A China tem trabalhado intensamente na construção de rostos usando informações genéticas de pessoas, em um processo chamado fenotipagem de DNA. O código genético informa algumas características, como cor dos olhos, da pele e ascendência, e isso está sendo usado contra populações vulneráveis – como pessoas da minoria étnica uigur – e gerando ações discriminatórias e perseguições.

Essa técnica não se restringe aos chineses. Os Estados Unidos também já utilizaram a fenotipagem de DNA, mas com um método de aplicação totalmente diferente. De acordo com o New York Times, pesquisadores chineses têm feito isso a partir de coleta forçada de sangue de habitantes da região de Xinjiang, extremo oeste do país, enquanto polícias americanas usaram o recurso para ajudar em investigações criminais.

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O avanço da fenotipagem de DNA traz consigo alguns pontos importantes. Veja cinco deles a seguir:

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Técnica só extrai algumas informações do DNA

Com a análise do código genético, é possível reconstruir como é (ou era) o rosto de uma pessoa. No entanto, esses dados não entregam um retrato claro da aparência de alguém. Isso acontece porque alguns detalhes não estão em nosso DNA. É o caso do peso, por exemplo. A genética pode indicar uma predisposição à obesidade, mas não é o bastante para identificar o peso de alguém, um fator que modifica nossas faces.

O perigo da falta de consentimento

Quando se trata de dados, principalmente aqueles mais sensíveis como o DNA, o consentimento é uma palavra-chave. No caso chinês, isso não existe. A coleta compulsória do sangue e o uso dessas amostras para fins que não foram aprovados, mostra que os direitos humanos não estão sendo respeitados.

Essa exploração mostra a importância de leis de proteção de dados. Governos e empresas devem garantir a privacidade das informações sensíveis dos cidadãos, assim como a sociedade precisa cobrar para que o nível de proteção seja o mais alto possível, com punições aos que não respeitarem.

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Mecanismo induz preconceito

Em Xinjiang, há uma presença significativa de habitantes da etnia uigur, uma minoria muçulmana com aspectos e cultura diferentes da maioria – 90% da população chinesa é da etnia han. Sob alegações de riscos de terrorismo, a China conduz uma forte repressão contra os uigures, vigiados por sistemas de câmeras e softwares de reconhecimento facial.

Essa vigilância pode aumentar com a fenotipagem de DNA, feita a partir de amostras de sangue obtidas em um programa obrigatório de saúde pública, segundo relatos de habitantes que fugiram do país.

Com a técnica, o governo pode associar rostos ao DNA e ampliar os programas de segregação, como os campos de “reeducação” para uigures. Segundo discurso oficial, eles foram criados para transformar extremistas perigosos em cidadãos comportados.

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O lado criminal

O New York Times relembra dois casos em que a fenotipagem de DNA foi usada pela polícia americana para solucionar crimes. Em um deles, no estado de Maryland, os restos mortais de uma vítima de assassinato foram identificados a partir de um programa chamado Snapshot, que reconstituiu o rosto de uma mulher por meio do DNA.

No outro caso, a polícia da Carolina do Norte utilizou a ferramenta para prender um assassino cuja genética indicava ter pele clara, cabelo escuro, olhos castanhos e um pouco de sarda no rosto. Porém, não é aplicável em larga escala.

A fenotipagem também tem usos arqueológicos, permitindo que cientistas façam reconstituições faciais de humanos que morreram há milhares de anos, aumentando o conhecimento sobre as origens da nossa espécie.

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Pesquisadores europeus financiados pela China

As autoridades chinesas buscaram cientistas de institutos de pesquisa europeus para construir rostos dos habitantes de Xinjiang. Um deles recebeu bolsa de um grupo de pesquisas alemão, enquanto outro é professor assistente de uma universidade holandesa.

Ambos são autores de um estudo sobre as faces uigures e análises de amostras de DNA de uigures. Nesta segunda pesquisa, um cientista do ministério de segurança pública da China também aparece entre os autores.

O intercâmbio de cientistas é comum e produtivo. Contudo, abre margem para os conhecimentos de técnicas como essa pararem nas mãos de governos autoritários. Mesmo em governos democráticos e empresas, o consentimento pode ser desrespeitado.

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Via: Tilt