Artes rupestres de 12 mil anos indicavam rotas no deserto

Pesquisadores encontraram pinturas com mais de dois metros em paredões de rocha na Arábia Saudita; obras revelam um povo ancestral do deserto
Samuel Amaral01/10/2025 15h39
Gravuras gigantes no deserto do Nefud, na Arábia Saudita,
Gravuras gigantes no deserto do Nefud, na Arábia Saudita, revelam rotas para reservas de água. (Imagem: Guagnin 2025)
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Nas rochas do deserto de Nefud, na Arábia Saudita, dezenas de pinturas rupestres intrigam pesquisadores. Datadas de cerca de 11,4 a 12,8 mil anos atrás, algumas dessas artes chegam a dois metros de altura e revelam caminhos para encontrar água na região desértica.

Em um estudo inédito, arqueólogos encontraram novos exemplares dessas obras ancestrais. As descobertas foram publicadas na revista científica Nature Communications, na última terça-feira (30).

“Essas grandes gravuras não são apenas arte rupestre – elas provavelmente eram declarações de presença, acesso e identidade cultural”, disse Maria Guagnin, líder do estudo e pesquisadora do Instituto Max Planck de Geoantropologia, em um comunicado.

Os traçados destacam as camadas de gravuras, a equipe analisou em 4 fases: verde, amarelo, branco e tons de azul. As pinturas retratam animais da região, como cabras e camelos. (Imagem: Guagnin 2025)

Pinturas revelam um passado perdido

Evidências arqueológicas indicam que pessoas habitaram o Nefud há mais de 25 mil anos. No entanto, há poucas informações sobre essa população, sua cultura e crenças.

No novo estudo, os pesquisadores se aproximam da resposta para questão. O grupo descobriu 60 novos painéis de rocha com 176 gravuras rupestres em três áreas antes inexploradas: Jebel Arnaan, Jebel Mleiha, and Jebel Misma, todas ao sul do deserto.

As obras estão em paredões de penhascos, alguns com mais de 30 metros de altura. Em especial, uma das obras teria exigido que os artistas ancestrais escalassem e trabalhassem em saliências estreitas, o que reforça a importância dessas imagens.

A equipe encontrou painéis a 34 e 39 metros de altura em um paredão de rocha. Figura C mostra a relação entre o tamanho de uma pessoa e as obras, que têm até dois metros. (Imagem: Guagnin 2025)

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Painéis rupestres indicavam rotas para fontes d’água

A tecnologia para fazer poços e transportar água foi essencial para a expansão humano ao interior dos desertos. O grupo acredita que as pinturas estão ligadas ao início dessas técnicas no Nefud.

“A arte rupestre marca fontes de água e rotas de movimento, possivelmente significando direitos territoriais e memória intergeracional”, explicou Ceri Shipton, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Arqueologia da University College London.

Pesquisadores encontraram mais de 500 artefatos no deserto. (Imagem Antonio Reiss)

Além das gravuras, o grupo encontrou 532 ferramentas de pedra, pigmentos verdes e contas de pedra (peças usadas para fazer colares). Segundo os pesquisadores, não está claro se os artefatos pertenciam à mesma cultura que as artes, mas podem sugerir que esse povo tinha conexões com habitantes da região do Levante, a mais de mil quilômetros do deserto.

“A abordagem interdisciplinar do projeto começou a preencher uma lacuna crítica no registro arqueológico do norte da Arábia entre a última era glacial e o Holoceno, lançando luz sobre a resiliência e a inovação das primeiras comunidades do deserto”, concluiu Michael Petraglia, líder do projeto Green Arabia, uma iniciativa para combater as mudanças climáticas na Arábia Saudita.

Samuel Amaral
Redator(a)

Samuel Amaral é jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP) e estagiário de Ciência e Espaço no Olhar Digital.