Marvin, o marciano, ficaria furioso. Turistas estão atrapalhando pesquisas para a exploração de Marte. Não no planeta vermelho, veja bem, mas aqui na Terra. “Desde o momento em que voltei para a estação, no início deste ano, passei mais tempo expulsando as pessoas da propriedade do que dando as boas-vindas a pesquisadores”, revela Shannon Rupert, diretora da Mars Desert Research Station (MDRS), estação análoga a Marte que pertence e é operada pela Mars Society, organização sem fins lucrativos de advocacia espacial dedicada ao encorajamento da exploração e colonização do Planeta Vermelho.
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Em um artigo para o site Space, a gestora conta que o local permaneceu fechado durante mais de um ano, em razão da pandemia de Covid-19, e que as operações estão voltando gradativamente. E durante esse período, muitas pessoas foram flagradas na estação, sem nenhuma autorização prévia ou consentimento dos administradores.
Visitas à MDRS devem ser agendadas
“Gosto de receber os hóspedes ocasionais, dando-lhes uma visão de perto da estação quando as equipes estão fora. Uma das melhores partes deste trabalho é ver o olho de alguém se iluminar com a possibilidade de humanos realmente irem para o planeta Marte”, diz Rupert.
Ocorre que isso deve ser feito da forma correta, com agendamento e acompanhamento de pessoas credenciadas, e não é o que vem acontecendo. “Infelizmente, o MDRS se tornou um local de fuga da realidade [da Covid-19] para turistas, e na internet e na cidade vizinha de Hanksville, as pessoas estão dizendo que estamos abertos ao público, e que a estação é acessível a todos. Isso não é verdade”, alerta.
Rupert diz que quando confrontadas algumas pessoas ficam confusas, outras ficam decepcionadas, mas entendem e são educadas. No entanto, há os que são ameaçadores o suficiente para que a polícia local precise ser chamada.
“Nossa equipe tem feito o que pode. Colocamos placas definindo nosso contrato de arrendamento, informando às pessoas que, de acordo com a lei do estado de Utah, o MDRS está localizado em propriedade privada e os drones são proibidos”, diz a diretora.
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Todos os sites que continham informações incorretas sobre a visitação ao local foram acionados, e Rupert fez reuniões com líderes empresariais e municipais sobre esse problema crescente. “Está funcionando? Nem sempre, mas melhorou”, afirma.
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Presença de pessoas na estação análoga a Marte prejudica missões
Nenhuma das invasões aconteceu enquanto havia alguma tripulação residente na estação. Isso seria prejudicial à missão, segundo Rupert. “As equipes visitantes esperam ver uma ou duas pessoas quando estiverem em campo, ou alguém observando a estação da estrada à distância. Mas, o isolamento e a suspensão da realidade em relação às simulações de nossa tripulação são os principais componentes da pesquisa análoga relacionada ao espaço”.
“Futuros astronautas no Planeta Vermelho irão experimentar um nível de isolamento pelo qual nenhum ser humano jamais passou, e uma grande parte da pesquisa do MDRS, liderada por suas tripulações, se concentra nesse desafio”, explica a diretora.
Redes sociais aumentaram o problema
Tornar a simulação de Marte o mais realista possível é a chave para as missões da MDRS. “As tripulações podem fazer isso, mas não com interferência externa constante”, afirma Rupert, dizendo que “os drones filmando os membros da equipe de fora de suas janelas, ou as pessoas vagando pelas instalações, enfiando a cabeça em prédios ou sentadas na colina do lado de fora da eclusa de ar antes do amanhecer” atrapalham o processo.
Rupert diz que as mídias sociais são um grande desafio “porque a desinformação viaja como um incêndio”. Segundo ela, “as pessoas postam uma foto e todo mundo quer sair para tirar a mesma foto por conta própria”.
“Por um tempo, tivemos pessoas andando todos os dias dentro e ao redor do MDRS, porque alguém postou uma foto nas redes sociais com as coordenadas para a estação. Ultimamente, toda vez que vou ao norte da instalação, vejo pessoas em uma determinada colina”, disse. “Acho que essa área é a nova queridinha das mídias sociais”.
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