James Webb encontra galáxia “impossível” no início do universo

Astrônomos descobriram com o telescópio James Webb uma galáxia espiral madura formada apenas 1,5 bilhão de anos após o Big Bang
Ana Luiza Figueiredo03/12/2025 17h25
Representação artística do Telescópio Espacial James Webb
Representação artística do Telescópio Espacial James Webb. Crédito: Vadim Sadovski - Shutterstock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Siga o Olhar Digital no Google Discover

Astrônomos identificaram uma galáxia espiral totalmente formada em uma época em que esse tipo de estrutura não deveria existir. A descoberta, feita com dados do Telescópio Espacial James Webb (JWST), mostra que galáxias complexas podem ter surgido muito mais rápido do que os modelos atuais previam.

A galáxia, batizada de Alaknanda, surgiu apenas 1,5 bilhão de anos após o Big Bang, um período em que as observações costumam revelar objetos ainda caóticos e irregulares. O resultado surpreendeu pesquisadores e reacende discussões sobre a eficiência dos processos físicos que moldam galáxias no início do cosmos.

Em destaque, a galáxia Alaknanda, vista em uma imagem focada no aglomerado Abell 2744. Imagem: NASA/ESA/CSA, I. Labbe/R. Bezanson/Alyssa Pagan (STScI), Rashi Jain/Yogesh Wadadekar (NCRA-TIFR)

Uma espiral madura no início do universo

A identificação foi realizada por Rashi Jain e Yogesh Wadadekar, do National Centre for Radio Astrophysics do Tata Institute of Fundamental Research (NCRA-TIFR), responsáveis também por propor o nome da galáxia. A escolha faz referência ao rio Alaknanda, um dos formadores do Ganga, enquanto “Mandakini” — nome da Via Láctea em hindi — corresponde a outra nascente do mesmo sistema, criando um paralelo direto entre os dois objetos astronômicos.

Segundo os autores, o que mais chamou atenção foi o grau de organização da estrutura. Alaknanda apresenta duas grandes espirais, um núcleo arredondado e cerca de 30 mil anos-luz de diâmetro. Apesar de ser menor do que a Via Láctea, que chega aos 100 mil anos-luz, o formato indica uma evolução bem mais avançada do que o esperado para esse estágio do universo.

Via Láctea com estrelas e poeira espacial no universo. A galáxia Alaknanda é menor que a nossa galáxia, mas apresenta evolução avançada (Imagem: Sripfoto / Shutterstock.com)

Em comunicado, Jain destacou o impacto da observação: “Alaknanda tem a maturidade estrutural que associamos a galáxias bilhões de anos mais velhas.” Ele ressaltou ainda que encontrar um disco espiral bem organizado tão cedo implica rever os modelos que descrevem fenômenos como acréscimo de gás, estabilização de discos e surgimento de ondas de densidade espiral.

Leia mais:

Formação acelerada e intensa produção de estrelas

A equipe calcula que a galáxia possua massa estelar equivalente a 16 bilhões de sóis, algo entre metade e um sexto da estimativa para a Via Láctea. Mesmo assim, o ritmo de formação de novas estrelas impressiona: 63 massas solares por ano, mais de 20 vezes a taxa da nossa galáxia.

Modelos aplicados pelos pesquisadores indicam que cerca de metade das estrelas de Alaknanda se formaram nos últimos 200 milhões de anos, evidenciando um período de rápida evolução. Em declaração, Wadadekar reforçou essa conclusão: “Alaknanda revela que o universo inicial era capaz de montar galáxias muito mais rápido do que prevíamos.”

O coautor destacou que o objeto conseguiu reunir dez bilhões de massas solares em poucas centenas de milhões de anos, organizando-as em um disco espiral bem definido — algo que, segundo ele, obriga a comunidade científica a reavaliar hipóteses sobre o surgimento das primeiras grandes estruturas cósmicas.

Estudo detalhado

A pesquisa foi publicada na revista Astronomy & Astrophysics e oferece mais uma pista de que o universo primitivo pode ter sido mais dinâmico do que se imaginava. Para os astrônomos, o comportamento de Alaknanda abre caminho para novas investigações sobre a velocidade e os mecanismos responsáveis pela formação das primeiras galáxias.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.