O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou levantamento que pode agravar ainda mais a percepção negativa mundial das políticas ambientais do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido): segundo o órgão, que é ligado ao governo federal, o índice de desmatamento da Amazônia teve alta de 22% no último ano – a maior já registrada desde 2006, há 15 anos.

Pelos dados, o desmatamento da Amazônia chegou a 13.235 quilômetros quadrados (km²) no período contemplado pela pesquisa – 1º de agosto de 2020 e 31 de julho de 2021. Em relação ao período anterior, este número representa um aumento de 2.384 km²: entre 2019 e 2020, o desmatamento amazônico atingiu 10.851 km².

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Diversos troncos de árvores empilhados com a floresta no fundo
Atividades como a extração ilegal de madeira e operações irregulares de garimpo fizeram com que o Brasil registrasse um aumento recorde de desmatamento na Amazônia: 22%, a maior alta em 15 anos (Imagem: marcio isensee/Shutterstock)

O mapeamento técnico foi feito pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e constitui um dos métodos de análise mais precisos, usando imagens feitas por vários satélites climáticos posicionados na órbita da Terra. De acordo com os especialistas, é considerado “desmatamento” a “remoção total da cobertura florestal por corte raso, independentemente da futura utilização dessas áreas”.

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A situação agrava um problema já bastante complicado para o Ministério do Meio Ambiente: a alta do novo estudo é a quarta consecutiva – e a terceira do atual governo. Segundo o Prodes, a maior parte dessa remoção de vegetação está localizada nas regiões dos estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.

O pior, porém, ainda não veio: o INPE informa que os dados atuais são números estimados, e que o percentual e área consolidados virão apenas no início de 2022. Em termos leigos: os números que já são grandes agora podem aumentar até o ano que vem.

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Em viagem junto de sua comitiva, o presidente Jair Bolsonaro tornou a distorcer informações relacionadas à Amazônia: em Dubai, o mandatário afirmou que “mais de 90%” da Amazônia “está preservado [sic]” e que a mata estaria “exatamente igual” a quando o Brasil foi “descoberto”, em 1.500. Entretanto, a entidade de conservação WWF-Brasil estima que a Amazônia já perdeu 19% de sua área original, e o Instituto Brasileiro de Florestas afirma que 16% dela já foram devastados.

Presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem divulgando informações irreais sobre a Amazônia, tentando passar uma imagem favorável da política ambiental brasileira para outros países. A realidade dos dados, porém, é exatamente oposta (Imagem: Marcelo Chello/Shutterstock)

Mais além, Bolsonaro, ainda em Dubai, chegou a afirmar para investidores árabes que a Amazônia “não pega fogo” por ser “uma região úmida”. Em entrevista ao UOL, contudo, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que “o desmatamento [da Amazônia] é muito claro”:

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“Os dados que são divulgados pelo Inpe mensalmente por meio do sistema Deter, eles não deixam dúvida. Assim como teve um aumento em outubro, em agosto foi 33% menor”, disse o vice-presidente ao site.

Mourão, no entanto, também afirmou: “você tem que analisar o ciclo, né? Então muitas vezes a imprensa dá o foco, [por exemplo] nesse mês foi o pior, mas ninguém falou que agosto foi o melhor” – o levantamento atual do INPE, porém, mostra que não é bem por aí.

Durante o evento COP26, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Glasgow, na Escócia, representantes do governo brasileiro se comprometeram a conduzir ações integradas entre os ministérios da Justiça e do Meio Ambiente, com objetivo de reduzir emissões de gás carbônico – algo altamente necessário para a redução do aquecimento global – em 50%. Junto de outros 99 países, o Brasil também assumiu o compromisso de “zerar o desmatamento mundial” até 2030.

Um estudo do Observatório do Clima, porém, mostra que esse será um objetivo bem complicado de ser cumprido.

Mais além, as promessas do governo no COP26 envolvem o aumento da fiscalização, policiamento e punição de atividades ilegais, como extração madeireira sem licença ou o garimpo irregular de minerais e metais preciosos. Segundo matéria da Folha de São Paulo, porém, tudo indica que as autoridades estejam seguindo na contramão da promessa: em 16/11, a Polícia Militar de Roraima (PM-RR) atirou contra e feriu seis indígenas da reserva Raposa Serra do Sol. Os residentes haviam montado um posto de vigilância para coibir o garimpo ilegal, que foi destruído pelos policiais.

A medida baseou-se em um decisão da Justiça estadual, que determinou em agosto o fim do estabelecimento de tais postos, em um veredito favorável à Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiurr), uma entidade pró-garimpeiros. Vale lembrar, contudo, que qualquer atuação policial dentro de reservas indígenas é competência da Polícia Federal, não militar.

A legalização do garimpo é uma das bandeiras levantadas por Bolsonaro.

Até o fechamento desta matéria, o governo federal não havia comentado as informações do INPE.

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