Mesmo tendo começado a campanha de vacinação contra a Covid-19 depois de vários países europeus e sul-americanos, o Brasil ocupava, até quarta-feira (17), a sétima posição no ranking dos países que mais aplicaram doses de imunizante na população. E o país poderia estar ainda mais bem colocado e com imunização mais ativa se houvesse planejamento adequado do governo federal.
Quem diz isso é Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com ele, que foi fundador e primeiro presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Sistema Único de Saúde (SUS) pode aplicar 3,04 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 por dia.
Isso daria cerca de 60 milhões de vacinados por mês — considerando 20 dias úteis. “Se vacinarmos 10 pessoas por hora, num dia de trabalho de 8 horas, dá 80 vacinas. Então, eu tenho condição teórica de vacinar 3 milhões de pessoas por dia útil. Tenho condições de vacinar, em um mês, sem fazer muito esforço, 60 milhões de pessoas”, calcula.
Como o Brasil tem 159,1 milhões de brasileiros com mais de 18 anos — de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 —, as duas doses de imunizante poderiam ser aplicadas em todos os adultos brasileiros até meados de julho. O problema é que, neste momento, não existem vacinas suficientes para a imunização de toda a população do país.
Cerca de 12 milhões de doses de CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, e Covishield, desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, foram distribuídas aos Estados. Isso é suficiente para imunizar 6 milhões de pessoas — se consideradas as duas doses —, o que representa apenas 3% da população do país.
Algumas capitais, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Cuiabá, suspenderam as aplicações pela falta de doses de vacina. “Temos condições de fazer. O que falta? Faltam vacinas”, lamenta Vecina.
Atraso em negociação de vacinas
Segundo Vecina, o grande erro do governo federal foi não ter se adiantado e reservado imunizantes ainda em 2020, quando as farmacêuticas testavam a eficácia de suas fórmulas. Agora, como as principais fabricantes já negociaram grande parte de suas produções, podem faltar vacinas para a população brasileira. “A questão agora nem é preço. É ter o produto. É de acesso mesmo”, afirma.
Além dos atrasos nas negociações, a falta de planejamento do governo preocupa: na quarta-feira (17), os imunizantes Sputnik V e Covaxin foram anunciados no cronograma de distribuição de vacinas contra Covid-19 do governo federal. Só que eles ainda não foram aprovados pela Anvisa.
Se a agência autorizar o uso das fórmulas, o calendário divulgado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prevê a distribuição de 230,7 milhões de vacinas aos estados brasileiros até julho. Isso será essencial para que a campanha de vacinação contra a Covid-19 possa prosseguir e para que todos os brasileiros sejam imunizados.
Fonte: Terra