Mais de um milhão de usuários do Telegram estão em grupos de pornografia infantil

Relatório constatou presença expressiva de brasileiros em comunidades ilegais
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Rodrigo Mozelli 23/10/2024 21h25, atualizada em 24/10/2024 18h05
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(Imagem: DANIEL CONSTANTE/Shutterstock)
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Um relatório da SaferNet, ONG especializada em segurança digital, fez revelação preocupante: cerca de 1,25 milhão de usuários do Telegram estão em grupos de compra e venda de pornografia infantil. Um número expressivo é de brasileiros.

O documento com levantamento dos crimes sexuais contra crianças na internet foi entregue nesta quarta-feira (23) ao Ministério Público Federal (MPF).

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Relatório apontou que Telegram facilita o crime (Imagem: Melnikov Dmitriy/Shutterstock)

Telegram tem mais de um milhão de usuários em grupos de pornografia infantil

A pesquisa da SaferNet, “Em suas próprias palavras: Como o Telegram tem sido usado no Brasil como um espaço de comércio virtual por criminosos sexuais”, foi realizada por meio de 874 links do app mensageiro denunciados à ONG por usuários durante o primeiro semestre deste ano.

O levantamento identificou 41 comunidades com trocas de conteúdo explícito envolvendo crianças, incluindo compartilhamento e venda de imagens de nudez, sexo e pornografia infantil. No total, o número de participantes somados chegou a 1,25 milhão de usuários. Mesmo com perfis repetidos e bots, a quantidade continua expressiva. Em apenas um dos grupos, eram 200 mil usuários.

A análise também descobriu que 149 dos links (17% do total) seguiam ativos entre julho e setembro deste ano, sem nenhum tipo de restrição do Telegram. 66 deles nunca haviam sido denunciados.

Ainda, o relatório apontou que há grande número de brasileiros participando dessas comunidades. Isso porque os pedófilos conversam em códigos, mas quase metade deles eram palavras em português, ainda mais do que termos em inglês ou espanhol.

Relatório foi enviado ao MPF (Imagem: Vitoria Gomez [gerado com IA]/Olhar Digital)

Falta de moderação facilita crime

  • O relatório apontou que a presença de pornografia infantil no Telegram não é por acaso, já que o app de mensagens tem características que facilitam o crime;
  • Entre elas, a ausência de canais de denúncia, moderação de conteúdo e ferramentas de detecção;
  • Outro problema é a forma de pagamento. As transações são feitas usando criptomoedas, o que dificulta a identificação dos usuários;
  • O Telegram alega não processar pagamentos diretamente em transações feitas dessa forma.

Leia mais:

Telegram é investigado mundialmente

Em agosto, o dono do Telegram, o russo Pavel Durov, foi preso na França. Uma das acusações é a negligência em coibir crimes na plataforma. Ele responde em liberdade por 12 crimes.

A empresa também é investigada na Índia, onde um relatório do Escritório da Organização das Nações Unidas sobre Drogas e Crime apontou que o mensageiro facilita o crime organizado no Sudeste Asiático e que a criptografia do aplicativo dificulta que criminosos sejam detectados pelas autoridades. Saiba mais aqui.

O Olhar Digital entrou em contato com o Telegram, que, por meio de nota, afirma que o número levantado pelo estudo é “absurdo” e que mantém constante trabalho de análise dos conteúdos publicados na plataforma.

A alegação de que 1 milhão de usuários brasileiros do Telegram estão em grupos que compartilham CSAM é certamente um número absurdo, pois o Telegram combate ativamente a disseminação de CSAM em sua plataforma com tolerância zero.

Qualquer mídia enviada no Telegram é automaticamente verificada usando detecção baseada em hash contra materiais CSAM banidos por uma equipe de centenas de moderadores profissionais nos últimos dez anos e quaisquer contas que tentem postar esse conteúdo são banidas imediatamente.

Além disso, os moderadores são auxiliados por IA e aprendizado de máquina para aprimorar as capacidades de moderação. Quase 42.000 grupos e canais relacionados a CSAM foram removidos até agora em outubro.

Telegram, em nota enviada ao Olhar Digital

Além disso, a empresa disse que está focando em melhorar sua moderação de conteúdos em 2024. “Em agosto, os moderadores fizeram uma varredura nos resultados do recurso de pesquisa do Telegram para identificar e remover todo o conteúdo prejudicial que pudesse ser encontrado. As ferramentas de denúncia para usuários também foram expandidas para que os usuários possam especificar mais tipos de conteúdo para um processamento eficiente por moderadores e IA”, explicou.

“Estamos expandindo ativamente nossas equipes de moderação e trabalhando em parcerias estratégicas com mais organizações para ampliar os conjuntos de dados de detecção que nossos sistemas usam para identificar proativamente conteúdo prejudicial durante tentativas de publicação.”

Por fim, o Telegram informou ter linha direta de e-mail estabelecida e identificada publicamente para denúncias de conteúdo Self-generated Child Sexual Abuse Material (CSAM) (em português: Material Autogerado de Abuso Sexual Infantil): [email protected].

A companhia disse que as denúncias enviadas para este e-mail, geralmente, são processadas em duas horas e que relatórios diários sobre seus esforços para combater este tipo de conteúdo são postados neste link.

Durov também publicou, em seu perfil na ferramenta, as medidas que a empresa estaria tomando contra casos deste tipo. Você pode ler as mensagens, em inglês, aqui, aqui e aqui.

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.