Biólogos marinhos registraram, pela primeira vez na história, a frequência cardíaca de uma baleia azul. Os resultados surpreenderam até mesmo os cientistas. A pesquisa demonstrou como os corações desses animais os ajudam a prender a respiração por longos períodos, bem como fornecer a energia necessária para a caça.

O estudo, de coautoria do biólogo marinho Jeremy Goldbogen, da Universidade de Stanford, sugere que a baleia azul atingiu o maior tamanho possível para um organismo aquático no planeta. Embora impressionante, seu sistema cardiovascular aparenta estar no limite do que é biologicamente possível. A pesquisa foi publicada na segunda-feira passada (25), no Proceedings of the National Academy of Sciences.

As baleias azuis são as maiores criaturas que já viveram na Terra. Esses cetáceos podem atingir 30 metros de comprimento e pesar incríveis 173 toneladas. Isso equivale a cerca de 28 elefantes africanos empilhados – o maior animal terrestre do planeta. Esse tamanho só é possível porque as baleias vivem no oceano, já que nenhuma criatura dessas proporções poderia se sustentar em ambiente terrestre. Os maiores animais que caminharam sobre a Terra foram os titanossauros, um grupo de dinossauros quadrúpedes de pescoço longo que incluía Argentinossauro, Rapetossauro e Patagotitan mayorum, este último pesando 69 toneladas. Por maiores que fossem, não chegavam perto da baleia azul.

Goldbogen Lab/Duke Marine Robotics e Remote Sensing Lab

publicidade

Outro fator importante que permite tal crescimento das baleias azuis é seu sistema cardiovascular altamente especializado, segundo a pesquisa. No entanto, entender como o coração desses animais funciona é algo difícil, já que eles são quase grandes demais para serem medidos. Para contornar esse obstáculo, Goldbogen e seus colegas desenvolveram uma etiqueta de eletrocardiograma (ECG) que foi anexada a uma baleia azul utilizando ventosas.

Os cientistas conseguiram conectar o dispositivo ao lado da nadadeira de uma baleia de 15 anos em Monterey Bay, na Califórnia. O equipamento rastreou os ritmos do coração do cetáceo enquanto mergulhava a profundidades de 184 metros e permanecia submerso por quase 17 minutos.

Analisando os dados, os pesquisadores puderam registrar a frequência cardíaca da baleia azul à medida que ela realizava sua rotina diária. Quando ela fazia um mergulho profundo, sua frequência diminuía, com uma média de quatro a oito batimentos por minuto (bpm), às vezes chegando a dois bpm (a frequência cardíaca normal em repouso para humanos varia entre 60 e 100 bpm). Com essa frequência reduzida, o animal consegue conservar seu suprimento de oxigênio no sangue, permitindo a permanência prolongada debaixo d’água e maximizando o tempo de caça.

Reprodução/MS Savoca

Ao procurar comida, as baleias azuis, animais filtradores, realizam movimentos energéticos para devorar grandes volumes de água cheios de pequenas presas. Observando os resultados do ECG, a frequência cardíaca aumenta consideravelmente nesses momentos, batendo cerca de duas vezes e meia a mais em comparação à taxa mais lenta (bradicardia), demonstrando como o animal funciona nos dois extremos da natureza.

Ao voltar à superfície, seus batimentos cardíacos subiram ainda mais, variando entre 25 e 27 bpm em média. Conhecida como taquicardia, é quando a baleia trabalha para reabastecer seu suprimento de oxigênio no sangue.

Esse perfil surpreendeu até os pesquisadores. A bradicardia observada foi de 30 a 50 vezes menor que o esperado. A baixa taxa foi possível devido a uma parte elástica do corpo da baleia chamada arco aórtico, segundo o artigo. Essa peça da anatomia das baleias transporta o sangue para todo o corpo do animal, contraindo-se lentamente para manter o fluxo sanguíneo durante o longo intervalo entre as batidas. As pulsações e formas únicas do coração mantêm o sangue fluindo, o que torna possível a frequência mais alta.

Reprodução/Alex Boersma

Durante a taquicardia, a frequência cardíaca da baleia azul provavelmente está no limite máximo permitido pelas restrições da biologia, segundo os autores. Para eles, não é provável um sistema cardiovascular mais robusto.

Para o futuro, os pesquisadores gostariam de usar acelerômetros para monitorar a velocidade das baleias azuis em relação à frequência cardíaca. Eles também desejam usar seu dispositivo de ventosas para fazer a mesma medição em baleias finas, jubartes e minke.

Via: Gizmodo