Apesar de sua grande importância como órgão materno-fetal responsável pela proteção e nutrição do bebê no útero, a placenta está entre os elementos menos estudados do organismo humano. Isso é um problema, tendo em vista que em uma em cada dez gestações, a placenta funciona mal, levando a distúrbios gestacionais, como a restrição do crescimento fetal (RCF), que é quando o crescimento do bebê diminui drasticamente ou, simplesmente, para. 

Nem mesmo ferramentas modernas de imagem de ultrassom e novas tecnologias, como o teste de DNA fetal no sangue materno, conseguem prever quais gestações estão em risco de RCF. 

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Cientistas criaram uma placenta virtual – uma representação do órgão feita em computador – para ajudar a permitir a detecção precoce de restrição do crescimento fetal e a previsão de gestações de risco. Imagem: AksNy – Shutterstock

Para ajudar a permitir a detecção precoce do problema e a previsão de gestações de risco, cientistas criaram uma placenta virtual – uma representação do órgão feita em computador – reunindo uma ampla gama de dados clínicos e laboratoriais de gestações que vão bem e aquelas que não evoluem positivamente. As informações são do site Medical Xpress.

Funções da placenta e representações do órgão para certas civilizações

São várias as funções da placenta. Ela fornece nutrientes e oxigênio do sangue da mãe para o bebê, remove os resíduos do feto na mãe e produz hormônios importantes, responsáveis por adaptar o corpo da mulher à gravidez.

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Povos da Nova Zelândia, como os Māori, sempre entenderam seu valor, referindo-se à placenta como o whenua (terra), já que o órgão nutre o bebê como a terra nutre as pessoas.

De acordo com Carolina Ferretti, doula e mentora do parto normal, a ligação que nós, seres humanos, temos com a placenta é muito grande. “Temos como referência as árvores. Em várias civilizações, as árvores, às vezes, são símbolos sagrados. Por exemplo, crianças que vivem em lugares desertos, sem vegetação nenhuma, só areia e céu, se você pede para elas desenharem uma árvore, elas vão desenhar. E a única árvore que essas crianças já viram na vida é a placenta. Se você pega a imagem gráfica de uma placenta na internet, você vai ver que ela realmente parece uma árvore”, disse a profissional em entrevista ao Olhar Digital.

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Ela conta que há estudos que capturaram imagens de bebês dentro do útero da mãe escalando o cordão umbilical, como se fosse o tronco e a copa de uma árvore.

Placenta é conhecida como “árvore da vida”. Imagem: Ilustração Natureza Medicinal

“Isso é a representação dessa relação que o ser humano tem com a placenta, que é algo muito forte. Tem civilizações que vão, inclusive, trazer o nome da placenta não como um órgão, mas como se fosse um irmão mais velho. Outras civilizações chamam a placenta de primeira mãe, porque é ela quem proporciona esse primeiro cuidado ao bebê”, explicou.

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Fatores que podem afetar o desenvolvimento fetal

Sabe-se que existem alguns fatores importantes, incluindo o fumo, que podem afetar o crescimento de um bebê no útero. Mas os distúrbios da gravidez podem ocorrer em mulheres saudáveis, ​​sem fatores de risco e, em uma cultura em que as mães costumam se culpar instantaneamente, é importante que as mulheres saibam que a restrição de crescimento quase nunca ocorre por causa de algo que elas tenham ou não tenham feito.

Chamada de altura uterina, a maneira mais comum de estimar o crescimento fetal é por uma fita métrica no estômago da mãe, mas a técnica é somente 10% precisa, e menos ainda em pacientes que carregam mais gordura corporal. 

A altura uterina é usada para avaliar se o crescimento do bebê intra útero está adequado à idade gestacional. Mede-se desde a pelve até onde ela está alcançando naquele momento. Normalmente, levam-se em conta as semanas de gestação para medir a altura uterina correta, proporcionalmente uma a outra, ou seja, a altura uterina deve estar no mesmo número que as semanas de gestação. Por exemplo: 25 semanas de gestação = 25 cm de AU, 30 semanas de gestação = 30 cm de AU e assim por diante.

Órgãos virtuais para detectar problemas de saúde não são um conceito novo

Quanto mais cedo os médicos souberem que o bebê está em risco, melhor. Enquanto as opções de tratamento são atualmente limitadas, eles podem monitorar a gravidez de maneira mais próxima e tomar decisões mais precisas sobre quando acontecerá o parto.

Mas, isso não é simples, pois a fisiologia da mãe e do bebê podem mudar rapidamente durante a gravidez, e não é aconselhável pedir às grávidas que façam mais exames, ultrassonografias ou procedimentos que possam colocar a gravidez em risco (como o uso de radiação em uma tomografia computadorizada).

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Por essa razão, a placenta virtual é uma excelente aliada, uma vez que permite que seja observada mais de perto a gravidez, sem aumentar o fardo dos exames a que uma mulher grávida precisa se submeter e sem custar muito ao sistema de saúde.

Órgãos virtuais, ou mesmo humanos virtuais, não são um conceito novo. Por várias décadas, cientistas têm combinado o conhecimento anatômico com os princípios da física para prever como as mudanças na anatomia afetam a função dos órgãos. 

Testes clínicos virtuais também estão surgindo, nos quais é possível fazer experimentos em um órgão baseado em computador para prever resultados antes que novos tratamentos sejam testados em pessoas reais. Isso reduz os testes em animais e o custo dos testes clínicos.

No próprio campo da ginecologia obstetrícia, modelos simples de gravidez virtual orientaram a interpretação do ultrassom desde o início do uso rotineiro na gravidez, lá na década de 1980.

Placentas virtuais incluem detalhes do fluxo sanguíneo

Conforme dito por Ferretti, a placenta é como uma árvore. Os vasos sanguíneos do bebê estão dentro dos galhos dessa árvore, enquanto o sangue do útero da mãe flui para fora. O modo como o sangue flui em ambas as circulações é fundamental para haver uma boa troca.

Há pouco tempo, a tecnologia permitiu que as placentas virtuais incluíssem os detalhes desse fluxo e troca sanguínea, que não podem ser medidos diretamente. Isso está permitindo que os cientistas façam progressos no sentido de compreender como as características da placenta que restringem o crescimento de um bebê aparecem em imagens como ultrassom ou ressonância magnética.

Encontrar maneiras econômicas de prever e detectar a restrição do crescimento fetal é de grande ajuda para os bebês de crescimento menos desenvolvido. Prever quais gestações estão em risco no início da gravidez é especialmente importante, pois é quando a placenta está crescendo rapidamente e as terapias administradas têm maior probabilidade de reforçar a função placentária. Por exemplo, terapias simples e seguras como a aspirina são eficazes na redução da restrição do crescimento fetal, mas apenas se iniciadas antes das 16 semanas de gravidez.

Como não podemos prever a RCF no início da gestação, muito do que sabemos sobre o crescimento restrito no útero vem de estudos no final da gravidez e da avaliação de placentas após o parto. 

Aplicar a compreensão anatômica dos estágios iniciais do desenvolvimento da placenta permite aos médicos, virtualmente, “voltar no tempo” e considerar os contribuintes iniciais para a função placentária deficiente.

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