A importância da liderança feminina na COP26

Por Letícia Piccolotto, editado por André Lucena 08/12/2021 16h36
Mulher segurando cartaz na COP26 em Glasgow
Mulher segurando cartaz na COP26 em Glasgow. Créditos: Mauro Ujetto/Shutterstock
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Por Letícia Piccolotto*

A COP26 terminou em novembro com um acordo do qual temos motivos para comemorar. O documento final aborda pontos fundamentais, como a previsão de que as nações apresentem metas “mais ambiciosas” para a redução de gases do efeito estufa, a tão esperada definição de regras para as políticas de compensação de carbono –também conhecidas como “crédito de carbono”– e, pela primeira vez, uma menção à redução do uso de combustíveis fósseis e carvão. Entretanto, ainda temos muitos desafios pela frente para que todos esses pontos sejam cumpridos.

Tive a oportunidade de participar do encontro em Glasgow, na Escócia, junto de aproximadamente 10 mil pessoas, entre delegados, representantes governamentais, especialistas e cidadãos. E posso afirmar: combater as mudanças climáticas e os seus tantos impactos sobre os seres humanos e ecossistemas passa por reconhecer a necessidade de uma sociedade mais humana e igualitária entre os gêneros.

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Ambas as pautas, o combate aos efeitos das mudanças climáticas e a equidade de gênero, estão conectadas. Isso porque, especialmente, mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas pela crise do clima.

Segundo o estudo “Participação de Mulheres como um facilitador da Justiça Climática”, da Mary Robinson Foundation Climate Justice, as mulheres constituem 50% da população mundial e a maioria dos pobres do mundo. Além disso, durante desastres naturais, mulheres e crianças estão 14 vezes mais vulneráveis à morte do que os homens.

Além disso, as mulheres sempre tiveram uma relação muito clara com a natureza. Elas são as primeiras a gerir o capital ambiental que as rodeiam. Coletam água para cozinhar, limpar, plantar, buscam alimentos em rios, pegam lenha, ou seja, interagem diretamente com o ecossistema.

Reconhecendo essa relevância, a programação da COP26 incluiu o painel “Gênero: progredindo na igualdade de gênero e na participação plena e significativa de mulheres e meninas na ação climática” para discutir o tema.

Além de sermos as principais impactadas pelas mudanças climáticas, somos também os principais atores em seu combate. De acordo com o estudo publicado no ano passado, denominado “Liderando a luta contra a pandemia: o gênero ‘realmente’ importa?”, os países que responderam com maior prontidão e estratégias mais eficazes, gerando melhores resultados em relação à pandemia da Covid-19, eram liderados por mulheres.

Se apontarmos a pandemia como um “teste” para as possíveis crises causadas pelas mudanças climáticas que podem vir, podemos dizer que a participação das mulheres é indispensável e torna cada vez mais necessário aumentar o protagonismo delas nesse assunto.

Temos evidências suficientes para afirmar que governos, sociedade civil e o setor privado não só podem como devem trabalhar na promoção da equidade de gênero nas ações climáticas.

A participação delas na COP26

No entanto, mesmo sendo um assunto que merecia estar em destaque na COP26, posso dizer que apenas 19% da agenda do evento esteve dedicada ao tema da representatividade feminina.

O Brasil foi um dos países que levou algumas mulheres para falar de assuntos importantes. E algumas participações foram absolutamente simbólicas.

Dentre os mais de 40 representantes do Brasil, a primeira deputada federal indígena do Brasil, Joênia Wapichana, viajou a Glasgow para defender que recursos internacionais destinados ao combate ao desmatamento sejam em parte repassados diretamente às comunidades indígenas, que atuam na linha de frente.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, e a prefeita do município de Jandaíra (RN), Marina Marinho, participaram do painel “O Nordeste brasileiro e o potencial da transição energética justa no Brasil: mulheres na vanguarda da transição energética”.

Uma das coisas que chamou minha atenção foi a presença da Little Amal, o fantoche gigante de uma refugiada Síria de 10 anos, que encontrou ativistas dos países pelos quais ela “caminhou” durante uma jornada de quatro meses e 8 mil km desde a fronteira com a Síria. A pequena Amal e as meninas sírias que ela representa fazem parte dos 80% dos deslocados por desastres e mudanças climáticas em todo o mundo. Isso sem mencionar a participação de Greta Thunberg, ativista pelo meio ambiente, que discursou para lideranças mundiais e também liderou uma multidão de jovens em protesto durante a conferência.

Outro marco da reunião foi o anúncio da decisão do Reino Unido de repassar 165 milhões de euros para combater as mudanças climáticas, capacitando mulheres para a ação climática. Desse total, até 45 milhões serão destinados para ajudar a capacitar comunidades locais e grupos de mulheres na Ásia e no Pacífico. O restante, aproximadamente 120 milhões, devem financiar o Programa de Clima e Meio Ambiente de Bangladesh, voltado para construir resiliência, prevenir a poluição, proteger a biodiversidade, fortalecer energia renovável e gerenciar melhor os resíduos, ao mesmo tempo que apoia o acesso das mulheres a financiamento e educação.

Plantar, germinar e florescer

Ainda que com uma participação aquém do necessário e desejado, a COP26 evidencia como as mulheres são fundamentais no esforço para evitar uma catástrofe climática nos próximos anos. Certamente, elas já plantaram a semente para todos que estavam nessa conferência e agora esperamos que ela germine e floresça.

E que não nos esqueçamos: a igualdade de gênero e a inclusão socioeconômica andam lado a lado da justiça climática para todas e todos.

*Letícia Piccolotto é Presidente Executiva da Fundação BRAVA e fundadora do BrazilLAB – primeiro hub de inovação GovTech que conecta startups com o poder público.

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André Lucena
Ex-editor(a)

Pai de três filhos, André Lucena é o Editor-Chefe do Olhar Digital. Formado em Jornalismo e Pós-Graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, ele adora jogar futebol nas horas vagas.