunita Williams, astronautas da NASA, embarcaram na espaçonave Starliner para uma missão de aproximadamente uma semana na Estação Espacial Internacional (ISS). Aquele foi o primeiro voo tripulado da cápsula da Boeing ao laboratório orbital sob contrato com a agência.  

Já se passaram mais de dois meses da data prevista de retorno à Terra, e, até agora, não se sabe quando (nem como) eles vão voltar para casa. Isso pode levar mais seis meses para acontecer. E uma das questões que essa situação peculiar traz é: como Wilmore e Williams estão lidando com essa espera?

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Suni Williams e Butch Wilmore, membros da primeira missão tripulada da Boeing Starliner à ISS, em entrevista ao vivo para a NASA TV. Crédito: Reprodução NASA TV

Relembre o caso:

  • O Teste de Voo Tripulado da Starliner – ou CFT, na sigla em inglês – foi lançado no dia 5 de junho, no topo de um foguete Atlas V, da United Launch Alliance (ULA), a partir da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida;
  • Isso aconteceu após uma série de adiamentos;
  • A última suspensão foi em razão de um vazamento de hélio na cápsula;
  • O problema não foi entendido como tão grave, e a espaçonave decolou rumo à ISS;
  • No trajeto, mais vazamentos de hélio foram identificados;
  • A acoplagem também apresentou problema: uma anomalia fez cinco dos 28 propulsores do módulo falharem em seu funcionamento, atrasando a ancoragem em mais de uma hora;
  • A NASA realizou diversos testes com esses propulsores – agora 27, já que um foi considerado inutilizável;
  • Não se sabe se a cápsula poderá servir para trazer os astronautas de volta;
  • É possível que essa tarefa fique com a SpaceX, no entanto, ainda não foi definido quando isso vai acontecer.

Enquanto as equipes em solo investigam as causas das falhas, uma decisão final sobre o retorno dos tripulantes deve ser anunciada até o fim deste mês.

Foguete Atlas V, da ULA, lançando a missão tripulada inaugural da Starliner, da Boeing, em 5 de junho de 2024. Crédito: ULA

Espera distorce percepção do tempo

Esperar nunca é fácil. Em situações normais, já é algo que provoca frustração e ansiedade. Em momentos críticos como esse, a espera pode se transformar em um verdadeiro tormento.

Um dos motivos é que a espera distorce nossa percepção do tempo. Lembre-se da última vez que aguardou um ônibus atrasado, resultados de exames ou uma mensagem de alguém especial. O tempo pareceu voar ou se arrastar nessas ocasiões? Para a maioria das pessoas, o tempo passa lentamente durante a espera, fazendo com que minutos pareçam horas.

Essa sensação acontece porque, quando esperamos, aumentamos o tempo que passamos pensando no tempo. No dia a dia, com a mente ocupada, não damos muita atenção ao tempo, o que ajuda a sensação de que ele passa rápido. No entanto, quando estamos à espera de algo, nosso foco no tempo se intensifica, como se ficássemos “observando o relógio”, o que faz com que os minutos pareçam se arrastar. O estresse e a ansiedade só pioram essa sensação, tornando a espera ainda mais angustiante.

Além disso, a espera desacelera nossa percepção do tempo devido à falta de atividades que a acompanham. Em nossa rotina normal, estamos sempre ocupados com tarefas e interações variadas. A necessidade súbita de esperar interrompe esse fluxo, deixando-nos sem ocupação, o que aumenta o tédio e a frustração.

Situação dos astronautas na ISS se assemelha à quarentena da Covid-19

Em um artigo para o site The Conversation, Ruth Ogden, professora de Psicologia do Tempo na Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, e Daniel Eduardo Vigo, pesquisador ênior em Cronobiologia, Pontifícia Universidade Católica da Argentina lembram que durante a pandemia de Covid-19, muitas pessoas experimentaram essa sensação de tempo arrastado. O confinamento em casa, sem a rotina e as distrações habituais, fez com que os dias parecessem intermináveis para muitos.

Os astronautas na ISS enfrentam algo parecido. A ansiedade sobre o retorno à Terra, as atividades limitadas e o pouco contato com amigos e familiares tornam a espera para voltar para casa ainda mais longa. No entanto, investigações com membros de estações de pesquisa na Antártica sugerem que a situação pode não ser tão desesperadora.

Cientistas que passam longos períodos isolados em ambientes extremos, como o continente gelado, relataram que a ocupação constante com tarefas científicas complexas ajuda a acelerar a percepção do tempo. 

Em uma pesquisa recente, 80% dos membros de uma tripulação antártica disseram que o tempo passava rapidamente, graças às suas atividades. Isso pode ser um alívio para os astronautas da ISS, que também têm uma rotina exigente. Mesmo assim, a incerteza sobre quando poderão voltar para casa pode continuar sendo um desafio significativo.