Cientistas estão investigando o código genético da Biloba — ou “ginkgo biloba” —, uma árvore reconhecida por sua extrema longevidade e resistência, a fim de obter mais informações relacionadas ao clima na época em que os dinossauros ainda eram vivos.

A biloba é uma das poucas plantas capazes de suportar condições extremas e o próprio tempo: suas árvores coexistiram com animais como o tiranossauro e o triceratops, ao mesmo tempo em que elas conseguiram sobreviver à bomba atômica “Little Boy”, que destruiu a cidade japonesa de Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial.

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Imagem de uma folha de biloba fossilizada: árvore é conhecida por sua grande resistência, tendo vivido no tempo dos dinossauros e sendo presente até hoje
O fóssil de uma folha da biloba, guardado pelo Smithsonian: árvore é conhecida por ser muito resistente, tendo convivido com dinossauros e sobrevivendo até hoje, ao redor dos humanos. Imagem: Smithsonian Museum/Divulgação

Exemplares da biloba armazenados pelo Museu Smithsonian de História Natural, nos EUA, estão sendo examinados pela equipe liderada por Richard Barclay, um paleobotanista a serviço do museu. Segundo ele, as folhas da árvore não se alteraram tanto ao longo de milhões de anos, fazendo com que ela mantivesse sua estrutura genética relativamente intacta.

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O interesse vem de compreender melhor a vida nos períodos mais quentes — versões ainda mais extremas do efeito estufa — pelos quais a Terra passou, registrando temperaturas bem mais agressivas do que as que temos hoje. Um desses períodos — entre 66 milhões e 100 milhões de anos atrás, no período Cretáceo — é de especial interesse para os cientistas. Esse também é o último período de vida dos dinossauros antes de um asteroide se chocar contra a Terra, causando alterações climáticas intensas que levariam ao fim de seu reinado na Terra.

Segundo Kim Cobb, que trabalha com ciências climáticas na Georgia Tech e não tem relação direta com o estudo, entender o funcionamento do clima naquela época nos permitirá testar a exatidão de modelos de previsão climática do futuro — incluindo os caminhos por onde o aquecimento global pode seguir. Estudos similares usam bolhas de ar presas em geleiras antigas — mas essas ferramentas só conseguem voltar uns 800 mil anos no tempo.

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Foto mostra o paleobotanista Richard Barclay, que pesquisa plantas antigas para entender melhor o clima na época dos dinossauros
O paleobotanista Richard Barclay, que lidera uma equipe de pesquisa climática envolvendo condições de vida da biloba em diferentes eras do tempo. Imagem: Smithsonian Museum/Divulgação

É aí que entram as folhas da biloba: “ela é uma ‘cápsula do tempo’ natural”, disse, Peter Crane, paleobotanista da Universidade de Yale e autor do livro “Ginkgo”. “É difícil imaginar que essas árvores, hoje se sobrepondo a carros e pessoas, cresceram com os dinossauros e chegaram a nós praticamente sem mudanças nos últimos 200 milhões de anos”.

Ao Phys.org, Barclay comprovou isso ao mostrar duas folhas virtualmente idênticas da biloba: uma, preservada em uma estrutura fossilizada do período Cretáceo. A outra, do período industrial da Inglaterra vitoriana (1837-1901). Uma terceira folha, coletada de uma árvore próxima do museu, também é igual às outras duas.

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A diferença entre elas só pode ser vista em um microscópio: devido às alterações na concentração de dióxido de carbono no ar, a folha atual conta com menos poros de absorção desse gás. Uma quantidade maior de poros é vista na folha da era vitoriana, antes da humanidade alterar o clima da Terra com a industrialização e o uso de combustíveis fósseis.

Agora, Barclay quer saber como é a folha “jurássica”.

Para isso, ele e sua equipe estão conduzindo um experimento, separando seções de uma plantação de bilobas em câmaras, bombeando quantidades de dióxido de carbono diferentes em cada uma, a fim de criar “análogos”, ou seja, versões próximas das árvores que viveram naquela época — e estudar suas folhas e as eventuais adaptações de cada uma.

Foto mostra as câmaras de plantio da biloba, no Museu Smithsonian, onde estudos estão sendo conduzidos para entenderem a sua relação com o clima
As câmaras onde Barclay e equipe estão cultivando bilobas: cada uma tem concentrações diferentes de dióxido de carbono para saber como a planta extremamente resistente sobreviveu a milhões de anos de evolução. Imagem: Smithsonian Museum/Divulgação

Se em uma dessas câmaras, uma folha se adaptar de forma que a deixe igual ou próxima do material fossilizado, então Barclay terá encontrado uma ferramenta que lhe ajudará a “traduzir” a composição genética da original, determinando variações climáticas do período Cretáceo.

Outra parte do teste avalia a velocidade de crescimento e maturação dessas plantas: “nós notamos que o dióxido de carbono em altas quantidades faz essas plantas crescerem mais rápido”, disse o especialista. Isso, segundo ele, se dá porque elas absorvem o gás e o usam para consumir água, convertendo a luz do sol em energia e nutrição. Mais gás é igual a mais comida, essencialmente.

Entretanto, isso não vem sem falhas: “se as plantas crescerem rápido demais, então elas passarão batidas por adaptações genéticas e, consequentemente, serão mais vulneráveis a danos… É como um piloto de carros que tem mais chances de sair da pista se estiver rápido demais”, diz.

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