Cientistas revelaram como a colaboração entre oceanos e continentes, ocorrida há milhões de anos, devastou a vida marinha e influenciou drasticamente a evolução da Terra. 

Um estudo, conduzido pela Universidade de Southampton, no Reino Unido, oferece novas explicações para os eventos anóxicos oceânicos, períodos em que os oceanos sofreram uma grave escassez de oxigênio dissolvido, ocorridos entre 185 e 85 milhões de anos atrás.

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Esses eventos, segundo os pesquisadores, desencadearam extinções em massa de espécies marinhas e causaram convulsões biológicas significativas. A pesquisa, publicada na quinta-feira (29) na revista Nature Geoscience, foi realizada em colaboração com universidades do Reino Unido, Austrália, Holanda, Canadá e EUA. 

A equipe investigou o impacto das forças tectônicas na química oceânica durante o Jurássico e o Cretáceo, períodos que juntos compõem a era Mesozoica, conhecida como a era dos dinossauros.

O supercontinente Gondwana já foi percorrido pelos dinossauros. Crédito: Universidade de Southampton

Apertaram o “botão de reinicialização” dos ecossistemas da Terra

Tom Gernon, professor de Ciências da Terra e autor principal do estudo, comparou os eventos anóxicos a um “botão de reinicialização” nos ecossistemas planetários. Ele afirmou que o grande desafio foi compreender quais forças geológicas “acionaram esse botão”. O estudo combinou análises estatísticas com modelos de computador sofisticados para explorar como a fragmentação do supercontinente Gondwana, que desencadeou intensa atividade vulcânica, afetou os ciclos químicos nos oceanos.

Durante a era Mesozóica, a ruptura de Gondwana e a formação de novos fundos marinhos liberaram grandes quantidades de fósforo, um nutriente essencial para a vida, das rochas vulcânicas para os oceanos. Essa liberação de fósforo funcionou como um fertilizante natural, estimulando o crescimento de organismos marinhos. No entanto, os pesquisadores descobriram que esses períodos de fertilização tiveram um impacto devastador nos ecossistemas oceânicos.

O aumento da atividade biológica resultou na deposição de enormes quantidades de matéria orgânica no fundo do mar, onde o consumo de oxigênio criou vastas áreas anóxicas, conhecidas como “zonas mortas”. Nessas regiões, a maior parte da vida marinha foi extinta. Esses eventos anóxicos duraram entre um e dois milhões de anos e deixaram um legado duradouro, já que as rochas ricas em matéria orgânica formadas durante esses períodos são hoje as maiores fontes de petróleo e gás.

Espécies marinhas antigas que desapareceram em grandes eventos de extinção em massa. Crédito: Dotted Yeti – Shutterstock

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Homem moderno reduziu os níveis médios de oxigênio nos oceanos

Além de explicar as causas das turbulências biológicas extremas durante o Mesozoico, o estudo alerta para os efeitos devastadores da sobrecarga de nutrientes nos ambientes marinhos atuais. A equipe destacou que as atividades humanas modernas já reduziram os níveis médios de oxigênio nos oceanos em cerca de dois por cento, resultando em uma expansão significativa das zonas anóxicas.

O professor Gernon concluiu que os eventos geológicos passados oferecem informações valiosas para prever como a Terra pode responder a futuros desafios climáticos e ambientais. As descobertas ressaltam a forte conexão entre o interior da Terra e seu ambiente de superfície, especialmente durante períodos de intensa atividade tectônica e mudanças climáticas.