Na última sexta-feira (1), o Olhar Espacial recebeu Pedro Bernardinelli, descobridor do supercometa C/2014 UN271, considerado o maior do Sistema Solar. Formado pela Universidade de São Paulo (USP), ele faz PhD em física e astronomia na Universidade da Pensilvânia (UPenn), nos EUA.

Oficialmente designado como cometa em 23 de junho deste ano, o objeto, além do nome técnico de C/2014 UN271, recebeu também a denominação de Bernardinelli-Bernstein, em referência ao descobridor brasileiro e seu orientador e parceiro de pesquisa, o astrofísico e professor da UPenn, Gary Bernstein.

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No topo, Marcelo Zurita, coapresentador do Olhar Espacial, e a entrevistadora convidada Nany Casteleira. Embaixo, o entrevistado da noite, Pedro Barnardinelli, descobridor do supercometa C/2014 UN271. Imagem: Captura de Tela YouTube – Olhar Espacial 01-10-2021

Sob o comando de Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA); membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon) e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil, o programa contou com a presença de Nany Casteleira, que faz parte da equipe da Revista AstroNova e é astrofotógrafa amadora.

Descoberta não era foco inicial da pesquisa

Zurita abriu o programa perguntando ao entrevistado sobre o Dark Energy Survery (DES – Levantamento de Energia Escura, em tradução livre), que é o projeto por meio do qual Bernardinelli descobriu não apenas o cometa, mas outros 460 objetos espaciais.

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“A ideia do DES é medir a distribuição de galáxias no universo”, explicou o pesquisador. “A Dark Energy Camera, que é a câmera que nós utilizamos no telescópio Blanco, foi construída para mapear um oitavo do céu, para medir posição e formato de galáxias, basicamente”.

Segundo Bernardinelli, o projeto não é voltado para descobrir objetos no Sistema Solar. Isso significa que as descobertas feitas pela equipe fizeram parte de um estudo mais amplo e não eram o foco principal.

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Ele conta que foram seis anos de pesquisa, entre 2013 e 2019, reunindo 80 mil imagens com quase 600 megapixels cada, que permitem observar tanto matéria escura quanto energia escura no Universo. “Como o DES abrange uma área muito grande e consegue alcançar galáxias muito distantes, nós podemos fazer uma espécie de mapa de distribuição de galáxias e, com isso, identificar onde existe matéria escura. Então, o que os pesquisadores do DES fazem é medir tanto posições quanto distorções mínimas no formato das galáxias ocasionadas quando elas passam por uma lente de matéria escura. Com isso, é possível entender a estrutura da matéria escura e da energia escura”.

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Questionado por Nany sobre como aconteceu a detecção de tantos objetos em uma pesquisa que, na verdade, era voltada para medição de matéria escura e energia escura, Bernardinelli explicou que quando uma galáxia distante é analisada, o pesquisador não visualiza apenas a galáxia, mas também tudo o que está no caminho até ela. “Você consegue ver asteroides, satélites, estrelas etc. E nisso você acaba vendo coisas que não são exatamente o que você estava procurando, afinal, como dizemos, o céu é um só”.

Ele explicou que como o DES tem uma cobertura muito ampla do céu, vale a pena aproveitar para investigar o máximo que puder.

Órbita do cometa localizado nas proximidades de Netuno, Saturno e Júpiter. Imagem: Pedro Bernardinelli – Captura de Tela YouTube – Olhar Espacial 01-10-2021

Cometa está entre 600 novos objetos detectados no Universo

Ocorre que a visão que eles têm é de imagens estáticas, o que dificulta a identificação dos objetos. “E o meu projeto de doutorado foi fazer um sistema computacional para identificar esses objetos se movendo no Sistema Solar”, disse Bernardinelli.

Além dos 461 objetos encontrados na análise mais recente, a equipe já havia detectado 139 na primeira análise, o que somam mais de 600 objetos novos no Sistema Solar.

Entre eles, estava a grande descoberta do supercometa Bernardinelli-Bernstein. “Depois de localizá-lo e identificar que ele tinha realmente uma órbita cometária, submetemos à análise do Minor Planet Center [MPC], um órgão da União Astronômica Internacional que é responsável pela designação de corpos menores no Sistema Solar, que listou esse objeto cerca de duas semanas depois”.

De acordo com Bernardinelli, após o objeto ter sido listado pelo MPC, análises mais aprofundadas puderam perceber que o brilho era muito intenso para um objeto tão distante, já que ele estava localizado depois de Netuno. 

Foi então que se deram conta de que era realmente algo muito grande. O supercometa Bernardinelli-Bernstein tem impressionantes 150 km de diâmetro, aproximadamente, calculado pelo brilho das imagens. 

Cometa Bernardinelli-Bernstein tem, aproximadamente, 150km de diâmetro. Imagem: Pedro Bernardinelli – Captura de Tela YouTube – Olhar Espacial 01-10-2021

Sobre o nome dado, ele explica que os objetos receberem os nomes de seus descobridores é algo muito comum em astronomia cometária.

Nany Casteleira lembrou que o cometa está sendo cotado para receber uma sonda em 2028, e questionou o entrevistado sua opinião a respeito disso. “É interessante essa ideia de sonda, mas é uma coisa que eu nunca imaginei me envolver. Eu gosto de analisar dados, de mexer com catálogos, então esse tipo de medida ‘direta’, mandando um instrumento até o objeto, é algo que nunca me passou pela cabeça”, disse Bernardinelli.

Ele destaca que além da questão financeira que um projeto tão audacioso enfrentaria, outro problema é que a órbita do supercometa é muito inclinada. No entanto, ele acredita que, se realmente for enviada uma sonda até o objeto e tudo der certo, será uma “conclusão incrível” para sua tese de doutorado. “Vai ser algo maravilhoso. Será possível fazer medidas muito interessantes, como os dados da nuvem de poeira que existe em volta, sua densidade e os materiais que compõem essa nuvem”.

Bernardinelli revelou que essa é a passagem mais próxima do supercometa desde a formação do Sistema Solar. Por essa razão, ele acredita que a medição in loco do objeto possibilitaria entender como eram os materiais há mais de 4 bilhões de anos.

Quem quiser saber mais sobre o trabalho de Bernardinelli pode acessar seu perfil no Twitter ou seu site. Também existem informações sobre o supercometa no perfil do DES no microblog.

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