Esqueleto misterioso de 9 mil anos pode ser de antiga xamã

Um requintado túmulo milenar na cidade alemã de Bad Durrenberg revelou o enterro de uma poderosa líder religiosa da Europa mesolítica
Por Samuel Amaral, editado por Lucas Soares 20/01/2025 19h21
Ilustração da xamã Bad Dürrenberg em traje completo
Ilustração da xamã Bad Dürrenberg em traje completo (Imagem: © LDA Sachsen-Anhalt, Karol Schauer, modificado por Olhar Digital)
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A sepultura de Bad Durrenberg é uma das mais antigas encontradas na Alemanha Central. Os restos mortais consistem no esqueleto de uma mulher de idade entre 25 e 40 anos quando morreu, também conta com os ossos de uma criança em seu colo. Há junto dos cadáveres vários objetos, de facas a pingentes, o que, segundo a pesquisa, pode indicar que ela era uma influente xamã em seu período de vida

Um grupo de trabalhadores descobriu o sepulcro em maio de 1934, enquanto cavavam uma vala para passar um cano de água. O grupo alertou um professor local e removeu os artefatos presentes junto aos fragmentos dos mortos. Hoje, as peças estão expostas no Museu Estadual de Pré-história de Halle.

A cova estava cheia de pó ocre vermelho, além de objetos incomuns. Dentre eles havia um osso oco de pássaro grou, que era usado como recipiente para pequenas facas de pedra; um machado polido; um osso de veado que servia para aplicar a tintura avermelhada; e pelo menos 50 pingentes de dentes de vaca, bisão e veado.

A xamã de Bad Dürrenberg tendo como pano de fundo a vista de seu túmulo sobre o vale de Saale.
A xamã de Bad Dürrenberg tendo como pano de fundo a vista de seu túmulo sobre o vale de Saale. (Imagem: State Office for Heritage)

Os artefatos não foram o único aspecto a chamar a atenção dos pesquisadores. O esqueleto da mulher era incomum, porque sua vértebra cervical, que conecta a coluna vertebral ao crânio, tinha formato irregular e estava parcialmente fundida.

Esta anomalia óssea pode ter feito com que ela tivesse percepções anormais. Por exemplo, a sensação de cobras ou formigas rastejando sobre, ou sob, sua pele, além de movimentos involuntários dos olhos. Qualquer um desses comportamentos pode tê-la marcado como diferente dos outros indivíduos do grupo desde sua juventude.

Uma xamã capaz de unir o mundo dos vivos e dos mortos

Com base nos materiais da cova, especialistas do Escritório Estadual de Gestão do Patrimônio e Arqueologia da Alta Saxônia propõem que a mulher possa ter sido uma xamã ou uma curandeira espiritual. Ela seria alguém que poderia unir o mundo dos vivos e dos mortos, além de curar doenças.

A equipe reconstruiu o cocar com base na prática do xamanismo conhecida na Sibéria e em outras partes do norte da Eurásia. Os diversos ossos, presas e chifres de animais poderiam ter sido amarrados como uma máscara xamânica e um cocar.

Osso usado para passar a tintura vermelha ocre
Osso usado para passar a tintura vermelha ocre (Imagem: State Office for Heritage)

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A xamã de Bad Durrenberg foi um dos últimos seres humanos caçadores-coletores do período Mesolítico (15.000 a 5.000 a.C.). Ela viveu na Europa pouco tempo antes de as pessoas começarem a adotar a agricultura e se tornarem sedentárias.

No fim, acredita-se que esta última xamã pode ter morrido de um abscesso dentário. Esse problema bucal deve ter se espalhado, causado múltiplas infecções na face e, após intensas dores, provocado sua eventual morte.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.