O aplicativo de mensagens instantâneas Signal foi bloqueado pelo governo iraniano. A medida foi adotada após o app ter sido enquadrado por um comitê do Irã — composto pelo procurador-geral da República e diversos ministérios do país — sob acusações de apresentar conteúdo criminoso.

Desde 14 de janeiro, o Signal havia sido removido do Cafe Bazaar e da Myket, duas lojas de aplicativos conhecidas na região. No entanto, a represália ao app agravou-se nesta semana, quando diversos usuários do Signal no Irã relataram problemas ao tentarem se conectar na plataforma na última segunda-feira (25).

O bloqueio cai como uma bomba no colo do Signal. Apesar de não existir uma estimativa do número de usuários do app no país, a plataforma se tornou recentemente o aplicativo mais baixado da Play Store iraniana. O motivo é simples: desde que o WhatsApp anunciou sua nova política de privacidade, os iranianos decidiram apostar no Signal como uma alternativa mais segura para troca de mensagens.

O problema é que a própria premissa do Signal de ser uma plataforma segura pode ter intimidado o governo iraniano. “Tradicionalmente, sempre que o governo iraniano não consegue descobrir o que está acontecendo ou quem está fazendo o quê, eles temem que talvez as pessoas estejam fazendo algo contra o governo”, afirmou Amir Rashidi, pesquisador de segurança da internet e direitos digitais.

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Bandeira do Irã
Bloqueio do Signal é apenas mais um ato de censura do governo iraniano contra mídias sociais. Imagem: Rainer Puster/iStock

Em seu Twitter, o Signal admitiu que tem sofrido ataques de censura do governo iraniano, afirmando que o país está eliminando todo o tráfego do app. No entanto, a empresa afirma que o povo do Irã “merece privacidade” e seguirá lutando para driblar a censura imposta.

Ainda com todas as evidências, o judiciário do Irã fugiu das acusações de bloqueio do Signal e afirmou que desde 2019 não “bloqueou qualquer mídia, meio de comunicação ou serviço de mensagens e não está bloqueando o espaço cibernético ou quaisquer serviços de mensagens sociais”.

Problema recorrente

Esta não é a primeira vez que o Signal é censurado no Irã. O aplicativo foi bloqueado temporariamente em 2016 e 2017, já que estava sendo usado para organizar os protestos em prol da democracia e contra o líder Ali Khamenei. O bloqueio, no entanto, passou despercebido, já que na época a base de adeptos do Signal no Irã ainda era pequena. Nenhuma explicação foi dada pelas autoridades locais.

O app também não é a única plataforma a ser bloqueada no país. Atualmente, Telegram, Twitter, Facebook e Youtube estão indisponíveis na região — que conta apenas com o WhatsApp e Instagram.

O anúncio de bloqueio do Signal surge com o temor de uma restrição ainda maior: a internet. Em novembro de 2019, os iranianos passaram quase uma semana sem acesso à rede devido a protestos nacionais.

Com cada vez mais restrições de apps, teme-se que o governo adote alguma medida ainda mais restritiva.

Protestos no Irã
Governo iraniano teme que mídias sociais facilitem organizações de novos protestos. Imagem: Viktor Kadiri/Shutterstock

“Carta na manga”

Infelizmente, o povo iraniano está “acostumado” com as medidas de censura contra os aplicativos impostas pelo governo. Se por um lado a notícia é péssima, esse é um dos fatores que pode permitir o povo local a driblar o bloqueio do Signal.

O uso de redes virtuais privadas (VPNs) mascarando o IP dos usuários é conhecido pelos iranianos, possibilitando acesso à plataformas e conteúdos bloqueados — incluindo o Telegram, por exemplo.

Ou seja, em tese, o bloqueio do Signal pelo governo iraniano deve frear o crescimento de adeptos ao app, mas isso não deve significar o fim do app no país.

Via: Al Jazeera

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