Você já deve ter visto, inclusive aqui no Olhar Digital, várias imagens feitas de superfícies de outros planetas ou luas que se assemelham à foto em destaque. No entanto, esse registro obtido do espaço mostra um pedaço aqui da Terra mesmo – e um lugar bem conhecido: o Deserto do Saara.  

Mais precisamente, a Bacia de Tanezrouft, uma área hiperárida situada no sul da Argélia e norte do Mali. Este vasto pedaço de deserto é um dos ambientes mais inóspitos do planeta.

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Recebendo menos de 5 milímetros de chuva por ano, a região atinge temperaturas que podem ultrapassar 50ºC durante o verão, de acordo com o Observatório da Terra da NASA.

Bacia de Tanezrouft, no Deserto do Saara, é um dos locais mais inóspitos do planeta. Crédito: Observatório da Terra da NASA por Jesse Allen, usando dados Landsat do Serviço Geológico dos EUA.

Terra do Terror

Viver na Bacia de Tanezrouft é quase inimaginável. A vida por lá é praticamente inexistente, exceto por alguns nômades tuaregues que, ocasionalmente, cruzam essa desolação em caravanas, seguindo rotas ancestrais de mais de 1.500 anos. Uma jornada, aliás, extremamente perigosa, devido à ausência de pontos de referência, o que pode levar até os viajantes mais experientes a se perderem. Não é à toa que o lugar é conhecido como a “Terra do Terror”.

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A Bacia de Tanezrouft também já foi fotografada pela missão Copernicus Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia (ESA). Crédito: Dados do Copernicus Sentinel modificados (2020), processados pela ESA

O que torna a Bacia de Tanezrouft ainda mais fascinante são as suas características geológicas reveladas após milhares de anos de tempestades de areia. Essas tempestades removeram sedimentos e areia, expondo antigas dobras concêntricas no leito rochoso de arenito, datadas da era paleozoica (541 a 252 milhões de anos atrás). 

Tais formações geológicas, salpicadas de salinas esverdeadas localizadas em cânions íngremes, criam um espetáculo visual impressionante visto da órbita da Terra. Como descreve a NASA, “as características geológicas expostas criam uma obra de arte abstrata impressionante”.

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Um passado vivo

Apesar de sua aparência severa, a paisagem da Bacia de Tanezrouft tem um passado mais acolhedor. Algumas das salinas visíveis na imagem em cores reais, obtida em 2017, estão em cânions com até 490 metros de profundidade. A forma e a escala dessas ravinas sugerem que foram esculpidas por água corrente, possivelmente devido a inundações periódicas ao longo de milhões de anos. 

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Isso significa que a região, atualmente tão hostil, pode ter sido, em tempos remotos, um ambiente muito mais hospitaleiro e capaz de sustentar uma biodiversidade rica.

Hoje, as salinas e seus cânions entrelaçam-se com as dobras de arenito expostas, criando as formas abstratas capturadas na imagem. Segundo P. Kyle House, pesquisador do Serviço Geológico dos EUA, esses padrões lembram paisagens formadas em estratos dobrados em regiões como o Deserto Vermelho de Wyoming e até partes das densas florestas das montanhas Apalaches no leste dos EUA.

Com sua combinação única de beleza e desolação, a Bacia de Tanezrouft continua a ser um enigma fascinante no coração do Saara.