Cometa descoberto por brasileiro estava ativo antes do que pensávamos: que diferença isso faz para nós?

O Bernardinelli-Bernstein foi chamado de “mega cometa” em seu descobrimento, devido ao seu tamanho descomunal e sua longa cauda
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 01/12/2021 12h27, atualizada em 02/12/2021 10h53
megacometa
A ilustração deste artista mostra o distante cometa Bernardinelli-Bernstein como ele poderia se parecer no Sistema Solar exterior. O cometa Bernardinelli-Bernstein é estimado em cerca de 1000 vezes mais massivo do que um cometa típico, tornando-o indiscutivelmente o maior cometa descoberto nos tempos modernos. Tem uma órbita extremamente alongada, viajando para dentro da distante Nuvem de Oort ao longo de milhões de anos. É o cometa mais distante a ser descoberto em seu caminho de entrada. (Crédito da imagem: NOIRLab / NSF / AURA / J. Da Silva)
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O cometa C/2014 UN271 (popularmente chamado “Bernardinelli-Bernstein”) estava ativo bem antes do que imaginávamos, de acordo com um novo estudo publicado pela Universidade de Maryland no Planetary Science Journal.

Descoberto pelo astrônomo brasileiro Pedro Bernardinelli e seu companheiro de trabalho Gary Bernstein, o C/2014 UN271 é um dos maiores cometas já identificados pelos nossos cientistas. Vindo da Nuvem de Oort, há cerca de três anos-luz da Terra, o corpo celeste tem cerca de 100 quilômetros (km) de diâmetro e da coroa até a cauda mede mais de 160 km.

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O cometa Bernardinelli-Bernstein, ativo bem antes do que imaginávamos
O cometa Bernardinelli-Bernstein é um dos maiores já descobertos em nosso sistema solar, e sua ativação se deu bem antes do esperado, efetivamente mudando o que sabemos sobre cometas (Imagem: Dark Energy Survey/DOE/FNAL/DECa)

Quando foi descoberto, em 2014, já havia a suspeita de que ele era um cometa que se tornou ativo mais cedo do que o esperado. O estudo de Maryland finalmente oferece evidências que corroboram essa impressão.

Basicamente, um cometa é feito de poeira e gelo provenientes dos primeiros momentos do sistema solar. Esse material se reúne e, quando o conjunto passa perto do Sol, se aquece, vaporizando o gelo (sublimação) e formando a chamada “coma cometária”. Essa é característica de um cometa ativo.

O problema é que, no que tange ao espaço, “gelo” é algo bastante subjetivo a debate: nem todo gelo é água, e pode também ser de monóxido ou dióxido de carbono, para citar alguns exemplos possíveis.

O novo estudo estipula que o cometa descoberto pelo astrônomo brasileiro se ativou bem antes de se aproximar do Sol – tão antecipadamente, na verdade, que as temperaturas na região onde ele estava quando isso aconteceu eram frias demais para vaporizar o gelo feito de água (H2O).

“Essas observações estão ampliando as distâncias de ativação dos cometas para algo dramaticamente mais longe do que pensávamos”, disse Tony Farham, autor primário do estudo e um astrônomo na Universidade de Maryland, por meio de comunicado divulgado pela instituição.

As informações que alimentaram o paper vieram do satélite TESS (Transient Exoplanet Survey Satellite) da NASA, que foi lançado em 2018 e observa estrelas distantes em busca de exoplanetas. Os instrumentos do TESS são desenvolvidos para capturar dados de objetos de longa exposição, o que lhe confere um maior detalhamento de imagem e informações do céu.

Os cientistas de Maryland, contudo, aplicaram essa capacidade em outra finalidade: observar o cometa Bernardinelli-Bernstein em grande detalhe, combinando imagens feitas entre 2018 e 2020 para analisar o brilho da nuvem de partículas que envolve a sua coma. Depois de muito estudo, eles conseguiram determinar que a ativação do cometa se deu a uma distância muito maior do que a média.

Normalmente, a ativação de cometas é identificada quando o objeto está a uma unidade astronômica (AU) de distância do Sol (uma AU é igual à distância média da Terra em relação ao Sol – algo em torno de 150 milhões de km). No caso do Bernardinelli-Bernstein, porém, os cientistas viram que o cometa estava ativo a pelo menos 23 AUs, o que é indício de que o gelo que o compõe ou não é feito de água – ou pelo menos a maior parte dele é de outra coisa.

Isso pode nos ajudar a compreender melhor o processo de formação dos cometas, quais elementos fazem parte deste processo e até mesmo detalhes de origem que podem nos oferecer mais informações sobre o passado do nosso sistema solar.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital