Um estudo conduzido na África do Sul para determinar a eficácia da vacina de Oxford contra a variante B.1.351, que circula no país e já se tornou dominante, trouxe resultados preocupantes. A pesquisa demonstrou uma eficácia muito baixa (praticamente nula) na proteção entre os voluntários que receberam o imunizante, obtendo resultados quase idênticos ao do grupo placebo.

A notícia deixou o governo sul-africano claramente assustado. Após a publicação de matéria com os resultados no fim de semana, a utilização da vacina de Oxford para vacinação no país foi suspensa com o temor de que ela simplesmente não tivesse utilidade para contenção do vírus no país. A prioridade será a da Johnson & Johnson, que demonstrou uma eficácia satisfatória nos estudos contra a variante.

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A conclusão do estudo, que teve cerca de 2.000 voluntários jovens e saudáveis, foi baseada em 42 casos, sendo que 23 deles foram concentrados no grupo placebo e 19 entre quem foi vacinado. Entre os infectados especificamente com a B.1.351, a diferença foi ainda menor: 20 no placebo e 19 no grupo vacinado. Seria o equivalente a 21,9% de eficácia na primeira análise e 10,4% na segunda, como reporta o New York Times.

No entanto, após a apresentação dos dados, a situação fica um pouco mais confusa. O problema é que o volume de dados não é suficiente para cravar qualquer conclusão, e isso fica claro no intervalo de confiança apresentado pelos cientistas. No cálculo de eficácia que resultou em 21,9%, o intervalo fica entre -49,9% e 59,8%; isso significa que as informações coletadas são tão poucas que é plausível que a vacina aumente em 50% os riscos de contrair Covid-19 comparado com quem não se vacinou, assim como é plausível que ela reduza em 60% os riscos de desenvolver a doença comparado a quem não se vacinar.

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Da mesma forma, na análise de 10,4% de eficácia especificamente contra a nova variante, o intervalo de confiança varia entre -78,8% e 54,8%, o que também indica um grau de incerteza enorme quanto aos resultados da vacina de Oxford.

Vale notar, no entanto, que o estudo não foi projetado para acompanhar o nível de proteção contra casos graves da doença, e verificou apenas a incidência de casos leves e moderados. É possível que, mesmo que se confirme a queda drástica de eficácia geral contra a variante B.1.351, que a vacina de Oxford continue protegendo contra o desenvolvimento de quadros graves e morte por Covid-19, mas estudos mais aprofundados precisarão ser realizados para chegar a essa conclusão.

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Também é importante observar que a queda na eficácia tem sido um padrão entre vacinas testadas contra a variante B.1.351. Os estudos conduzidos pela Novavax na África do Sul mostraram que sua vacina, que teve alta eficácia geral, com resultado de 89%, viu uma queda significativa para 60% entre os voluntários que não portavam o vírus HIV. Já a Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, anunciou que, em seus estudos nos Estados Unidos, verificou eficácia de 72%, contra apenas 57% na África do Sul, sendo que no país africano 95% dos casos acompanhados foram causados pela variante.

Os resultados da vacina de Oxford preocupam porque a variante B.1.351, apesar de ter sido descoberta na África do Sul, já foi identificada em mais de 30 países até o momento. Ela também conta com uma mutação chamada E484K, que é associada a maior risco de fuga da resposta imunológica. Essa mutação também é encontrada na variante P.1, descoberta no Amazonas e que tem se tornado predominante no estado e já foi identificada em outras regiões, inclusive em São Paulo, e em outros países.