Seja jogando ‘Humankind’, ou conversando com os desenvolvedores da Amplitude (e tive o privilégio de fazer isso em junho), fica claro que o game foi criado por pessoas apaixonadas por jogos de estratégias, História e o estudo do desenvolvimento das sociedades. O título pega o conceito básico dos games do subgênero 4X (explorar, expandir, extrair e exterminar) e acrescenta algumas das minúcias da evolução de uma sociedade ao longo dos séculos.

Para além de ser uma variação do clássico ‘Civilization’, no qual você tem que escolher seu império, começar da Idade da Pedra, fundar novas cidades, se aliar ou guerrear com civilizações vizinhas e vencer por dominação, ‘Humankind’ busca valorizar a diversidade na humanidade, permitindo às sociedades controladas pelos jogadores sofrerem influência uma das outras, se mesclarem e até se reinventarem.  

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A linha do tempo do jogo se divide em cinco eras, do Neolítico aos tempos modernos, com o jogador podendo escolher entre dez culturas diferentes para seguir por época – cada uma com seus bônus, edificações ou unidades únicas. Ou seja, são centenas de combinações possíveis, com traços e características únicos que se desenvolveram ao longo de milênios (ou 300 rodadas). Tradições e ideologias são transmitidas de culturas anteriores, cada uma adicionando uma nova camada ao que se tornará a civilização final do jogador.

Para isso, a Amplitude Studios desenvolveu um sistema engenhoso que gira em torno de dois recursos principais: a combinação de diferentes culturas ao longo das eras e o sistema Glória, que determina a vitória e recompensa os jogadores por suas ações durante o jogo. A ideia é replicar como as civilizações existem (e deixam de existir) no mundo real. Por exemplo: não existe mais Império Romano, mas as leis romanas – bem como algumas de suas táticas militares e até literatura – servem de inspiração até hoje. Ou seja, os romanos ainda existem, de certa forma. Pontos de Glória para eles!

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Mas toda grande civilização começou como um grupo de caçadores e coletores da Idade da Pedra. Deliberadamente, os desenvolvedores não te deixam escolher uma civilização logo de cara. O jogador deve explorar seus arredores e adquirir pontos de “curiosidade” por meio das suas descobertas. Escolher um local para seu primeiro assentamento é muito importante, já que os recursos nas proximidades serão vitais nos primeiros anos do seu novo império.

Construções e unidades consomem um, ou mais, de três recursos: dinheiro, população e pontos de influência. Nos arredores das cidades, podem ser construídos distritos de produção de alimentos (para a população), de comércio (que rende dinheiro), industriais (que podem acelerar a produção) e militares (que trazem bônus para tropas). Recursos específicos podem ser minerados ou coletados para serem vendidos em rotas de comércio com outros países. Conquistas e descobertas rendem influência, que pode ser gasta na expansão das cidades ou na construção de maravilhas.

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Além dos recursos naturais, a própria localização geográfica das cidades tem muita importância na sua evolução. Regiões vizinhas a outros impérios sofrem mais influência cultural e religiosa. Características geográficas, como montanhas, vales e rios podem dificultar a movimentação de unidades. Localizações altas e próximas a rios e florestas possuem melhor defesa atacantes despreparados.

Questões domésticas da sua civilização devem ser administradas com a construção de melhorias para a cidade – que ajudam na manutenção da estabilidade – e com decisões que você toma durante o jogo, em determinados eventos. Esse é outro ponto que diferencia ‘Humankind’ de outros jogos de estratégia, já que essas escolhas impactam diretamente no perfil de sociedade que seu império terá e muitas vezes colocam o jogador em decisões delicadas.

Sua religião, terá sacerdotes homens ou mulheres? Adotar a escravidão para poder suprir as necessidades de produção é algo aceitável? O que fazer com refugiados: acolhê-los ou aprisioná-los? Crianças poderão trabalhar para ajudar seus pais? E sua educação, deveria ser obrigatória? O que fazer diante da ameaça de uma pandemia? Vale a pena decretar lockdown em suas cidades? Todas essas escolhas, e muitas outras, vão se apresentando ao longo das décadas – e cabe a você decidir cada passo.

Na minha primeira campanha, por exemplo, tomei muitas decisões e adotei estratégias para que minha sociedade tivesse sempre uma postura progressista, coletivista e voltada para o progresso científico. Mas com o tempo, a liberdade individual dos meus cidadãos começou a ser severamente reprimida. Além disso, quando eventualmente precisei de reforço militar – pela escolha dos meus vizinhos, não minha – minhas tropas estavam defasadas por falta de investimento.

Mas isso de forma alguma minou minhas chances de vitória. Em ‘Humankind’, a cada nova era, novos atributos de facção são adquiridos, permitindo que você mude o perfil da sua sociedade, ou pelo menos acrescente características que não eram tão valorizadas antes. Além disso, a cultura do meu império era a mais difundida do mundo, o que me garantiu muitos pontos de Glória. Existem muitas formas de vencer no jogo.

Falando em vizinhos, o sistema diplomático de ‘Humankind’ é construído para fomentar narrativas que dependem das ações dos jogadores. Eventos podem gerar rusgas entre civilizações, que afetam não só a relação direta entre os líderes, como também como cada população enxerga o país estrangeiro. Ações podem até gerar oportunidades de “queixas” entre uma nação e outra, que podem ser transformadas em demandas e cobradas ou (aí uma novidade no gênero) perdoadas. Para partir para os “finalmentes”, apoio à guerra pela população é fundamental – então evite puxar uma briga do nada.

Tradicionalmente em jogos 4X, na última rodada, o império com maior território, mais conquistas ou poderio militar, vence. Em ‘Humankind’, o vencedor vai depender da Glória acumulada ao longo dos séculos. Essa pontuação é afetada por tudo para que os jogadores se envolvam em todas as facetas da construção do império. Da mesma forma que é possível acumular Glória com conquistas militares, culturas que se espalharam por mais regiões e conquistaram os corações de outras nações podem vencer sem dar um tiro sequer.

No multiplayer, essas decisões ainda ajudam a moldar uma inteligência artificial que pode te substituir nas partidas dos seus amigos. A ideia é que ao invés de jogar contra “a máquina”, o jogador possa simular o modo de jogar dos seus amigos dentro da campanha – além de poder usar também seus avatares personalizados.   

Como jogador veterano de ‘Civilization’, ‘Total War’, ‘Europa Universalis’, ‘Age of Wonders’ entre outros, posso afirmar com tranquilidade que ‘Humankind’ é um dos games mais criativos e inovadores do gênero em anos. O modo como as culturas de cada era se sobrepõem e as decisões que você pode tomar ao longo dos eventos o tornam infinitamente jogável, com cada campanha com potencial de ser radicalmente diferente da outra.

Vale ainda destacar a direção de arte do jogo, que construiu um game para PC relativamente leve, mas com mapas ricamente ilustrados e animados. Cada cultura sem sua estética única, que muda e evolui com o passar das eras.

Para além de um ótimo jogo de estratégia por turnos, ‘Humankind’ é uma celebração do multiculturalismo da sociedade humana e de como isso moldou a História. Esses são temas desafiadores de serem debatidos hoje em dia, mas para o jogador atento pode trazer até um certo orgulho de imaginar o quão longe chegamos ao trabalharmos para complementar nossas diferenças, ao invés de utilizá-las para nos dividir e isolar. Para usar uma palavra da moda, ‘Humankind’ dá ao jogador ferramentas para construírem suas próprias narrativas históricas como poucos outros jogos.

‘Humankind’ será lançado em 17 de agosto, exclusivamente para PC, com textos traduzidos para português e dublagem em inglês. A Edição Digital de Luxo está em pré-venda a preço promocional de R$ 170,15 para Steam, Stadia e Epic Games Store.

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