Cópias do software Dominion Voting Systems, usado nas eleições dos Estados Unidos, foram distribuídas em um evento organizado este mês por Mike Lindell, um aliado do ex-presidente Donald Trump. Segundo especialistas em segurança eleitoral, a ocorrência é uma violação que representa um risco elevado para futuras eleições.
O Dominion gerencia desde a criação de células até a configuração de máquinas de votação e contagem dos resultados. Este software é usado nas eleições em cerca de 30 estados americanos, incluindo condados na Califórnia, Geórgia e Michigan.
O evento onde as cópias do software foram distribuídas foi realizado no estado de Dakota do Sul e contou com a presença de Eduardo Bolsonaro, filho do atual presidente brasileiro. No local, novamente as eleições dos EUA foram questionadas pelos entusiastas do ex-presidente americano.
As cópias do Dominion vieram de equipamentos de votação do condado de Mesa, no Colorado, e do condado de Antrim, em Michigan (este último, um dos principais locais onde os trumpistas atacam o sistema eleitoral do país). Embora não esteja claro como essas cópias foram distribuídas no evento, elas foram postadas online e disponibilizadas para download público.
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Explorando o ambiente
Com cópias do software nas mãos, os hackers têm acesso a um ambiente prático para sondar possíveis vulnerabilidades. Por meio delas, os violadores podem explorar um roteiro para evitar defesas do sistema e estudar práticas mais precisas para suas fraudes.
Entre as ações de sabotagem e danos, os agentes mal intencionados podem alterar o desenho da célula ou até mesmo mudar resultados de votação. Para agirem, os hackers precisam de acesso físico ao sistema, já que, por princípio de segurança, o software não deve ter conexão à internet.
Sobre esse tipo de acesso a sistema eleitoral pela internet, fazendo um paralelo com o Brasil, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a segurança e o isolamento das urnas brasileiras vêm desde o seu processo de fabricação. Elas não possuem nenhum mecanismo em hardware que permita conexão a redes de computadores (como a internet) com ou sem fio.
O sistema operacional contido nas urnas do Brasil também é preparado pela Justiça Eleitoral de forma a não permitir a conexão com redes ou o acesso remoto. Além disso, as mídias utilizadas para a preparação da urna e gravação dos resultados são protegidas por técnicas modernas de assinatura digital.
Desconfiança gera desconfiança
Geoff Hale, da Agência de Segurança de Infraestrutura e Cibersegurança dos Estados Unidos, disse que sua agência sempre partiu do pressuposto de que as vulnerabilidades do sistema já são conhecidas por agentes mal intencionados. Para Hale, os funcionários eleitorais estão focados em maneiras de reduzir o risco, como usar cédulas com um registro em papel que pode ser verificado pelo eleitor e auditorias pós-eleitorais rigorosas.
O pesquisador de segurança Jack Cable disse estar mais preocupado com a desconfiança sendo alimentada entre o número crescente de pessoas que não acreditam na segurança das eleições nos Estados Unidos. Nas palavras de Cable, a preocupação é de que “as pessoas, na tentativa de tentar mostrar que o sistema eleitoral é inseguro, estejam na verdade tornando-o mais inseguro”.
O esforço dos republicanos para explorar os equipamentos de votação começou logo após a eleição presidencial americana, ocorrida em novembro do ano passado. Na ocasião, Trump contestou os resultados de sua derrota e alegou que houve uma fraude generalizada, embora não tenha havido nenhuma evidência disso.
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