As eleições no Brasil são conhecidas em todo o mundo pela rápida apuração e divulgação dos resultados. Mas neste ano, nas votações municipais, os números foram noticiados muito mais lentamente, o que causou atrasos em todo o país. Mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou que a morosidade dos resultados do primeiro turno ocorreu por conta de uma falha no supercomputador do órgão que realiza a soma dos números. Mas por que este equipamento foi escolhido para cuidar desta etapa tão importante do pleito?

A verdade é que entre 2017 e 2018, peritos da Polícia Federal (PF) descobriram uma brecha no sistema das urnas eletrônicas que poderia possibilitar interferências externas no processo de eleição. O fato foi divulgado pelo TSE por meio de nota técnica ao Uol.

Reprodução

PF descobriu falha nas urnas nas eleições de 2018. Créditos: Joa Souza/Shutterstock

publicidade

Testes periódicos

A falha foi observada nos testes que são realizados nas urnas a cada dois anos. Os chamados Testes Públicos de Segurança (TPS) são promovidos com o envolvimento de pesquisadores e profissionais de TI, que são desafiados a invadir o sistema de votação eleitoral. O objetivo é justamente descobrir brechas no código-fonte que podem colocar os pleitos em risco, embora, segundo a justiça eleitoral, nenhuma destas falhas tenha sido exploradas.

Mas em outubro de 2018, após os TPSs, a PF emitiu um relatório ao TSE com a “análise dos códigos-fonte dos sistemas eleitorais nas Eleições 2018“. Apesar de o órgão eleitoral não ter divulgado qual realmente foi a brecha encontrada, destacou que para corrigi-la foi necessário mudar o esquema de soma dos votos.

Antigo esquema de votos

Antes de o supercomputador começar a realizar o processo de soma, quem fazia isso eram os 27 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) do país. Cada um deles somava os votos do seu estado e encaminhava para o TSE para a soma geral. Para isso, era disponibilizado “um servidor instalado fisicamente em cada TRE, mas cuja administração e manutenção estava a cargo do TSE”, segundo a PF.

Mas é neste ponto que o problema começa, pois segundo o relatório da PF, “o fato de existir um banco de dados e um servidor de aplicações local em um computador em cada TRE aumenta o leque de potenciais ataques ao ambiente, que podem ser mitigados com a localização física destas máquinas no ambiente do TSE”. O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou na segunda-feira (16) que “quando você tem 27 alvos possíveis de ataque, a sua vulnerabilidade é maior”.

Reprodução

O sistema antigo de soma de votos envolvia os 27 TREs do país. Créditos: Antônio Salaverry/Shutterstock

O supercomputador

A partir de uma recomendação da PF de centralizar o processo de soma dos votos, entrou em cena o supercomputador com inteligência artificial, o Exadata X8. O equipamento é da gigante Oracle, que inclusive já fornece para a justiça brasileira outros sistemas eletrônicos para repartições públicas.

No entanto, a entrega do componente foi atrasada devido à pandemia causa pela Covid-19. O supercomputador chegou ao TSE somente três meses antes das eleições 2020, o que inviabilizou alguns testes de desempenho. O resultado? O algoritmo da máquina não aguentou o volume de informações.

Neste momento, técnicos desligaram e ligaram o Exadata novamente, e, em uma reinicialização, a IA funcionou e analisou quais informações deveriam somar primeiro.

Por fim, segundo o TSE, a divulgação dos resultados teve apenas duas horas e meia de atraso, se comparada com as eleições de 2018. O órgão ainda assegura que a soma final dos votos não foi afetada pelo incidente e que o mesmo não deve se repetir no segundo turno, marcado para ocorrer em 29 de novembro.

Fonte: Uol