Asteroide menor e mais veloz que o esperado desafia pouso de sonda japonesa

Com apenas 11 metros de diâmetro, o asteroide 1998 KY26 é o menor alvo onde qualquer missão espacial já tentou pousar
Flavia Correia23/09/2025 10h09
hayabusa2-1-1920x1080
Representação artística da Hayabusa2 pousando no asteroide 1998 KY26. Crédito: ESO/M. Kornmesser. Asteróide: T. Santana-Ros et al. Modelo Hayabusa2: SuperTKG (CC-BY-SA).
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Lançada pela Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA) em dezembro de 2014 para coletar amostras do asteroide Ryugu, que foram entregues à Terra seis anos depois, a sonda Hayabusa2 segue em missão estendida. O objetivo agora é repetir o feito em outro asteroide, o 1998 KY26, o que deve acontecer em 2031. Mas isso se a espaçonave conseguir pousar no alvo – algo que já não se tem tanta certeza.

Imagens recentes obtidas por grandes observatórios, como o Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (ESO) no Chile, mudaram a visão dos cientistas sobre o objeto. As novas medições mostram que ele é quase três vezes menor e gira muito mais rápido do que se pensava.

Comparação de tamanho entre o asteroide 1998 KY26 e o ​​VLT. Crédito: ESO/M. Kornmesser, A. Ghizzi Panizza. Modelo de asteroide: T. Santana-Ros et al.

Asteroide tem um terço do tamanho estimado anteriormente

Um estudo publicado este mês na revista Nature Communications, liderado pelo astrônomo Toni Santana-Ros, da Universidade de Alicante, na Espanha, revelou que o asteroide tem apenas 11 metros de diâmetro, e não 30, como apontavam os primeiros cálculos. Além disso, ele completa uma volta em torno de si mesmo em cerca de cinco minutos, o dobro da velocidade estimada em observações anteriores. 

Em um comunicado, o astrônomo Olivier Hainaut, do ESO na Alemanha, diz que essas novas medidas tornam a visita da Hayabusa2 mais fascinante, mas mais arriscada também. Isso porque a manobra de pouso, em que a sonda encosta suavemente no asteroide, ficará mais difícil com um alvo tão pequeno e veloz.

O 1998 KY26 deve ser o destino final da missão. A Hayabusa2 já havia explorado o asteroide Ryugu, de 900 metros, em 2018, trazendo amostras para a Terra em 2020. Como ainda restava combustível, a JAXA decidiu estender a jornada até 2031 para estudar asteroides menores. Será a primeira vez que uma espaçonave tentará visitar um corpo celeste tão compacto.

Para ajudar na preparação, Santana-Ros e sua equipe observaram o KY26 quando ele se aproximou da Terra. Por ser um objeto minúsculo e pouco brilhante, foi preciso usar telescópios de grande porte, como o VLT.

Leia mais:

Caracterizar objetos menores é essencial para a segurança do planeta

As análises indicam que ele tem uma superfície clara e pode ser um pedaço sólido de rocha, talvez originado de outro planeta ou asteroide. No entanto, os cientistas não descartam que ele seja formado por pilhas de entulho unidas de forma aleatória, algo ainda incerto por nunca se ter observado de perto um corpo desse tamanho.

“Nunca vimos um asteroide de dez metros de perto, então não sabemos realmente o que esperar e como será sua aparência”, diz Santana-Ros. Para ele, a capacidade de estudar um objeto tão pequeno a partir da Terra mostra que técnicas semelhantes poderão ser aplicadas em futuras missões, inclusive para mineração espacial ou para monitorar asteroides que possam representar risco de impacto.

Hainaut ressalta que caracterizar objetos minúsculos é essencial para a segurança do planeta. Ele cita o exemplo do asteroide que explodiu perto de Chelyabinsk, na Rússia, em 2013, pouco maior que o KY26, reforçando a importância de entender esses corpos antes que se tornem uma ameaça à Terra.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.