Em nosso mundo cada vez mais industrializado, tudo o que produzimos tem um impacto direto sobre o meio ambiente e, consequentemente, sobre nosso organismo. Um estudo recente da Universidade Hebraica de Jerusalém (HU) revela a ligação entre as taxas de produção de chumbo e a exposição humana a esse e outros metais tóxicos. 

Smartphones e seus componentes, em especial as baterias, além de produtos eletrônicos como monitores, televisores, câmeras, entre outros, não podem ser descartados diretamente no lixo comum. Isso porque esses aparelhos apresentam significativo potencial contaminante do meio-ambiente, sendo ricos em substâncias que fazem mal a organismos e ao planeta, como o chumbo, objeto da pesquisa, e outros metais (arsênio, cádmio, mercúrio etc.).

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Prevenção à contaminação por chumbo passa pelo desgaste correto de nosso lixo eletrônico. Imagem: Parilov – Shutterstock

Poluição por chumbo e outros metais pesados têm efeitos na saúde pública

Ao examinarem os restos mortais de um cemitério no centro da Itália, em uso consecutivo por 12 mil anos, os pesquisadores descobriram que, à medida que a produção mundial de chumbo começou e aumentou, também aumentaram as taxas de absorção desse metal no corpo das pessoas que viveram durante aqueles períodos — mesmo aquelas não envolvidas na produção de chumbo — simplesmente por respirar ar contaminado. 

Essa observação dos efeitos tóxicos da poluição por chumbo tem implicações de amplo alcance para a saúde pública, dado o aumento previsto na produção desse e outros metais para atender às demandas de fabricação de dispositivos eletrônicos, baterias, painéis solares e turbinas eólicas, entre outros.

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O professor Yigal Erel do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Hebraica de Jerusalém (HU) conduziu o estudo, juntamente com os colegas da HU, Liran Carmel, Adi Ticher e Ofir Tirosh, bem como Ron Pinhasi, da Universidade de Viena, e Alfredo Coppa, da Universidade Sapienza de Roma. Suas descobertas foram publicadas na segunda-feira (16) na Environmental Science and Technology.

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Uso de chumbo na indústria alavancou com a produção de moedas

Segundo o site Eurekalert, a produção de chumbo começou há vários milênios. Um grande impulso na utilização de chumbo ocorreu com a produção de moedas, levando a um aumento que atingiu seu pico durante o período romano, antes de diminuir durante a Idade Média. 

A produção de chumbo foi estimulada novamente há cerca de mil anos, pela mineração de prata na Alemanha, depois na América e, finalmente, para atender às demandas da Revolução Industrial.

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Embora aumentos nas taxas de produção de chumbo sejam observadas em nossos arquivos ambientais, como geleiras e sedimentos de lagos, as concentrações desse metal em ossos e dentes humanos raramente contavam a história das taxas de produção mundial de chumbo, até agora. 

Como parte de sua pesquisa, os cientistas analisaram fragmentos de ossos de 130 pessoas que viviam em Roma, desde 12 mil anos atrás — bem antes do advento da produção de metal — até o século 17. 

Ao analisar a composição elementar encontrada em seus ossos, os pesquisadores foram capazes de calcular o nível de poluição por chumbo ao longo do tempo e mostraram que ele refletia diretamente a taxa de produção mundial do metal.

“Essa documentação da poluição por chumbo ao longo da história humana indica que, notavelmente, grande parte da dinâmica estimada na produção de chumbo é replicada na exposição humana. Assim, a poluição por chumbo em humanos tem seguido de perto suas taxas de produção do metal, explicou Erel. “Simplificando: quanto mais chumbo produzimos, mais pessoas provavelmente o absorvem em seus corpos. Isso tem um efeito altamente tóxico”.

Fabricação de dispositivos eletrônicos acelera uso de metais pesados como o chumbo

Estudos têm mostrado que a exposição ao chumbo tóxico em pessoas, especialmente em crianças, ocorre por meio de alimentação, poluição do ar e ressuspensão do solo urbano.

No entanto, junto dessas preocupações, vemos uma demanda cada vez maior pelo metal na fabricação de dispositivos eletrônicos. “A estreita relação entre as taxas de produção de chumbo e as concentrações de chumbo em humanos no passado sugere que, sem regulamentação adequada, continuaremos a sofrer os impactos prejudiciais à saúde da contaminação por metais tóxicos”, advertiu Erel.

Embora as pessoas mais diretamente afetadas por esses perigos sejam aquelas com maior exposição direta ao chumbo, como mineradores e funcionários de instalações de reciclagem, o metal pode ser encontrado em nossas vidas diárias na forma de baterias e na nova geração de painéis solares que se deterioram com o tempo e liberam sua toxicidade no ar que respiramos e no solo de onde cultivamos nossas safras.

“Qualquer uso expandido de metais deve ir de mãos dadas com higiene industrial, reciclagem de metal idealmente segura e maior consideração ambiental e toxicológica na seleção de metais para uso industrial”, concluiu Erel.

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