Esta semana, uma das principais notícias no meio astronômico foi a possível primeira detecção de um exoplaneta extragaláctico. A notícia chamou a atenção não só pelo feito histórico, mas principalmente pela engenhosidade com que essa façanha foi realizada.

Leia mais:

A procura por planetas fora do Sistema Solar, os chamados exoplanetas, se iniciou no final dos anos 80 e em 1989, foram anunciadas as primeiras descobertas. O método consistia em medir a influência gravitacional dos planetas na luz de suas estrelas-mãe, o que só funciona para planetas muito grandes. Mas logo surgiu uma outra técnica bem mais eficiente, a do trânsito planetário.

Ilustração do método de velocidade radial
Ilustração do método de velocidade radial. Créditos: European Southern Observatory

A técnica do trânsito consiste em observar pequenos “eclipses” em estrelas distantes. Quando um planeta passa exatamente em frente a essa estrela, provoca uma pequena redução em seu brilho com um padrão bem característico.

publicidade

O método ainda é bastante restritivo, pois exige que o plano orbital do planeta esteja alinhado com a Terra. Mas foi a partir da observação desses trânsitos, que as descobertas deram um salto nos últimos anos. Hoje já são cerca de 5000 exoplanetas descobertos, sendo mais de 4000 deles já confirmados.

Método de detecção de um exoplaneta através do trânsito planetário
Método de detecção de um exoplaneta através do trânsito planetário: o trânsito de um exoplaneta provoca uma alteração característica na sua curva de brilho que pode ser detectado a partir da Terra. Fonte: Revista Brasileira de Ensino de Física

E foi baseado nesta técnica que foi detectado o provável primeiro exoplaneta extragaláctico da história. Só que para ser possível observar um trânsito planetário em uma estrela a vários milhões de anos luz de distância, foi preciso uma “sacada genial”!

O que impede esse tipo de observação com nossa tecnologia atual é que o brilho das estrelas de outras galáxias, chega até nós muito fraco e misturado ao de outras estrelas ao redor, o que impossibilita a distinção das pequenas variações provocadas pelo trânsito de exoplanetas.

A grande sacada dos cientistas foi procurar por exoplanetas em um tipo muito específico de sistema estelar: as binárias de raios-X. Esse sistema é composto por uma estrela como o Sol dividindo um centro de gravidade com outra bem mais massiva, que pode ser uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.

Ilustração de uma binária de Raio-X
Ilustração de uma binária de Raio-X. Créditos: ESA/NASA/Felix Mirabel

Esta estrela mais massiva suga matéria da primeira e, como consequência, libera energia na forma de Raios-X. Como esse processo é extremamente energético e, como esse tipo de sistema estelar não é tão comum, a passagem de um planeta em frente à binária poderia ser percebida através de uma pequena variação na intensidade do raio-X emitido.

Exoplaneta
Exoplaneta. Créditos: Raios-X: NASA/CXC/SAO/R. DiStefano, et al; Ótico: NASA/ESA/STScI/Gendler; Ilustração: NASA/CXC/M. Weiss

E foi aí que entrou em ação o Chandra, que é um telescópio espacial da NASA projetado especialmente para observações no espectro do raio-X. Os pesquisadores utilizaram mais de 230 horas do Chandra procurando por trânsitos em 238 sistemas estelares em 3 galáxias.

Em apenas um desses sistemas, o M51 ULS-1, situado na Galáxia do Redemoinho, a 28 milhões de anos-luz de distância, eles perceberam uma variação de brilho consistente com um trânsito planetário. Algo tão inédito que os astrônomos nem sabem ao certo como chamar o candidato a primeiro planeta descoberto em outra galáxia, mas sugerem a adoção do termo “extroplaneta” para esse tipo de objeto.

Ilustração do sistema binário com o possível extroplaneta descoberto
Ilustração do sistema binário com o possível extroplaneta descoberto. Créditos: NASA/CXC/M. Weiss

Para confirmar que o fenômeno detectado foi causado realmente pelo trânsito de um extroplaneta, será preciso ainda registrar outros dois trânsitos do mesmo objeto, o que os astrônomos calculam que só vá ocorrer daqui uns 140 anos. Mas a técnica proposta por eles abre caminho para uma nova era de descobertas de novos mundos cada vez mais distantes.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!