Muito mistério e inúmeras lendas envolvem Stonehenge, o famoso monumento megalítico do período Neolítico, localizado na planície de Salisbury, no condado de Wiltshire, no sul da Inglaterra. Qual é o segredo para que essas imensas pedras de arenito, praticamente inalteradas há cerca de 5 mil anos, resistam ao teste do tempo com tanto sucesso? Um novo estudo parece tê-lo desvendado.

Muito mistério e diversas lendas envolvem o enigmático Stonehenge. Imagem: Apostolis Giontzis – Shutterstock

De acordo com pesquisadores da Universidade de Brighton, a resposta está na composição geoquímica das rochas, conhecidas como sarsens. Elas são formadas por 99,7% de cristais de quartzo, material extremamente durável e resistente à erosão e ao intemperismo, configurado em uma estrutura entrelaçada que torna as pedras quase indestrutíveis.

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“Agora temos uma boa ideia de por que essas coisas ainda estão lá”, disse David Nash, professor de geografia física da Universidade de Brighton e coautor do estudo. “A pedra é incrivelmente durável — é realmente resistente à erosão e às intempéries”.

Segundo o estudo, alguns dos sarsens de Stonehenge contêm grãos de rocha com idade entre 1 bilhão e 1,6 bilhão de anos.

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Como estudaram a composição de Stonehenge, se a estrutura é protegida por lei?

Como Stonehenge é protegido por lei, atualmente é impossível extrair amostras para análise. O objeto utilizado no estudo trata-se de uma relíquia guardada há mais de 60 anos, que foi levada para os EUA no fim da década de 1950 e repatriada recentemente para a English Heritage, uma instituição de caridade dedicada à preservação do monumento.

Em 1958, uma equipe estava consertando um pedaço rachado de arenito, e um perfurador chamado Robert Phillips pegou um fragmento de Stonehenge de pouco menos de um metro de comprimento. 

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Trabalho de perfuração em Stonehenge em 1958, durante o qual núcleos das pedras, chamadas sarsen, foram extraídas da Stone 58. Imagem: Lewis Phillips

Ele acabou levando a relíquia para sua casa na Flórida e, em 2018, depois de 60 anos, a família Phillips a levou de volta para o Reino Unido. E foi o retorno da rocha que ofereceu à equipe de Nash uma oportunidade de investigar as origens geológicas das rochas de Stonehenge. Os pesquisadores analisaram a amostra de Phillips, junto com outra encontrada em um museu próximo, para observar a estrutura interna dos sarsens. 

Eles atingiram a amostra, denominada “Núcleo de Philips”, com raios-X, examinaram-na sob microscópios e fizeram uma tomografia computadorizada.

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Uma imagem microscópica da amostra da Stone 58 mostra um mosaico de cristais de quartzo fortemente interligados. Os contornos dos grãos de areia de quartzo são indicados por setas. Imagem: Curadores do Museu de História Natural

“Esta pequena amostra é provavelmente a peça de pedra mais analisada além da rocha lunar”, brincou Nash em comunicado à imprensa. 

Sua equipe descobriu que a amostra contém pequenos grãos de quartzo que se encaixam como um quebra-cabeça. Esses grãos foram cimentados por outras peças de quartzo que se cristalizaram – “criando essa matriz incrivelmente forte de cristais que formam a rocha”, disse Nash. Essa estrutura interligada pode ajudar a explicar por que Stonehenge persistiu por milênios.

Sedimentos dos sarsens de Stonenhenge remetem à era Mesozóica

A pesquisa também revelou que os sarsens são compostos de sedimentos depositados durante a era Mesozóica, entre 252 milhões e 66 milhões de anos atrás, quando os dinossauros andaram pela Terra.

Sobre a peça da qual Phillips se apossou, ela veio de um sarsen chamado Stone 58 – uma pedra que se projeta a 6,4 metros do solo e pesa cerca de 24 toneladas. 

Stonehenge, originalmente, tinha 80 desses sarsens em arcos de formato quadrado, mas apenas 52 permanecem. De acordo com Nash, 50 desses 52 compartilham a mesma composição química, então é provável que as descobertas de Stone 58 se apliquem ao restante.

“Ninguém olhou para um sarsen com tantos detalhes antes, é uma bela ilustração da história de Stonehenge”, disse ele.

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Stonehenge consiste em dois círculos concêntricos de sarsens chamados círculos de bluestone, com pedras azuis menores colocadas entre esses arcos. Os arqueólogos rastrearam as pedras azuis até um local chamado Waun Mawn, no País de Gales, a 225 km de distância. 

Algumas evidências sugerem que os círculos de bluestone foram construídos lá primeiro, depois movidos para seu local de descanso final séculos depois . Quando os fazendeiros da Idade da Pedra migraram para o leste através da ilha, eles trouxeram as pedras azuis, pesando 2 a 4 toneladas, com elas.

Mas, a origem dos sarsens permaneceu um mistério até o ano passado, quando Nash ajudou a descobrir que as pedras de arenito vieram de uma área a quase 25 km de distância do monumento chamado West Woods.

Nash acredita que os construtores de Stonehenge provavelmente usaram algum tipo de rolo ou arrastaram os sarsens em uma superfície escorregadia como um solo gelado. “Não há evidências de que eles usaram animais para fazer isso, mas não sabemos com certeza”, disse ele. 

Para que serve o monumento

Ninguém sabe ao certo a função de Stonehenge. As teorias variam de um calendário celestial a um cemitério sagrado. Entretanto, ao que tudo indica, Stonehenge era usado para rituais religiosos e observações astronômicas. A entrada principal se alinha com o nascer do sol no solstício de verão. 

“Simplificando, Stonehenge era o centro cerimonial do sul da Inglaterra”, disse Matt Leivers, arqueólogo da Wessex Archaeology na Inglaterra, em entrevista ao site Insider.

Segundo Nash, não se tem certeza se os construtores de Stonehenge sabiam que “eles escolheram o material certo para construir um monumento que duraria por muito tempo”. Mas, se eles tivessem escolhido um tipo diferente de material local, como a pedra calcária que constitui os White Cliffs of Dover, na Inglaterra, Stonehenge não teria permanecido por tanto tempo de pé.

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