O que são químicos eternos?

Entenda o que são químicos eternos, ou PFAS, substâncias artificiais que não se degradam, poluem o ambiente e acumulam-se no corpo humano
Por Bruno Ignacio de Lima, editado por Layse Ventura 02/12/2025 04h20
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Imagem: Media Home/Shutterstock
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Nada dura para sempre? Bem, a química moderna já deu um jeito nisso. Existe uma classe de substâncias invisíveis, criadas pelo ser humano, que decidiu desafiar o tempo e a decomposição natural. Eles estão na sua cozinha, no seu guarda-roupa e, infelizmente, muito provavelmente dentro do seu corpo.

Estamos falando dos “químicos eternos”, convidados indesejados que chegaram com a promessa de facilitar a vida moderna, mas que agora levantam preocupações com o meio ambiente e com nossa saúde a longo prazo.

O que são químicos eternos?

Cientificamente batizados de PFAS (sigla para substâncias per e polifluoroalquil), os químicos eternos são uma vasta família de compostos sintéticos. Eles não surgem “do nada” na natureza; são 100% artificiais, desenvolvidos em laboratório a partir da década de 1940 para resolver problemas industriais e domésticos.

Mas do que eles são feitos? A estrutura básica é uma cadeia de átomos de carbono ligada a átomos de flúor. E aqui reside o segredo de sua “imortalidade”: a ligação carbono-flúor é uma das mais fortes da química orgânica.

Essa união é tão estável que resiste à água, ao óleo e, principalmente, ao calor extremo. É por isso que eles são chamados de eternos, já que eles simplesmente não se degradam no meio ambiente, acumulando-se no solo, na água e nos organismos vivos por séculos.

Comida sendo preparada em panela antiaderente
Comida sendo preparada em panela antiaderente (Imagem: Ela Haney/Pexels)

Para que servem (e onde se escondem)

Se eles são tão problemáticos, por que os criamos? Por conveniência, é claro. A capacidade dos PFAS de repelir água e gordura os tornou revolucionários para a indústria. Eles estão presentes em uma infinidade de objetos do cotidiano:

  • Panelas antiaderentes: Aquele revestimento que impede o ovo de grudar.
  • Embalagens de fast-food: O papel que não fica oleoso com o hambúrguer.
  • Roupas impermeáveis: Jaquetas e tecidos que repelem a chuva.
  • Espumas de combate a incêndio: Usadas em aeroportos e bases militares.

Recentemente, a tecnologia também encontrou uso para eles. Com o “boom” da inteligência artificial, novos tipos de químicos refrigerantes estão sendo usados para resfriar servidores potentes. Embora eficientes para a máquina, o uso desses novos químicos em data centers levanta preocupações ambientais sérias, pois muitos se degradam em TFA (ácido trifluoroacético), um parente persistente dos PFAS que acaba nos recursos hídricos.

O impacto dos químicos eternos, ou PFAS, na saúde humana e animal

O grande problema da resistência dessas substâncias é a bioacumulação. Como a natureza (e o nosso corpo) não possui ferramentas eficazes para quebrar a ligação carbono-flúor, os químicos eternos entram no organismo e ficam lá.

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Estudos indicam que a contaminação é global. Eles viajam pelo ar e pela água, chegando a lugares remotos. Para se ter uma ideia da gravidade, já foram encontrados traços dessas substâncias até na chuva da Antártica e em ursos polares.

PFAS (Imagem: Jana Shea/Shutterstock)

Para a nossa saúde, o cenário exige atenção. A exposição contínua aos PFAS, que já foram detectados no sangue de grande parte da população mundial, está associada a uma série de riscos:

  • Alterações no colesterol;
  • Danos ao fígado;
  • Problemas de fertilidade;
  • Interferência na resposta imunológica (inclusive a vacinas);
  • Aumento do risco de alguns tipos de câncer (como rim e testículo).

A fauna sofre da mesma maneira. Animais aquáticos e terrestres absorvem esses tóxicos, que sobem na cadeia alimentar até chegarem ao nosso prato. Organizações ambientais alertam que a contaminação da água é um dos vetores mais perigosos, visto que os químicos eternos persistem e se espalham pelos lençóis freáticos, tornando a purificação da água um desafio tecnológico e de saúde pública.

No final das contas, os químicos eternos são uma maravilha da engenharia molecular que se tornou um pesadelo ambiental. Enquanto a ciência busca alternativas biodegradáveis e métodos para destruir essas moléculas teimosas, a recomendação atual é a redução de danos: evitar plásticos desnecessários, optar por utensílios de vidro ou cerâmica e cobrar por legislações mais rígidas sobre o uso dessas substâncias invisíveis.

Bruno Ignacio de Lima
Colaboração para o Olhar Digital

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Com 10 anos de experiência, é especialista na cobertura de tecnologia e conteúdo perene. Atualmente, é colaborador no Olhar Digital.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.