Quem leu na infância “Cinco Semanas em um Balão”, de Júlio Verne, certamente reteve na imaginação um desejo de sobrevoar o mundo em um dirigível, aventurando-se por territórios desconhecidos e obscuros. Dirigíveis saíram dos holofotes no início do século 20, mas uma startup sueca está disposta a ressuscitar o plano do escritor francês — e de forma mais arrojada. A OceanSky Cruises planeja, a bordo de um dirigível, organizar viagens de luxo até o Polo Norte.
As reservas inclusive estão abertas, mas o preço da cabine para duas pessoas é salgado: US$ 232.845, o equivalente a R$ 1,3 milhão em conversão direta. A primeira expedição está prevista para 2023 ou 2024.
“Esperamos fazer a diferença na maneira como as pessoas viajam no futuro e vemos um grande potencial nos aeróstatos [aeronaves mais leves que o ar como balões e dirigíveis] como uma opção acessível para viagens confortáveis, elegantes e limpas para passageiros conscientes”, diz o piloto comercial Carl-Oscar Lawaczeck, CEO da OceanSky.
Candidato é conceito de pesquisa militar dos Estados Unidos
Embora a empresa não tenha divulgado seu veículo oficial, o Airlander, dirigível fabricado pela Hybrid Air Vehicles (HAV), é (por enquanto) o único candidato para a missão. Uma década atrás, a HAV desenvolveu um conceito de dirigível de grande escala como parte de um programa de pesquisa militar para os EUA. Após a aeronave ser descartada pelo governo americano, a empresa britânica começou a trabalhar em um plano para reaproveitá-lo. Disso, nasceu o Airlander.
“Dirigíveis podem transportar cargas comparáveis às de alguns aviões comerciais, mas usam apenas uma pequena fração de energia para transportá-los na mesma distância”, explica Lawaczeck, que trabalhou para companhias aéreas como a SAS.
Um ponto negativo é que os dirigíveis são bem mais lentos que aviões comerciais, mas na opinião do empresário sueco, isso pode ser uma vantagem. Isso porque a ideia da viagem com ares de cruzeiro transatlântico é justamente oferecer a possibilidade de vislumbrar a fauna ártica do Polo Norte do alto do dirigível.
“Podemos descer a 300 pés, até 100 pés, se necessário, tão lento quanto uma bicicleta, para oferecer aos passageiros um vislumbre desses habitats polares”, argumenta.

Pompa e sustentabilidade
Apesar da inspiração no século 19, o dirigível da OceanSky não terá nada de vintage: internamente, são 16 cabines semelhantes a quartos de hotéis, com tecnologia de última geração. A ideia de Lawaczeck, na verdade, é tornar a expedição uma espécie de “piquenique na calota polar”, com uma tripulação de sete pessoas para fazer o serviço de bordo — incluindo um chef.
“Não temos uma limitação espacial como um avião, então podemos fazer coisas interessantes com as cabines. O design terá a ver com o lado patrimonial do projeto e vai evocar a era dos dirigíveis”, explica.

Além disso, diferente dos zepelins da 1ª Guerra Mundial, Lawaczeck se diz determinado a não deixar resíduos ou vestígios de carbono no local. O empresário conta como seu interesse por dirigíveis surgiu, em grande parte, do interesse em pesquisar formas de voar com baixas emissões.
“A ideia da OceanSky é tornar a aviação sustentável”, diz Lawaczeck, que mira adotar veículos 100% elétricos no futuro — o Airlander vai operar com trem de força híbrido. “Para ter um impacto nas mudanças climáticas, precisamos dimensionar nossas operações e também penetrar em outros segmentos de mercado.”
A cidade de Svalbard, extremo norte da Noruega, vai servir de base para o cruzeiro aéreo. Além da expedição, a OceanSky planeja realizar também viagens experimentais com dirigíveis para transporte de carga.
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