Nesta segunda-feira (7), o Hospital Pequeno Príncipe, localizado em Curitiba (PR), maior instituição brasileira de saúde exclusivamente especializada em crianças, registrou 22 internações por Covid-19, sendo 7 delas na UTI. É o maior número de crianças e adolescentes internados na entidade desde o início da pandemia.

Segundo apurou Cláudia Collucci, repórter da Folha de S. Paulo, ainda que a proporção de internações e mortes de pessoas abaixo de 18 anos em relação ao público geral (1,5% das hospitalizações e a 0,33% das mortes) se mantenha estável no país desde março de 2020, o aumento do número absoluto de hospitalizações tem chamado atenção e aberto discussões sobre a urgência da vacinação desse grupo etário.

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No Hospital Pequeno Príncipe, desde o início, a maioria dos internados tinha ao menos uma comorbidade, segundo o pediatra Victor Horácio de Souza Costa Junior. “São crianças com doenças neurológicas, renais, diabéticas, cardiopatas. Chama atenção o fato de que essas crianças estão sendo contaminadas em casa. Elas não estavam indo para a escola”, diz.

Pediatra Victor Horácio de Souza Costa Junior diz que a maioria dos internados no Hospital Pequeno Príncipe tem algum tipo de comorbidade. Imagem: Divulgação – Hospital Pequeno Príncipe

Foram 84 internações por Covid-19 entre março e dezembro de 2020, com cinco mortes. Só nos primeiros cinco meses deste ano, o hospital já registrou 125 hospitalizações e seis mortes.

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Vacinação das crianças e adolescentes é mais do que necessária

Israel e EUA já estão vacinando jovens de 12 a 15 anos. Reino Unido e Suíça também já aprovaram a aplicação de doses da vacina da Pfizer/BioNTech nessa faixa etária, mas a imunização ainda não começou.

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De acordo com o médico infectologista Francisco Ivanildo Oliveira, gerente médico do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, a tendência é que passemos a ver mais casos em crianças e jovens conforme a vacinação for avançando nos grupos mais velhos, exatamente como aconteceu nos EUA e no Reino Unido.

EUA e Israel já começaram a imunização de crianças e jovens acima de 12 anos. Imagem: Studio Romantic – Shutterstock

Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirma que o aumento das hospitalizações e mortes em crianças indica o crescimento da doença em todas as faixas etárias. “São 1.500 mortes, tem muita criança morrendo, mas continuam representando 0,3% do total de óbitos”.

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Kfouri defende que crianças e adolescentes com comorbidades tenham prioridade quando começar a imunização dos jovens. “Temos um grupo de pacientes jovens transplantados, oncológicos, diabéticos que vão precisar ser vacinados mais cedo. Quem tem mais risco: um adulto jovem de 30 anos saudável ou uma criança de 12 anos cardiopata ou diabética?”, questiona.

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Entre os jovens mortos por Covid-19, metade tinha comorbidades, segundo o infectologista. Ele afirma que as maiores taxas de morte estão entre os menores de um ano e os jovens de 18 e 19 anos. “Prematuridade e obesidade na adolescência estão entre os fatores de risco”, explica.

“Esperamos que a vacina chegue para esse grupo. No início da pandemia a gente não tinha a visão de que a criança obesa era um grupo de risco tão importante. Entre as comorbidades, a obesidade chama muito a atenção como fator complicador”, reforça o pediatra Costa Júnior, do hospital Pequeno Príncipe.

Há segurança da vacina para os jovens?

Existe uma discussão a respeito da segurança da vacina para os mais jovens. Há registros de efeitos colaterais como mioperiocardite (inflamação simultânea do pericárdio e do miocárdio), especialmente em homens entre 16 e 24 anos.

Por essa razão, Kfouri tem a seguinte opinião em relação à vacinação indiscriminada de crianças e adolescentes sem fatores de risco para a Covid: “Tem que pesar o que é tolerável de evento adverso e de risco. Se tem uma trombose ou uma miocardite para cada 100 mil doses aplicadas em idosos ou adultos com mais riscos, a mesma frequência de evento adverso não pode ser tolerada em criança, cuja chance de morrer de Covid é muito rara. O risco da vacina pode ser maior que o benefício”.

Outra questão levantada pelos especialistas é que crianças e adolescentes infectados podem apresentar comprometimento cardíaco após a infecção por Covid-19, assim como ocorre com os adultos. “A gente tem orientado os pais a repetir o eletrocardiograma de duas a três semanas após o término da fase aguda da doença para poder liberar para as atividades físicas”, diz Costa Júnior.

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