Quando a faca corta a primeira fatia de um bolo de aniversário, dois sentimentos simultâneos invadem o espírito das pessoas que presenciam o ritual: a alegria pelo clímax da festa e uma atmosfera de tensão. Já notou como todos olham atentamente a retirada do primeiro pedaço?

Uma possível interpretação do que estaria por trás disso é: naquele exato instante, nosso inconsciente acusa uma sensação de perda, intimamente ligada à lógica da escassez. O bolo tem um tamanho definido: rende doze fatias, digamos. Assim, a cada pedaço dele subtraído, reduzem-se as possibilidades de desfrute. Não à toa, a etiqueta manda que o primeiro pedaço seja entregue à pessoa mais importante presente; assim estaríamos eliminando o risco de não sobrar para ela.

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Imagine, agora, outra realidade totalmente diferente. Nela, a cada pedaço cortado, o bolo surpreendentemente aumenta de tamanho, como se ocorresse um processo de regeneração e expansão. O diâmetro cresce e as possibilidades se ampliam. Seria bárbaro, não acha?

Pois é justamente esta a realidade que a inovação e a tecnologia proporcionam. Uma concepção de mundo totalmente diferente; uma lógica de abundância e não de escassez, oposta a tudo o que nos ensinaram sobre divisão e posse.

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Graças à capacidade única de inovar dos seres humanos, a realidade do “bolo para todos” é perfeitamente possível. Os fundamentos que hoje nos levam a planejar a vida em Marte, por exemplo, são os mesmos que impulsionam a corrida pelas vacinas na pandemia e a extraordinária capacidade de adaptação às mudanças que ela nos trouxe, em especial nas rotinas de trabalho. Esses princípios sustentam tudo de bom que o homem criou para si e para a humanidade: a roda, a energia elétrica, as máquinas, a revolução industrial e muitos outros saltos de inovação que impactaram ampla e profundamente nossas vidas.

De maneira muito resumida, podemos dizer que o homem é o único ser do planeta capaz de inovar. Recebemos uma espécie de dom divino, que nos capacita a superar permanentemente desafios por meio da concepção de soluções em nossas mentes e da habilidade de transformá-las em realidade. Não somos fortes como os elefantes, não voamos como as águias, mas, graças a essa capacidade, dominamos o mundo e prevalecemos sobre todas as outras espécies.

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Ao lado da capacidade de inovar, nós, humanos, somos dotados de uma segunda característica que também poderia ser considerada divina. Graças à ela, conquistamos a qualidade de vida que temos hoje. Refiro-me à nossa permanente inquietude – um contínuo impulso de melhorar o que está à nossa volta. Elon Musk, apenas para citar um dos muitos líderes inovadores da história, poderia ter sossegado depois de vender o PayPal, a rentável empresa de meios de pagamento que criou. Não precisaria ter arriscado sua fortuna criando a Tesla, cavando túneis para transporte de veículos em alta velocidade ou preparando-se para levar-nos à Marte. Para os que ainda vivem conforme a lógica da escassez, chega a ser difícil compreender o que esses gênios estão fazendo.

Esses dois “motores” movem o mundo. São mais facilmente identificáveis em pessoas altamente empreendedoras, mas estão presentes em qualquer um de nós. Todos somos inovadores por natureza, uma força humana que não para. Uma poderosa energia expandindo limites rumo ao infinito. Nós mesmos nos encantamos com essas duas capacidades e com o que criamos graças a elas – reforçando a tese de que sejam dons divinos. Ao mesmo tempo, temos repetidas vezes a sensação de que somos nós a passar pela maior revolução da humanidade. Provavelmente, essa visão nos confunde desde os tempos das cavernas. Não é assim. Estudos comparativos mostram que as transformações produzidas por grandes invenções do passado, como a eletrificação, mudaram mais o mundo do que as tecnologias atuais, por mais revolucionárias que sejam.  

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Quando achamos ter atingido o auge da inovação, o horizonte se abre à nossa frente e descortina inovações ainda mais estupefacientes. Cerca de 300 anos antes de Cristo, Aristóteles disse: “Agora que tudo que poderia ser criado para o bem do homem já foi realizado, só resta nos dedicarmos ao espírito”. É irresistível imaginar que, naquela época, armas e dispositivos como alavancas, roldanas e parafusos provavelmente despertavam a mesma sensação de limite alcançado. E então surgem novas perspectivas. O “bolo” volta a se expandir, em plena confirmação da lógica da abundância. Convocando-nos e “gritando” que sempre estará ao nosso alcance fazer melhor, mais rápido ou, no mínimo, mais acessível. Diante dessa realidade, não devemos aceitar limites nem achar que atingimos o ápice que o destino nos reservou. Devemos, sim, usar ao máximo nossos dons divinos e nossa capacidade humana para seguir avançando e gerando prosperidade e abundância infinitas.