A órbita da Terra está cheia de lixo (que nós mesmos colocamos lá) e limpar o espaço em volta do nosso planeta se tornou um verdadeiro desafio para o futuro. Fazer essa faxina utilizando placas ferromagnéticas não é exatamente nova – a startup Astroscale já está testando isso – mas um pesquisador da Universidade de Utah descobriu um método para manipular detritos em órbita com ímãs giratórios que permitiria, além de mover a sucata, consertar objetos com defeito para estender sua vida útil.

Com satélites sendo colocados na órbita da Terra desde 1957, existem mais de 27 mil pedaços de detritos espaciais – principalmente pedaços de espaçonaves, partes de foguetes e satélites que não são mais utilizados – maiores do que uma bola de baseball orbitando a Terra atualmente, de acordo com a Nasa.

Estes objetos são considerados um problema sério pelas agências espaciais, já que representam alto risco de colisão e podem atingir velocidades de até 29.000 km/h – rápido o suficiente para um pequeno pedaço danificar um satélite ou nave espacial.

O professor de engenharia mecânica da Universidade de Utah, Jake J. Abbott, desenvolveu com sua equipe uma tecnologia de imãs giratórios que podem ser acoplados a robôs e poderiam manobrar suavemente a sucata para uma órbita decadente ou mais longe no espaço sem realmente tocá-la. A pesquisa foi detalhada em um artigo publicado este mês na revista científica Nature.

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Jake J. Abbott, professor de engenharia mecânica da Universidade de Utah. Imagem: University of Utah/Divulgação
Jake J. Abbott, professor de engenharia mecânica da Universidade de Utah. Imagem: University of Utah/Divulgação

O conceito envolve mover objetos metálicos não magnetizados no espaço com ímãs giratórios. Quando os detritos são submetidos a um campo magnético variável, os elétrons circulam dentro do metal em loops circulares, “como quando você agita sua xícara de café e ele gira”, explica Abbott. O processo transforma o fragmento em um eletroímã que cria torque e força o suficiente para permitir que sejam direcionados sem serem tocados fisicamente.

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Como expliquei antes, a ideia não é nova. Mas Abbott e sua equipe descobriram que o uso de múltiplas fontes de campo magnético de forma coordenada permite que se movam os objetos em seis graus de movimento, incluindo girá-los. Antes, só se sabia como movê-los em um grau de movimento, ou seja, empurrá-los. “O que queríamos fazer era manipular os objetos, não apenas empurrá-los”, completa o pesquisador.

Neste vídeo, uma bola de cobre em uma pequena jangada boiando num tanque de água (que simula a microgravidade nesta situação) está se movendo em um quadrado, bem como girando para demonstrar o processo de manipulação por meio de ímãs.

A nova técnica permite, por exemplo, conter satélites danificados que giram descontroladamente para repará-los, algo que antes não teria sido possível. “Você tem que pegar esse objeto flutuando loucamente no espaço e colocá-lo em uma posição onde possa ser manipulado por um braço de robô”, diz Abbott. “Mas se estiver girando fora de controle, você pode quebrar o braço do robô fazendo isso, o que apenas criaria mais detritos.”

Atualmente, os projetos em execução consistem em enviar missões ao espaço para recolher parte desses detritos, alguns materiais caros usados na construção de foguetes e satélites, para reutilizá-los aqui na Terra. “A NASA está rastreando milhares de detritos espaciais da mesma forma que os controladores de tráfego aéreo rastreiam aeronaves. Você tem que saber onde eles estão porque você pode acidentalmente colidir com eles ”, diz Abbott. “O governo dos Estados Unidos e os governos do mundo sabem desse problema porque há mais e mais dessas coisas se acumulando a cada dia que passa”, avalia o pesquisador.

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