Se não tivesse nos deixado em 1991, Gene Roddenberry, o criador da série de “Jornada nas Estrelas” (Star Trek, no original em inglês), teria completado 100 anos de vida em 19 de agosto de 2021. Naquela data, diversos funcionários da Nasa se reuniram em um painel virtual para celebrar o legado do icônico criador. A ocasião já havia sido noticiada aqui no Olhar Digital.
A relação entre Star Trek e a Nasa não é desconhecida pelos fãs: além de prestar papel consultivo em vários episódios não só da série original, mas também de alguns de seus spin offs, a agência espacial americana também veiculou campanhas próprias que remetiam à produção estrelada por William Shatner, o eterno Capitão James Kirk: uma nave da agência foi renomeada “U.S.S. Enterprise” em homenagem ao veículo da franquia televisiva, por exemplo.
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Outro ponto interessante dessa relação é a veiculação de diversas campanhas da Nasa em busca de astronautas de diferentes históricos raciais, étnicos e de gênero: o crédito disso é atribuído à série: Star Trek tinha um elenco derivado, com uma mulher negra na ponte de comando e um russo trabalhando com americanos, no alto da Guerra Fria (1947-1991), quando ela foi originalmente ao ar.
É bem verdade que nenhum dos dois lados foi perfeito nessa representação, contudo: George Takei (o oficial de leme Hikaru Sulu na série) citou diversas vezes o quão importante lhe era ver uma pessoa asiática exibida no núcleo principal da série (na época da exibição, a família de Takei era refugiada nos EUA), mas não deixou de tecer críticas à ausência de um personagem homossexual – o ator se assumiria gay em 2005, tornando-se um dos campeões da causa LGBTQIA+ desde então.
“Se nós não aprendermos a de fato aproveitar as pequenas diferenças e assumir uma posição positiva nessas diferenças entre os nossos, aqui neste planeta, então não merecemos viajar ao espaço e encontrar a diversidade que certamente está lá”, disse um comunicado divulgado pelo próprio Roddenberry em 1976.
Rod Roddenberry, filho de Gene e que moderou o painel da Nasa, abriu as discussões tocando justamente nesse ponto: “em Star Trek, [a série] não era sobre um grupo de pessoas procurando por aliens de visual estranho. Eles viajavam em busca de criaturas que enxergassem o universo de uma forma diferente e única. Nós chegamos a um ponto em nossa evolução intelectual onde nós compreendemos que precisávamos experimentar coisas diferentes, a fim de crescer e evoluir”.
Rod ainda citou o slogan “Infinita diversidade para infinitas combinações”.

Tracy Drain, uma engenheira no laboratório de propulsão a jato da Nasa (JPL) disse que cresceu com o sonho de explorar planetas, graças a Star Trek. Mais além, ela e sua mãe sempre enxergaram a representatividade vinda da personagem Nyota Uhura (vivida por Nichelle Nichols), oficial-chefe de comunicações da Enterprise. Hoje, Drain tem em seu currículo participações na missão Kepler de busca planetária, além de trabalhar com a sonda Juno, que está na órbita de Júpiter.
“Isso é uma espada que corta para os dois lados porque eu também acabei sendo cortada um pouco da história e cultura do meu próprio povo, e só comecei a aprender sobre elas depois que passei dos 30 anos”, disse a engenheira. Ela cita, especificamente, os cientistas negros que atuaram junto à Nasa na década de 1960 – período em que ela própria começaria seu estágio com a agência. Tais cientistas, aliás, inspiraram o filme “Estrelas Além do Tempo”.
O painel que celebrou os 100 anos de Gene Roddenberry focou, majoritariamente, na discussão sobre a diversidade, e além de Rod Roddenberry, George Takei e Tracy Drain, também contou com a presença de Hortense Diggs, diretora do Escritório de Comunicações e Engajamento Público no Centro Espacial Kennedy; Swati Mohan, líder de Orientação, Navegação e Operações de Controle da missão Mars 2020 (responsável pelo Perseverance e Ingenuity) no JPL; e Jonny Kim, astronauta.
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