Continuações – seja de um filme, de um livro, de um videogame etc. – despertam o irresistível desejo que temos de estabelecer comparações entre obras. E ‘Um Lugar Silencioso – Parte II’, em exibição nos cinemas a partir de quinta-feira, deve levar muita gente a se perguntar se a sequência é tão boa quanto o original.

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Pois, sim, a segunda parte de ‘Um Lugar Silencioso’ é um ótimo filme, em pé de igualdade com o primeiro. Certamente tem um impacto menor, pelo fato de já sabermos como funciona o universo em que a história é ambientada, então não há tantas surpresas ou descobertas no decorrer da história.

Millicent Simmonds em cena de Um Lugar Silencioso - Parte II
Surda como sua personagem, a atriz Millicent Simmonds ganha maior importância na continuação. Crédito: Paramount Pictures/Divulgação

O mesmo vale para o uso do som (ou da ausência dele) para construção da atmosfera de medo e da própria narrativa. O ótimo trabalho visto no primeiro filme, que inclusive garantiu indicação ao Oscar na categoria Melhor Edição de Som, é mantido aqui. Não há o fator novidade, mas é uma ótima experiência, principalmente em uma sala de cinema com o sistema bem calibrado.

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Dito tudo isso, seria ‘‘Um Lugar Silencioso – Parte II’ apenas mais do mesmo? Não exatamente.

A trama

Vale recapitular um pouco da trama de ‘Um Lugar Silencioso’ (2018) para falar da ‘Parte II’. O primeiro filme acompanha uma família que vive isolada em uma casa e tenta se manter no máximo silêncio. Isso porque o mundo foi infestado por criaturas brutais que dizimaram boa parte da população e esses monstros têm excelente audição e, ao menor ruído, podem localizar presas com facilidade.

A sequência dá andamento à história no ponto em que o primeiro filme se encerra. Temos os sobreviventes da família Abbott saindo de sua antiga casa em busca de um novo lar. Com um filho recém-nascido, Evelyn (Emily Blunt), sai acompanhada de suas duas outras crianças, Regan (Millicent Simmonds) e Marcus (Noah Jupe).

Cillian Murphy em cena de Um Lugar Silencioso - Parte II
No filme, Cillian Murphy é Emmett, um homem amargurado que perdeu esposa e filhos. Crédito: Paramount Pictures/Divulgação

Nessa jornada, os Abbott acabam encontrando Emmett (Cillian Murphy), um velho conhecido da família que vive isolado após a morte da esposa e dos filhos. Recluso desde a perda de sua família, Emmett se mostra pouco disposto a ajudar Evelyn e as crianças em sua jornada pela sobrevivência.

Um mundo expandido

O primeiro filme da série é uma história autocontida e que se encerra muito bem. A continuação tem a difícil tarefa de se mostrar algo além de um produto feito apenas em razão do sucesso de seu antecessor. E se sai bem nisso.

Escrita e dirigida por John Krasinski, que também comandou e estrelou o primeiro filme, a ‘Parte II’ amplia o escopo da trama original. Nesta sequência, vemos como se deu o surgimento das criaturas assassinas e também observamos outras pessoas habitando esse novo mundo.

Embora a personagem de Emily Blunt tenha o status de protagonista, quem realmente faz a história avançar é Millicent Simmonds. No papel da perseverante Regan, a jovem atriz, também deficiente auditiva, mostra uma convincente criança-prodígio. São protagonizadas por ela as cenas mais tensas e assustadoras.

Cillian Murphy e Millicent Simmonds em cena de Um Lugar Silencioso - Parte 2
Filme chega aos cinemas brasileiros no dia 22 de julho. Crédito: Paramount Pictures/Divulgação

O inseguro Marcus é outro que ganha mais relevância na trama e deixa de ser a criança em perigo constante que foi no primeiro filme. Novidade no elenco, Cillian Murphy acaba fazendo seu Emmett remeter demais a Lee, personagem vivido por John Krasinski no longa anterior.

Embora seja um personagem totalmente distinto, Emmett carrega alguns trejeitos que remetem, intencionalmente ou não, ao patriarca da família Abbott. E, também, acaba cumprindo a tarefa de figura protetora de Regan, ainda que de forma um tanto resignada.

Igual, mas diferente

O fato de não trazer grandes novidades em relação ao primeiro filme não é demérito. Por mais que história parecesse fechada, a continuação mostrou que ainda há o que se mostrar a partir da premissa original, sem ser repetitivo.

A grande diferença talvez seja o maior destaque às criaturas, o que também pode ter relação com o orçamento mais generoso da continuação. Podemos ver bem mais delas e o visual continua assustador. As sequências de embate entre elas e os humanos são, no geral, mais longas, o que incrementa consideravelmente a tensão.

Emily Blunt empunha arma em imagem promocional de Um Lugar Silencioso: Parte 2
Emily Blunt repete, na sequência, o bom desempenho visto no filme original. Crédito: Paramount Pictures/Divulgação

Krasinski parece entender que a trama se sustenta bem em uma narrativa contida, sem exageros. Assim como ‘Um Lugar Silencioso’, a ‘Parte II’ fica na média de 1h30 de duração. É conciso, nunca acelerado nem arrastado.

Talvez o grande sucesso do primeiro filme pudesse resultar em uma continuação mais ambiciosa, ou até megalomaníaca, mas o espírito original é mantido. A invasão dos monstros parece ser um problema global, mas são as perdas individuais de uns poucos personagens que dão a tônica do drama. E é suficiente.

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